SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Reduzir custos de produção, estreitar as relações comerciais e melhorar a imagem ambiental do Brasil no mercado externo. Esses são alguns dos desafios que o próximo governo precisará enfrentar para impulsionar o agronegócio.

Assunto que ganhou certa relevância na campanha eleitoral, o agro é um dos temas presentes nos planos de governo dos principais candidatos à Presidência da República.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB) defendem mudanças para o setor em seus planos de governo protocolados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) caso sejam eleitos.

Para Leandro Gilio, pesquisador sênior e professor do Insper Agro Global, o setor conquistou relevância no cenário graças ao ganho de competitividade no mercado externo e da capacidade de produção de renda.

"É claro que muitas vezes a discussão fica no campo da ideologia, no campo da polarização. Por isso, o agro é muito visto como um atraso, o que prejudica a estratégia do próprio setor para o futuro".

Além de tentar mudar essa visão, o próximo governo deverá elaborar estratégias para lidar com impactos sofridos pelo setor até agora ?como a alta de custos, a falta de insumos e o desarranjo nas cadeias de produção? e com uma possível desaceleração de grandes economia globais.

"Também temos desafios internos, com relação às contas públicas do governo e toda questão social do país".

Outro desafio será melhorar a relação comercial e a imagem negativa do Brasil no exterior, manchada pelo avanço no desmatamento. "O governo terá que trabalhar muito a questão ambiental para que os nossos produtos tenham uma boa imagem lá fora e uma maior aceitação para que a gente não sofra barreiras e bloqueios".

A resposta para combater a fome no país não é o aumento na produção do agronegócio, segundo o pesquisador, mas, sim, políticas de transferência de renda e de geração de empregos. "O problema não está em produção, mas, sim, no acesso da população [aos alimentos]. Essas demandas são mais urgentes do que tentar coordenador o mercado, de alguma maneira."

VEJA AS PROPOSTAS DOS PRINCIPAIS CANDIDATOS:

LULA (PT)

O plano de governo do ex-presidente Lula prevê o fortalecimento da produção agropecuária por meio de "financiamento, compras governamentais, investimento público" e ainda de ampliar e agregar valor à produção, "com ênfase em inovações orientadas para a transição ecológica, energética e digital".

O plano de governo também propõe:

?agregar valor à produção agrícola, com a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial;

?e fortalecer a produção nacional de insumos, máquinas e implementos agrícolas, fomentando o desenvolvimento do complexo agroindustrial.

SEGURANÇA ALIMENTAR

Ainda na plataforma de governo, uma das medidas apresentadas é voltada à soberania alimentar e o acesso da população à alimentos saudáveis, o que seria possível:

?por meio de um novo modelo de ocupação e uso da terra urbana e rural;

?com reforma agrária e agroecológica;

?e com a construção de sistemas alimentares sustentáveis, incluindo a produção e consumo de alimentos saudáveis.

As medidas também preveem apoio à pequena e média propriedade agrícola, em especial à agricultura familiar e, ainda, "estimular a ampliação das relações diretas dos pequenos produtores e consumidores no entorno das cidades".

FORTALECER PRODUÇÃO

Segundo o plano de governo do ex-presidente Lula, para fortalecer a produção agrícola no país é preciso repensar o padrão de produção e de consumo e oferecer alimentação saudável para a população.

Segundo a proposta, para superar a crise alimentar e ampliar a produção de alimentação adequada e saudável é preciso:

?medidas que reduzam os custos de produção e o preço de comercialização de alimentos frescos e de boa qualidade;

?fomentar a produção orgânica e agroecológica;

?e incentivar sistemas alimentares com parâmetros de sustentabilidade, de respeito aos territórios e de democratização na posse e uso da terra.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O plano de governo do ex-presidente prevê o fortalecimento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para que ela possa identificar potencialidade dos agricultores e assegurar mais avanços tecnológicos no campo "essenciais para a competitividade e sustentabilidade tanto dos pequenos quanto dos grandes produtores".

SUSTENTABILIDADE E COMBATE À INFLAÇÃO DE ALIMENTOS

O programa defende avançar rumo a uma agricultura e uma pecuária que estejam comprometidas com a sustentabilidade ambiental e social para que o mercado brasileiro não perca espaço no cenário internacional.

Para combater à alta no preço de alimentos, o plano de governo propõe estabelecer uma política nacional de abastecimento, que inclui:

?a retomada dos estoques reguladores;

?e a ampliação das políticas de financiamento e de apoio à produção de alimentos aos pequenos agricultores e à agricultura orgânica.

JAIR BOLSONARO (PL)

Candidato à reeleição, o plano de governo de Jair Bolsonaro defende a promoção da competitividade e a transformação do agronegócio "por meio do desenvolvimento e da incorporação de novas tecnologias biológicas, digitais e portadoras de inovação".

