SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma cadeira de madeira do final do século 19 com ornamentos esculpidos à mão ganhou vida nova a partir do trabalho dos artistas Maria Thereza Alves e Jimmie Durham. Depois de ela comprar um conjunto de 20 destas cadeiras em estado de abandono em Nápoles, na Itália, ele optou por renovar o estofado -o tecido escolhido pela dupla é um veludo azul com motivos de pena.
A peça resultante, que parece saída do cenário de um filme ou de uma montagem de teatro, pode ser vista na galeria Jaqueline Martins, em São Paulo, numa mostra que reúne móveis e objetos produzidos pelo Labinac, um coletivo de design fundado por Alves e Dunham em Berlim. Há mais peças do estúdio em exibição na Casa Zalszupin, também na capital paulista, na outra parte da exposição sobre o Labinac.
Desde 2018, o Labinac cria "peças funcionais para a casa, onde a gente gostaria de ter essas coisas", diz Alves. Mas os itens, feitos pela dupla e por artistas convidados, não são do tipo que se encontra em lojas de móveis. Segundo ela, o estúdio renova móveis que saíram de moda para que possam participar da sociedade mais uma vez, a exemplo das cadeiras do século 19.
Além disso, o Labinac produz bancos, luminárias, estantes, aparadores e mesinhas laterais a partir de sobras de matérias-primas usadas em projetos de arquitetura. Um exemplo é um abajur formado por quartzo, granito, mármore e calcário, pedras que Alves comprou de uma pedreira no Espírito Santo.
Outro exemplo são as pequenas luminárias nas quais a lâmpada fica atrás de um pedaço de vidro quebrado, peças de autoria de Durham, escultor americano morto em 2021 conhecido por sua obra sobre a exploração de tribos indígenas.
Embora Alves saliente o valor de uso das peças, elas também podem ser consideradas obras de arte, seja pelo design arrojado, pela produção artesanal em pequenas quantidades ou por simplesmente terem uma função mais decorativa do que prática, a exemplo dos pendentes de Durham nos quais arames retorcidos são combinados com vidros Murano que brilham na luz, série que o artista chamou de "lâmpadas".
Algumas das peças do Labinac tratam indiretamente do bem-estar do meio ambiente, como um banco de Durham com o assento de jaca e pés retorcidos de bronze feitos a partir de ossos de bois. A jaqueira é uma planta invasora que ganha a disputa pela sobrevivência com espécies nativas da mata atlântica, de acordo com o site do Ministério do Meio Ambiente. Portanto, a ideia é tirar da mata as árvores que causam danos e usá-las para fazer móveis, afirma Alves.
Na Casa Zalszupin, a mostra foi montada de modo a reproduzir os ambientes de uma casa, com os móveis em seus locais esperados. O organizador, Jacopo Crivelli Visconti, também escolheu exibir um sofá, algumas cadeiras e mesinhas de Jorge Zalszupin, o designer que dá nome ao espaço expositivo, criando um diálogo entre as suas peças, clássicos do design brasileiro, e as do Labinac.
Num gesto de ousadia, Alves fez intervenções em duas cadeiras de Zalszupin, a "Itamaraty" e a "Jockey", reeditadas pela Etel. No caso da "Jockey", a artista colocou ao lado do assento uma forma circular abstrata, tipo um macarrão retorcido, feito de latão, criando um contraste deste material com o couro e a madeira da cadeira. A peça exemplifica outra característica do trabalho do estúdio -a capacidade de harmonizar materiais distintos.
Por fim, há uma série de vasos de Alves feitos com vidro, alguns do tipo Murano, da tradicional ilha de Veneza. Para trabalhar com vidro é preciso ser "muito rápido e fazer decisões em segundos, num processo superintuitivo", diz a artista, ao comentar as altíssimas temperaturas necessárias para moldar o material. "Você está só no vidro durante aquele tempo, não pode ocupar sua cabeça com nada mais."
LABINAC - O QUE SEMPRE FIZEMOS
Quando até 24 de fevereiroOnde Galeria Jaqueline Martins (r. dr. Cesário Mota Júnior, 443) e Casa Zalszupin (r, Antônio Carlos de Assunção, 138), ambas em São PauloPreço Grátis; necessário agendar horário para a casa ZalszupinLink: https://www.casazalszupin.com/
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