RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O cubano Alejandro Prevez, 30, suspeito de matar a facadas o galerista americano Brent Sikkema, 75, planejou o crime por um ano, aponta a polícia. Ele chegou a invadir a casa da vítima, na zona sul do Rio de Janeiro, outras duas vezes, tirou selfie e mandou as fotos para Daniel Sikkema, 53, que teve a prisão decretada por ter supostamente encomendado o crime.
Daniel é ex-marido da vítima e, após o pedido de divórcio, em meados de 2022, não teria o conhecimento de que o galerista havia mudado o seu testamento. Para a polícia, Daniel acreditava ser o principal beneficiário de uma fortuna, mas Brent o deserdou em novo documento. As informações constam no relatório policial do caso, ao qual a Folha teve acesso.
Um escritório de advocacia do Rio de Janeiro entrou com uma procuração de Daniel para representá-lo no processo após sua prisão ter sido decretada neste sábado (10). A reportagem tentou contato por email e telefone e não obteve retorno.
Antes de ter sua prisão ser decretada, Daniel respondeu à polícia por email que não tinha tempo disponível para prestar depoimento. Segundo a polícia, ele está nos Estados Unidos e seu pedido prisão já foi incluída na Interpol. A Folha também tentou, ao longo deste domingo, falar com Daniel pelos contatos que constam do processo, mas também não teve resposta.
A polícia diz acreditar que Daniel só tenha tomado ciência do novo testamento após o homicídio de Brent, em 14 de janeiro. "Daniel não tinha conhecimento de que Brent o havia retirado do testamento anterior, o que, acredita-se, fez com o que seu ímpeto em executar a vítima fosse aumentado, já que acreditava ser o maior herdeiro de sua fortuna", diz trecho do relatório.
Assim, segundo a investigação, no decorrer do ano passado, Daniel entrou em contato com Prevez, que já teria trabalhado para ele como segurança numa residência que Brent havia comprado em Cuba a pedido do ex-marido.
O suposto mandante passou, então, a enviar dinheiro para ele, que morava no Brasil, e prometeu a Prevez um pagamento de US$ 200 mil --cerca de R$ 1 milhão. Daniel tinha acesso à conta de um aplicativo de locação de hospedagem de Brent e, assim, monitorava os locais para onde a vítima viajava.
De acordo com depoimento de Prevez, Daniel pediu para que ele viajasse de São Paulo até o Rio numa data na qual Brent não estaria no Brasil para analisar o possível local do crime e rotas de fuga. Na ocasião, Daniel, desde Nova York, enviou a chave do sobrado que pertencia ao galerista.
Essa viagem ocorreu em agosto de 2023, quando Prevez, aproveitando que o sobrado estava vazio, tirou fotos da cama de Brent e de um cofre. As imagens foram encontradas no celular do suspeito e reconhecidas pela advogada do americano como sendo do interior da residência.
Já a segunda invasão da residência foi também a primeira tentativa de executar o plano para matar Brent. Prevez entrou no sobrado no dia 11 de dezembro de 2023, mas Brent estava dormindo no quarto com a porta trancada com chave.
Neste dia, Prevez enviou uma mensagem a Daniel perguntando como proceder, já que não tinha acesso à vítima. Enquanto isso, fez uma selfie na cozinha, sorrindo. Daniel, por sua vez, recomendou que ele pensasse em uma forma de tirar Brent do quarto. O cubano, então, desligou o disjuntor da casa.
A falta de luz, porém, não tirou Brent do quarto, e Prevez, de alguma forma, percebeu que o americano estava mexendo no celular. Receoso, o cubano alertou Daniel, por mensagem, que sairia do local por receio de o galerista estar chamando a polícia.
Já na madrugada de 14 de janeiro, Prevez conseguiu entrar no quarto e desferiu 18 facadas em Brent. Ele contou, em depoimento, que tapou o rosto da vítima com lençóis e almofadas, pois não queria ver seu rosto.
Além disso, Prevez disse que comprou uma besta, arma portátil de arremessar flechas, com dinheiro enviado por Daniel para matar Brent. Ele chegou com a arma no dia do crime, mas preferiu matar Brent com uma faca da cozinha da vítima. Após o crime, ele lavou a faca e a devolveu ao faqueiro. Uma foto de Prevez segundo a besta foi encontrada em seu celular.
Os detalhes contados por Prevez foram corroborados pela perícia da investigação. Além disso, a polícia conseguiu mostrar que o número de telefone com o qual Prevez se comunicava nos Estados Unidos era utilizado por Daniel.
Duas provas da investigação são a de que Daniel falava com sua prima em Cuba pelo mesmo telefone e que o email da conta desse aparelho consta em um IP ao qual o ex-marido tinha acesso. Prevez também afirma que fez chamadas de voz com o suposto mandante, nas quais conversavam sobre o crime.
CONFIDÊNCIAS A AMIGOS E ADVOGADO
A polícia teve acesso a emails de Brent, nos quais ele contava da relação conturbada com o ex-marido.
Em junho de 2023, a vítima confidenciou a um amigo o que estaria vivendo nos últimos 18 meses. E lamentou que, após conceder a Daniel os últimos fundos para a construção de uma casa em Cuba, Daniel tenha pedido o divórcio. Além disso, teria passado a ser vítima de denúncias falsas.
Entre as acusações, estava a de que vítima tinha histórico de abusos físicos e psicológicos e de que fazia uso de drogas no apartamento do casal, na frente do filho. A denúncia foi apurada pela polícia americana e se demonstrou infundada.
Outra denúncia de Daniel contava que Brent estaria comprando uma arma automática e indo ao aeroporto de Nova York para matar pessoas. Uma dessas denúncias de Daniel teria culminado na prisão da vítima, que passou 22 horas encarcerado. Daniel também queria mudar o sobrenome do filho, tirando o Sikkema, ao que Brent se opôs.
Com todo esse cenário, Brent decidiu mudar o testamento feito em maio de 2021. Nessa primeira versão, Brent deixava todos os pertences pessoais e bens, incluindo a propriedade no Brasil, com exceção de algumas doações pontuais, para Daniel, seu marido à época.
Mas, em maio de 2022, já passando pelo divórcio, ele preparou um novo testamento no qual não deixou nenhum bem a Daniel. "Eu deserdo específica e totalmente Daniel Sikkema, independentemente de ele ser meu cônjuge legal no momento de minha morte ou não", diz o início do documento.
No mesmo testamento, ele deixou para o primeiro marido, de nome Carlos, uma doação de US$ 1 milhão -cerca de R$ 5 milhões. O galerista também deixou bens para familiares e, a maior parte, para o filho que tinha com Daniel.
Brent era coproprietário da galeria Sikkema Jenkins & Co, no bairro nova-iorquino de Chelsea, dono de uma fortuna, e um dos nomes mais celebrados da cena artística mundial. Ele era marchand do artista Jeffrey Gibson, que representa os Estados Unidos na próxima Bienal de Veneza, em abril.
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