SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Do k-pop do Stray Kidz ao rap de Kanye West, os lançamentos dos últimos meses no mundo da música deixam claro: o funk brasileiro é uma influência para músicos do mundo todo. Mas será que essa influência se traduz em prestígio -e dinheiro- para os brasileiros?
Para o DJ Mu540, um dos maiores produtores do funk hoje, a homenagem só funciona com os devidos créditos. "Me preocupa um pouco que [os gringos] estão conhecendo o funk errado, sabe? Não estão conhecendo pela gente, estão conhecendo de um conceito que eles criaram sobre isso, porque estourou muito lá".
O DJ, que fez uma turnê pela Europa no ano passado, viu essa influência de perto: "Quando fui lá fora,,percebi que estava todo mundo querendo um pedacinho do funk. Todo mundo querendo ser funkeiro um pouquinho. Enxerguei um amor nisso, e enxerguei também uma visão meio oportunista. Não é à toa que fizeram o 'phonk', tá ligado? Nada mais é do que um beat imitando bruxaria, não é nada novo. São gringos agora fazendo funk".
Nota da edição: o "phonk" produzido por estrangeiros viralizou no TikTok e no YouTube nos últimos anos em vídeos de animes e games, e chama atenção pela semelhança com subgêneros do funk paulista, como mandelão, bruxaria e automotivo.
A preocupação dele é que o estilo inspirado no Brasil vire referência para os próprios brasileiros. "A gente é muito criativo em criar ritmos, mesmo emulando lá de fora. O funk é isso. Agora, corta para 2024, a gente se espelhando no estilo que foi emulado da gente mesmo. Isso é muito louco, eu não sei o que vai acontecer daqui para frente".
"A gente não tem muita autoestima. A gente vai replicando de fora, então o que tá acontecendo? Olha que fita: o Brasil foi inspiração para esse estilo 'phonk', e agora que esse estilo está estourado, o brasileiro fica se espelhando no estilo emulado de nós mesmos. Que p* é essa?", disse o DJ Mu540
Há quem faça questão de separar o funk brasileiro da pegada eletrônica do phonk. Mu540 discorda: "Para mim, o funk do Brasil sempre foi eletrônico, porque ele foi feito atrás de um PC. A gente gerou ele por intermédio de 'zeros' e 'uns'. Foi convertido ali numa placa de som, numa interface de áudio que o sinal analógico foi para digital e vice-versa. Funk é música eletrônica por isso, cientificamente falando".
Para ele, a separação dos dois gêneros é uma forma de minimizar o funk. "Interessa para quem quer dar uma imagem nossa como se a gente não tivesse informação para ter a capacidade de fazer isso. A indústria entende a música eletrônica como aquilo: tech, house, garbage. E os clubs de música eletrônica dão mais dinheiro para isso. Você nunca vai ver um DJ Ramon Sucesso na Laroc [casa de música eletrônica em Vinhedo, na Grande São Paulo], sabe? Você nunca vai ver o DJ Arana na Laroc, pelo menos por enquanto. O funk não entra lá".
Apesar do preconceito, interessa ao funk entrar nesses espaços. "A gente tem que entrar em qualquer espaço. Hoje mesmo, eu fiz um house misturado com funk. Totalmente homogêneo, muito bom. Se eu não tivesse essa brisa, eu não ia tentar entrar nesse espaço e não ia tentar pegar esse cachê. Quero esse cachê da Laroc. Quero o cachê da GreenValley [club de eletrônica em Balneário Camboriú], eu quero o cachê da Tomorrowland, eu quero o cachê da Pacha Ibiza, de todas as 'Pacha' que tem".
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