BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Desde junho de 2020, Diones Coutinho, de 39 anos, procura diariamente vagas de emprego pela internet, mas sem sucesso. "Nesse período todo só fui chamado para uma entrevista de emprego, que fiz online", afirma o técnico em mecânica industrial e em petróleo e gás. Ele integra o grupo de 2,9 milhões de trabalhadores desocupados há mais de dois anos, o chamado desemprego de longa duração.

Um contingente que equivale a cerca de um terço do total de pessoas que buscam um posto de trabalho no país atualmente, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgados no início do mês.

Coutinho, que era inspetor em um navio, foi desligado após a empresa anunciar alguns cortes por causa da pandemia de Covid-19. "No início, achei que a dificuldade em achar uma vaga vinha da pandemia, mas agora o mercado está voltando aos poucos e sigo sem uma oferta", explica.

A taxa de desemprego no Brasil vem caindo e recuou para 9,3% no segundo trimestre de 2022, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o menor patamar para o período desde 2015. Ela estava em 11,1% no primeiro trimestre.

Pelas estatísticas oficiais, a população desempregada reúne quem está sem trabalho e segue à procura de novas vagas. Quem não tem emprego e não está buscando oportunidades não entra no cálculo.

Para driblar os mais de dois anos de desemprego, Coutinho, que é morador de São Gonçalo no Rio de Janeiro, chegou a fazer, por um tempo, um bico no ferro-velho do sogro e também mais um curso técnico. "É muito ruim ver que as pessoas conseguem emprego e você não. O psicológico não fica bom, porque tenho muitas contas para pagar, inclusive o financiamento de um apartamento, essa é a minha maior dívida", explica.

Segundo dados da Pnad, em alguns Estados a proporção de desempregados que estão procurando emprego há mais de 24 meses chega a quase a metade dos desocupados. Em Pernambuco, o grupo representa 48% dos desempregados, seguido pelo Amapá (47,8%), Acre (46,5%) e Rio de Janeiro (45,6%).

Os pesquisadores Janaína Feijó e Paulo Peruchetti, do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), afirmam que o desemprego de longa duração tem ganhado cada vez mais participação dentro do total dos desocupados no país. Um movimento que começou a ser observado depois da recessão econômica de 2014-16. "Desde o final de 2021, ele tem girado num patamar de 30%, o que nos indica uma piora na composição dos desocupados. Se você está fora do mercado há mais de dois anos, seu capital humano vai ficando depreciado, e fica ainda mais difícil conseguir emprego", afirma Peruchetti.

Para Janaina Feijó, atualmente se fala muito da queda da taxa de desemprego, mas é importante estar atento a algumas nuances importantes. "Temos um grande contingente, há 7 anos, de pessoas que estão procurando emprego por muito tempo e não conseguimos reduzir esse grupo", diz.

A proporção de pessoas que buscam emprego há mais de dois anos só diminuiu no início da pandemia, segundo Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad. "Isso porque aumentou a representatividade daqueles que estavam procurando a menos tempo, pessoas que foram demitidas logo no início da pandemia e pressionaram o mercado em busca de trabalho", diz.

Segundo Feijó, as demandas do mercado de trabalho passaram por intensas mudanças durante a crise sanitária. Os empregadores passaram a demandar aptidões e habilidades mais diversificadas dos trabalhadores, o que faz com que uma pessoa que esteja fora do trabalho há muito tempo sem procurar novas qualificações tenha dificuldade de se reinserir.

"Quando a pessoa mostra o currículo e está muito tempo desempregada, isso sinaliza uma coisa negativa. A primeira coisa que o empregador vai perguntar é: por que ela está há dois anos parada? É estranho aos olhos do empregador", afirma.

A longa procura por trabalho pode ter também um componente estrutural, segundo Beringuy, do IBGE. "Podem ser pessoas com mais dificuldade de se inserir, seja por qualificação exigida pelo mercado ou pelo próprio tempo que ela pode se dedicar ao trabalho", diz.

ESCOLARIDADE

De acordo com microdados da Pnad Contínua levantados pelos pesquisadores do FGV Ibre, no recorte por escolaridade, a fatia mais volumosa dos trabalhadores que estão há mais de 24 meses procurando um trabalho é a das pessoas com ensino médio ou superior incompleto. Essas pessoas correspondiam a 52,3% do grupo dos desempregados de longa duração no segundo trimestre desse ano. Os trabalhadores que não tinham ensino médio completo somavam 36,4% e os com superior completo 11,3%.

A pesquisadora do Ibre defende a necessidade de se pensar em políticas públicas voltadas a melhorar a capacidade de inserção dessas pessoas no mercado de trabalho.

"As pessoas com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo muitas vezes sequer sabem onde procurar oportunidades. Ter uma plataforma que facilite saber quais as oportunidades estão aparecendo, saber quais as tendências, o que fazer para se requalificar é muito importante", diz Feijó.


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