SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Pedro Neschling, 41, em entrevista ao jornal O Globo:
Ator está no remake de "Renascer" (Globo) e vai atuar pela primeira vez na TV com o dispositivo de amplificação sonora. "A surdez é uma deficiência invisível porque, se eu não contar, não ficam sabendo. Boa parte da minha vida fui, e sou, deficiente. Provavelmente, as pessoas não sabem, mas a minha perda vem desde antes que eu possa me recordar. Tive um diagnóstico de surdez aos 18 anos. Não tenho um diagnóstico sobre a causa. Provavelmente, alguma coisa hereditária, não há essa explicação".
"Naquele momento, fui mal orientado. Não passei a usar aparelho. O médico disse: 'Você tem recursos, se vira bem'. O que é uma besteira. Se pode usar um recurso que te ajude, por que não?", disse Pedro Neschling.
O ator tem uma perda pequena nos graves e uma perda bastante significativa e profunda nos agudos. "Comecei a fazer TV em 2002, trabalhei direto até 2014 como ator e em nenhum desses trabalhos utilizei o aparelho que hoje me ajuda. É difícil explicar para quem escuta o quanto ele é fundamental para a minha qualidade de vida. Hoje, penso: 'Meu Deus! Sou deficiente auditivo mesmo. Como tive uma carreira tanto tempo?' [...] Tem sons que não escuto. É uma perda moderada para severa".
Ele diz que desenvolveu ferramentas para lidar com a deficiência. "Se eu tirar o aparelho agora, ainda mais num ambiente de barulho controlado, vou continuar conversando contigo normalmente. A gente está um de frente para o outro, eu faço leitura labial. Mas não vou mais escutar o ar-condicionado, a campainha. Se alguém falar atrás de mim, não vou ouvir. A minha voz muda completamente no meu ouvido. A minha experiência da vida muda completamente".
Pedro diz que há quem não acredite em sua deficiência. "Olham e pensam: 'Ator, bonito, bem-sucedido, casado, tem uma filha. Como pode ser deficiente?'. É a imagem depreciativa da deficiência, o capacitismo, a coisa do 'parece que está surdo'. Tem gente que está surda mesmo. E, mesmo que não esteja, não tem graça, sabe? Às vezes, vou pedir algo e tenho que pedir para repetirem uma, duas vezes para conseguir ouvir a resposta. Na terceira, digo: 'Desculpe, é que sou surdo'. Levam um susto. Mas sinto uma mudança depois da pandemia, no sentido de as pessoas estarem mais empáticas e abertas".
Ator explica que resistiu a usar o aparelho porque tinha preconceito. "No momento em que passei a ter esse recurso [do aparelho], entendi a dimensão do meu problema. E aí mudou a minha forma de lidar com isso em relação ao mundo. Compreendi como era importante falar sobre para entenderem que não é o fim do mundo".
"E recebi muitas mensagens de pessoas dizendo que tinham vergonha de admitir que eram surdas. O recado que dou é: não tenha vergonha. Errado não é quem tem deficiência, mas quem não a compreende. Errada é a sociedade capacitista que não tem formas de receber o diferente como igual", disse Pedro Neschling.
Pedro volta à TV após 11 anos. "Não planejava voltar tão cedo, mas quando surgiu a oportunidade não pensei duas vezes. Quem gosta de novela sabe a importância de 'Renascer'. É como aquele cavalo que passa selado, você monta e vai. Minha intuição disse que era o momento certo".
Casamento com Nathalie Passos: "Não foi planejado. A gente já mora junto há um tempo, mas na nossa sociedade, há determinados contratos que são importantes para garantir direitos. Para ela ser minha dependente no plano de saúde, precisava de um documento oficial. Então, quisemos oficializar. Partimos desse desejo pragmático".
"Mas não queríamos fazer uma festa. Apenas ir ao cartório. Mas tem determinados signos que são mais fortes que a gente. Então, quando nos pegamos indo ao cartório, com uma roupinha arrumada, os cachorros e nossas mães, nos emocionamos. Tinha uma juíza de paz hilária, que cantarolava a marcha nupcial. Não podia ser melhor (risos). Um amigo fotografou", disse Pedro Neschling.
Distância da filha, Carolina, que teve com a atriz Vitória Frate. "Se tenho um buraco no meu peito é a distância da minha filha. Carolina mora com Vitória em Portugal. Infelizmente, não tenho a convivência diária. Isso me levou à depressão. Tive que fazer terapia, psiquiatra e muita luta, jiu-jitsu, luta livre e box. O esporte me ajudou a me reencontrar, a dar vazão à ansiedade e à depressão patológica. Me ajudou a parar de tomar remédio na fase mais difícil".
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