SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma economia em marcha forçada. Era dessa forma que, em 1977, o governo do general Ernesto Geisel tentava manter o crescimento do país, quatro anos após o primeiro choque do petróleo colocar fim ao chamado "milagre econômico".

O Brasil da "Carta aos Brasileiros", o manifesto da época pela democracia, era um país mais desigual, com acesso restrito a serviços públicos de educação e saúde e sem uma ampla rede de proteção social.

A alta dos preços corroía o poder de compra do brasileiro, com inflação que chegaria a 40% naquele ano. Era o início de um processo de aceleração para a hiperinflação que só seria interrompido, definitivamente, com o Plano Real (1994).

Dos 112 milhões de habitantes, cerca de 100 milhões a menos do que o estimado atualmente, uma grande parcela ainda vivia no campo.

Para manter a economia em marcha, o principal instrumento do governo era um programa estatal de grandes obras de infraestrutura, subsídios à indústria e substituição de importações, financiado com muito endividamento externo, o 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento).

Parte do objetivo seria alcançado. Depois de crescer a uma taxa média de 10% ao ano de 1968 a 1976, a economia brasileira teve um avanço anual de 6,5% nos quatro anos seguintes.

Era a transição entre o milagre e o período de recessão que viria após uma nova virada na economia mundial. O choque do petróleo de 1979 trouxe uma onda global inflacionária, seguida pela abrupta elevação dos juros nos EUA e a quebradeira dos endividados países latino-americanos. Entre eles, o Brasil, que entrou em recessão nos últimos anos da ditadura militar.

O barril de petróleo passou de US$ 2,48 para US$ 13,60 após o primeiro choque, e para mais de US$ 30, após o segundo. Os juros nos EUA chegaram a 16% ao ano no início dos anos 1980.

"O desastre que foi a década de 1980 e o começo da década de 1990 está muito ligado às escolhas de políticas públicas feitas naquele período", afirma Mauro Rodrigues, professor da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP) e membro da equipe do porque.com.br.

Como muitos economistas, ele pondera que é impossível saber o que teria ocorrido com o Brasil se o governo tivesse optado por uma política de austeridade em vez de buscar o crescimento econômico.

Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que o crescimento financiado pelo endividamento em moeda forte cobrou um preço elevado do país nos anos seguintes, mas que o governo atingiu alguns objetivos, como o fortalecimento das indústrias de base e a redução da dependência do petróleo.

Ela vê um paralelo entre a situação econômica em 1977 e 2022: alta de preços da energia, disparada da inflação, alta de juros nos EUA e desaceleração das grandes economias. Mas afirma que as questões que envolvem os manifestos nas duas épocas são muito mais políticas do que econômicas.

"A gente não está tendo esse manifesto porque a inflação subiu. A defesa do Estado democrático de Direito é mais ampla e profunda do que as questões econômicas. Essa carta tem a função de chamar a atenção da população para o respeito ao resultado das urnas."

A economista afirma que uma diferença importante entre os dois momentos são os direitos garantidos pela Constituição de 1988, que substituiu a Carta outorgada durante a ditadura. Mauro Rodrigues, professor da FEA, também destaca esse ponto. "O país era mais desigual, e o acesso a serviços públicos, como saúde e educação, não era para todo mundo. Isso veio com a Constituição de 1988."


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!