SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar disparava contra real no início da tarde desta segunda-feira (26), rompendo a barreira dos R$ 5,40. A taxa de câmbio volta a refletir o ambiente mundial desfavorável ao crescimento das empresas e, consequentemente, de maior risco de desvalorização para as ações negociadas nas Bolsas de Valores. É um momento em que o mercado prefere apostar na segurança da moeda americana.
A aversão aos investimentos de risco ganhou ainda mais força na semana passada, após o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmar a terceira elevação seguida de 0,75 ponto percentual no custo do crédito, sem dar sinais de que a batalha contra a inflação está perto do fim.
Às 13h45, o dólar comercial à vista avançava 3,04%, cotado a R$ 5,4080 na venda. A moeda americana também avançava contra outras divisas.
O índice que compara o dólar com uma cesta de moedas da principais economias renovava a sua pontuação máxima desde 2002 nesta tarde.
"Essa disparada do dólar no Brasil está majoritariamente ligada ao movimento no exterior", afirmou Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
Quartaroli destacou ainda declarações de representantes no Fed que, nesta segunda, voltaram a subir o tom sobre a necessidade de ampliar ainda mais o custo do crédito para forçar a queda da inflação.
Susan Collins, a nova presidente do Federal Reserve de Boston, disse que está comprometida em reduzir a inflação para 2%, mesmo que isso signifique desacelerar a economia.
Com peso menor na avaliação do mercado, a chegada da última semana da campanha eleitoral no Brasil antes do primeiro turno também pode ter ampliado a percepção de investidores sobre os riscos domésticos. "Talvez por isso o real esteja caindo um pouco mais", diz Quartaroli.
Nos mercados de ações, o índice brasileiro Ibovespa perdia 2,13%, aos 109.338 pontos, e tinha um dos piores desempenhos entre as principais Bolsas de Valores. A pesar disso, o indicador doméstico acumula ganhos na casa de 4% neste ano, enquanto a maior parte dos mercados cai em 2022.
Na madrugada desta segunda na Ásia, a libra esterlina caiu 4,7% ante o dólar, o menor nível da história, em reação ao maior pacote de corte de impostos em 50 anos, anunciado pelo novo ministro das Finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng.
Na sexta-feira (23), o dólar também disparou contra o real, acompanhando movimento de forte aversão a risco nos mercados financeiros internacionais conforme a perspectiva de juros crescentes nas principais economias alimenta temores de recessão. O pessimismo provocou queda generalizada das Bolsas e o petróleo desceu ao seu menor preço desde janeiro.
No câmbio brasileiro, o dólar comercial à vista avançou 2,64%, a R$ 5,2480 na venda. Apesar da desvantagem nesta sexta, o real ainda acumula cerca de 6% de ganhos sobre o dólar em 2022.
Na comparação com as principais moedas mundiais, a americana saltou 1,5%. Isso ampliou para 18% a vantagem da divisa dos Estados Unidos sobre essa cesta de moedas neste ano.
A força do dólar ainda levou o euro a renovar a sua menor cotação diária frente à divisa americana em 20 anos. A moeda comum europeia terminou o dia valendo US$ 0,9695.
Dia após dia o euro vem caindo e, desde o início do ano, já perdeu mais de 14% do seu valor em relação ao dólar.
No mercado de câmbio doméstico, o euro comercial subiu 1,11% frente ao real nesta sexta, cotado a R$ 5,0875.
Na Bolsa de Valores do Brasil, o índice Ibovespa mergulhou 2,06%, aos 111.716 pontos. O mercado local acompanhou os tombos das principais Bolsas. A de Nova York caiu 1,72%, considerando a variação do indicador de referência S&P 500.
Parte importante da queda da Bolsa brasileira pode ser atribuída ao tombo de 6,26% das ações da Petrobras, uma das empresas com maior peso na composição do Ibovespa.
A estatal petrolífera foi prejudicada pela forte desvalorização da matéria-prima que produz. O preço do petróleo Brent, referência para esse mercado, afundou 4,67%. A cotação de US$ 86,23 (R$ 450,56) por barril é a menor desde janeiro deste ano.
Diferente do que ocorreu nas principais Bolsas na semana passada, porém, o mercado acionário doméstico obteve uma alta semanal de aproximadamente 2,23%. Nova York acumulou queda de 4,65% em cinco dias. O índice que acompanha 50 grandes empresas da Europa tombou 4,42. Hong Kong perdeu 4,34%.
Analistas atribuem a resistência do Ibovespa e do real à percepção de investidores de que a política monetária brasileira está obtendo sucesso no controle da inflação, embora permaneça no radar do mercado o risco fiscal provocado pelo aumento de gastos públicos do governo federal às vésperas da eleição.
Na semana passada, o Banco Central do Brasil confirmou o fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros, embora o país ainda esteja longe de atingir suas metas de inflação. O BC manteve o patamar de 13,75% ao ano para a Selic.
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