O plano também prevê a criação de medidas para promover e fortalecer a agropecuária e a mineração, "importantes na performance econômica brasileira".

Em caso de reeleição, o governo pretende "estimular empresas modernas de beneficiamento" o que incluiria cooperativas, pequenos e grandes produtores.

SUSTENTABILIDADE

O plano de governo também prevê medidas para melhorar a sustentabilidade no campo a partir:

- "da adoção da bioeconomia com o objetivo de oferecer soluções sustentáveis aos variados sistemas de produção;

- da substituição, ao máximo, de recursos fósseis e não-renováveis;

- e da ação em consonância com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE E PRODUÇÃO

Uma das medidas do plano de governo é a de fortalecer e promover a implantação de práticas agrícolas que aumentem a produtividade e a produção no campo, para isso prevê:

- "manter ecossistemas e a capacidade de adaptação às mudanças do clima;

- melhorar progressivamente as oportunidades de geração de emprego e renda dos produtores rurais;

- dar atenção aos programas de Defesa Agropecuária;

- incentivar a exportação;

- ampliar a cobertura e a qualidade do transporte ferroviário;

- e aumentar a produção nacional de fertilizantes.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Na plataforma de governo de Bolsonaro, o incentivo à pesquisa e o investimento em tecnologia são apontados como medidas para desenvolvimento da indústria, saúde e agronegócio. Entre as propostas estão ampliar e consolidar a implementação da tecnologia 5G e formular estratégias que utilizem o dinheiro público em pesquisas de ponta.

SEGURANÇA NO CAMPO

Outra medida relacionada ao agro é a de aumentar a segurança no campo e buscar soluções específicas para a proteção de áreas fora dos núcleos urbanos "protegendo não só a família do campo, mas os equipamentos e insumos de uma forma geral, cujo valor agregado altíssimo tem levado parcela de criminosos a se voltar para esse público".

Entre outras ações, o programa de governo propõe:

- "criar políticas para garantir a segurança e liberdade seja para o pequeno produtor da agricultura familiar, seja para grande produtor da agropecuária;

- e consolidar e ampliar ações de regularização funcionária garantindo o direito à propriedade, "reduzindo os conflitos no campo e as invasões".

CIRO GOMES (PDT)

Em sua plataforma de governo, o ex-ministro Ciro Gomes considera o agronegócio uma das quatro principais áreas a serem estimuladas para a retomada do setor produtivo. As outras três são petróleo, gás e derivados e saúde e defesa.

O candidato se propõe a impulsionar o agronegócio, assim como as demais áreas, por meio de um conjunto de políticas públicas que inclui:

- estímulos à pesquisa e inovação;

- financiamentos específicos;

- compras públicas;

- incentivo às exportações.

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Em sua agenda ambiental, Ciro Gomes defende que o crescimento do Brasil está atrelado a uma agenda ambiental clara, "capaz de provar que a floresta em pé vale muito mais que um campo desmatado".

Para isso, propõe uma estratégia de desenvolvimento regional, associada à maior segurança fundiária, que contribua para a redução do desmatamento.

"Trata-se de uma estratégia que mostrará como é possível conciliar e integrar a lavoura, a pecuária e a floresta".

SIMONE TEBET (MDB)

A senadora Simone Tebet elege a economia verde e desenvolvimento sustentável como um dos seus principais planos de governo. Para os produtores agrícolas, o plano de governo de Simone propõe implementar:

Se eleita, Simone Tebet também promete apoiar a agricultura familiar com oferta de crédito, extensão agrícola e cooperação técnica e a melhoria das condições de conectividade e eletrificação no campo.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Como estratégias para ampliar a produtividade e aumentar a competividade do setor, o plano de governo propõe:

- fortalecer e modernizar a Embrapa e apoiar órgãos de extensão rural;

- impulsionar a produção nacional de insumos agrícolas e fertilizantes, buscando aumentar a produtividade nacional e reduzir a dependência em relação a importações;

- apoiar polos agroindustriais por meio da expansão da infraestrutura e da logística, sobretudo ferrovias;

- e fortalecer e incentivar o cooperativismo.

PESCA E PRESERVAÇÃO

Simone Tebet também se propõe a criar um novo marco legal para a pesca, em uma "gestão pesqueira integrada", que incluirá "restrições e novas tecnologias para pesca de arrasto, dentro de um planejamento espacial marinho"

Ela defende impulsionar a expansão da agricultura de baixo carbono e a integração lavoura-pecuária-floresta, sobretudo para aproveitamento de áreas devastadas e que podem ser cultivadas sem desmatamento.

Outra medida proposta é a de acelerar a adoção, a informatização, a consolidação e a análise de regularidade do CAR (Cadastro Ambiental Rural) ?instrumento criado para viabilizar o cumprimento de normas pelos proprietários rurais, previstas no Código Florestal.


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