SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Brasil e Estados Unidos ajustaram nesta quarta-feira (21) suas respectivas taxas de juros, o que levou participantes do mercado a apelidarem este dia de "superquarta" diante da volatilidade que essas decisões provocam no câmbio, nas ações, em matérias-primas e no custo do crédito.
As negociações desta quarta, porém, balançaram também com novas preocupações sobre os rumos da economia mundial após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ter determinado pela primeira vez a mobilização de até 300 mil reservistas para lutar na Guerra da Ucrânia, além de ter ameaçado usar armas nucleares para garantir territórios dominados pelas tropas russas. A superquarta ganhou ares de "quarta nuclear".
Utilizado pelo mercado para comparar o valor do dólar americano em relação às principais moedas globais, o índice DXY avançava 0,82% no encerramento da tarde, aos 111.120 pontos. Isso significa o maior patamar para o indicador desde o primeiro semestre de 2002.
No câmbio do Brasil, o dólar comercial fechou em alta de 0,36%, a R$ 5,1720. Na Bolsa de Valores, o índice Ibovespa caiu 0,52%, aos 111.935 pontos.
Parâmetro para a Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 perdeu 1,71%. Dow Jones e Nasdaq cederam 1,70% e 1,79%, respectivamente.
Os mais importantes mercados de ações globais chegaram a subir durante boa parte do dia, mas viraram para o negativo após declarações do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, indicarem que os juros dos Estados Unidos permanecerão em patamar elevado no próximo ano.
Nesta quarta, o Fed confirmou a terceira forte elevação de 0,75 ponto percentual no custo do crédito, ampliando a taxa anual para um patamar entre 3% e 3,25% ao ano.
No Brasil, o Banco Central local confirmou no início da noite o fim do ciclo de elevação da taxa Selic, sem reajuste, mantendo o patamar de 13,75% ao ano.
Apesar da queda da Bolsa nesta quarta, o mercado acionário brasileiro avança mais de 6% neste ano, resistindo a um ambiente desafiador para a renda variável.
Na terça-feira (20), contrastando com o pessimismo global registrado pelos principais mercados de ações do planeta, o Ibovespa entregou ganhos pelo segundo dia seguido.
Analistas dizem que o Brasil é visto neste momento como destino interessante para investidores porque o país dá sinais de êxito quanto à sua política monetária. Enquanto isso, as principais potências econômicas também tentam domar a inflação acelerando juros, mas ainda aparentam não saber claramente o quanto precisarão apertar o crédito até que os preços ao consumidor comecem a cair.
POR QUE E COMO A DECISÃO DO FED MEXE COM O MERCADO
Seja pelo risco de recessão global provocada pela política de elevação de juros nos Estados Unidos ou mesmo pelo agravamento da guerra na Europa, ameaças ao equilíbrio da economia mundial tendem a valorizar a moeda americana.
"O dólar mantém um bom impulso nesta semana, beneficiando-se amplamente da demanda de porto seguro, já que o sentimento de risco permanece", disse Francesco Pesole, estrategista de câmbio do banco holandês ING, ao Financial Times.
Há consenso no mercado sobre a necessidade de tornar o crédito mais caro para retirar dinheiro de circulação. Essa é a principal medida adotada por bancos central na tentativa de frear a inflação mundial, um processo que teve início devido a falhas provocadas pela pandemia no abastecimento global de matérias-primas e bens de consumo. O problema se tornou ainda mais grave com a Guerra da Ucrânia elevando preços de energia e alimentos.
Existem receios, porém, de que o custo desse aperto monetário será uma grave desaceleração da atividade econômica em escala mundial.
Entre os efeitos de uma recessão estão a ausência de crescimento das empresas, aumento consistente do desemprego e queda exagerada do consumo.
Sem perspectiva de crescimento das empresas, investidores tendem a abandonar os mercados de ações para buscar ganhos na renda fixa. A mais segura delas é a americana, onde os títulos soberanos dos Estados Unidos ficam cada vez mais vantajosos.
O rendimento dos títulos do Tesouro americano com vencimento em dez anos, referência para esse mercado, alcançou nesta terça o maior patamar em uma década, reportou o The Wall Street Journal. É o efeito da expectativa de alta dos juros do Fed.
O movimento de dólares em direção à renda fixa americana também torna a moeda escassa em outros países. O dólar ficou mais caro neste ano, na comparação média com as principais moedas.
Diferente do que ocorre com boa parte das moedas, o real ganha valor frente ao dólar em 2022. A explicação mais comum para isso é o chamado juro real, que é a diferença entre a expectativa de inflação futura e a taxa Selic. Essa relação torna a renda fixa brasileira interessante conforme a inflação recua e a taxa básica de juros permanece elevada.
Outros motivos também tornam o Brasil atraente para investidores neste momento. Um deles é a existência de empresas sólidas com ações baratas na Bolsa de Valores.
Há no mercado do Brasil empresas com grande potencial de serem beneficiadas pela inflação do petróleo e dos alimentos, pois exportam essas mercadorias.
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