SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, diz que faltou tempo para discutir o manifesto da Fiesp (federação das indústrias paulistas, à qual o centro é ligado) a favor da democracia e do Estado democrático de direito.

Segundo ele, esse foi um dos motivos que levaram a entidade a não assinar o texto que ficou conhecido como a "carta dos empresários" em reação às crescentes investidas do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o processo eleitoral.

A objeção à assinatura do documento não foi, diz o executivo, uma rejeição ao seu conteúdo, mas uma sinalização de afastamento da polarização que acabou contaminando o momento. Cervone afirma que entendia haver um risco também em não se manifestar, uma vez que isso poderia ser entendido como um racha da Fiesp, algo que ele classifica como "essas loucuras".

Nos dias que antecederam a finalização do manifesto, Cervone estava fora do Brasil, de férias, "em um navio, em outro fuso horário", conta.

"Foi uma questão, primeiro, de tempo. Quando voltei [ao Brasil] já tinha passado uma semana e o negócio tomou outras dimensões. [Pensamos] 'Não, as entidades têm de ser neutras'. Virou um negócio muito polarizado, então era melhor não falar."

Assumir uma postura, naquele momento, podia ser visto como "pôr mais fogo" em um período já de tensões elevadas.

Cervone, que é também primeiro vice-presidente da Fiesp, defende que as decisões tomadas pela federação são mais rápidas do que aquelas discutidas no Ciesp. "São 125 sindicatos. Você reúne hoje à tarde, como acontece de 15 em 15 dias. Pega em uma reunião, tá todo mundo lá e decide na hora".

A Fiesp é presidida por Josué Gomes, que é também primeiro vice-presidente do Ciesp.

No centro das indústrias, diz Cervone, as decisões passam por mais de 8.000 empresas. As reuniões são mensais. O timing da discussão do manifesto encontrou outro ponto favorável: os empresários não marcam reuniões em apenas dois momentos do ano, que são os meses de janeiro e julho, por conta dos períodos de férias, quando muitos viajam.

"Em julho, não teve a reunião mensal do Ciesp. Então, teria que fazer uma extraordinário, mas para fazer isso, eles tinham que conversar como a base primeiro. Aí esse gap [o intervalo de tempo desde o inícios das discussões] foi mortal."

O presidente do Ciesp diz que foi importante, para os associados, manter certa neutralidade naquele momento. "Todo mundo entendeu a importância de falar da democracia e do Estado de direito, mas, naquele momento, já não se estava mais discutindo isso. Naquele momento era 'mas então isso aqui é Bolsonaro e isso aqui é Lula'. Não dá, nessa conversa não dava para entrar."

A carta das entidades a favor da democracia foi publicada no dia 5 de agosto, alguns dias antes de um ato na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no dia 11 de agosto. Na ocasião, o manifesto dos empresários foi um dos dois lidos naquela manhã; o outro, assinado por mais de 1 milhão de pessoas, foi elaborado por juristas durante quase um ano.

Apesar da ausência no pé da carta dos empresários, Cervone defende que o processo de eleições seja democrático e que "aquele que ganhou a eleição, ganhou a eleição".

"E nós vamos sentar com qualquer um que ganhe, como já estamos conversando com os dois lados", diz.

A Fiesp e o Ciesp organizaram, em agosto, encontros com os candidatos ao governo de São Paulo, e à Presidência da República. Participaram dessas reuniões Vinícius Poit (Novo), Fernando Haddad (PT), Rodrigo Garcia e Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidatos ao governo estadual.

Com os presidenciáveis, estiveram na sede das entidades os candidatos Lula (PT), Simone Tebet (MDB), Felipe D'Ávila (Novo) e Ciro Gomes (PDT).


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