FOLHAPRESS - Em 1984, era lançada a primeira adaptação de "Duna", livro de Frank Herbert publicado em 1965. O diretor é David Lynch e sua versão é tida como fracassada por condensar demais as quase 400 páginas do primeiro livro da saga.

Em 2021, o canadense Denis Villeneuve resolve se arriscar na empreitada. Filmou a primeira parte da história contida no primeiro volume. Se fizesse sucesso, poderia filmar a segunda parte e dar conta de toda a história.

O surgimento de "Duna: Parte 2", neste início do ano, depois de um compreensivo atraso de alguns meses, indica o sucesso do primeiro, mesmo que ele tenha estreado durante a pandemia. O espectador verá que indica ainda mais, já que aponta claramente para futuros longas.

Sem ser muito melhor que o filme de 1984, podemos entender como Villeneuve foi bem-sucedido comercialmente onde Lynch, um diretor superior, falhou. A resposta está na maior reverência à obra.

Ao ter de resumir demais uma história cheia de personagens e admirada por muitos, a produção de Lynch ficou com muitos buracos, mais perceptíveis para os fãs.

Há ainda o velho embate entre autor e indústria. Ao procurar uma adequação do imaginário de Herbert ao seu, Lynch fez uma obra no meio do caminho, prejudicada por um orçamento que sufocava a autoria, agravada pela impossibilidade de ter o corte final e a duração que ele queria.

Villeneuve não foge muito do que Lynch estabeleceu, mas, na adaptação, faz basicamente o contrário. Sabe que nesse tamanho de produção, cada vez mais é necessário deixar que o estilo fique subordinado aos caminhos da trama. E foi bem fiel ao livro, que adora desde a adolescência.

Ao ter mais tempo para contar a história do primeiro livro --pouco mais de cinco horas, considerando os dois longas-- Villeneuve conseguiu um díptico mais cadenciado, principalmente na primeira parte, num ritmo surpreendente para um blockbuster.

Tudo indicava que "Duna: Parte 2" seguiria a mesma toada do primeiro, sem pressa, acreditando na ambientação e num tom mais meditativo, que combina com o lado místico da história. Nesta continuação, contudo, as cenas de ação são mais numerosas.

Se tem mais ação, aproxima-se mais de um blockbuster comum. Mas há a introdução de dois pontos fundamentais, que pareciam camuflados na primeira parte: o questionamento das crenças religiosas em líderes messiânicos e o caráter tirânico que uma pessoa claramente identificada com o bem adquire após alcançar um status de liderança e grande poder.

Talvez Timothée Chalamet não seja, a priori, o ator ideal para desempenhar essa dupla função. Mas a direção de Villeneuve garante pelo menos que o ator não comprometa a saga. Em alguns momentos, ele até convence, mesmo que seu personagem seja obrigado a gritar, igualando-se, por vezes, aos vilões da história.

Se analisarmos com rigor, até pelo número maior de clichês que esta segunda parte é obrigada a empregar com relação à primeira, "Duna: Parte Dois" é só um pouco acima da média do blockbuster moderno, que anda bem baixa.

Pensando no futuro, talvez Villeneuve tenha apontado uma saída para o cinema comercial hollywoodiano. Resta saber se este caminho será um iluminado ou não.

DUNA: PARTE DOIS

Avaliação: Bom

Quando: Estreia nesta quinta (29) nos cinemas

Classificação: 14 anos

Elenco: Austin Butler, Timothée Chalamet e Zendaya

Produção: Canadá e EUA, 2024

Direção: Denis Villeneuve


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