SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) demitiu nesta segunda (26) seu presidente, Mauricio Claver-Carone, após uma investigação concluir que ele manteve uma relação íntima com uma funcionária, desrespeitando as normas da instituição.
Ele já havia negado as alegações, criticando a investigação por não "atender aos padrões internacionais de integridade".
Segundo o jornal Financial Times, a consultoria independente feita pelo escritório de advocacia Davis Polk concluiu que Claver-Carone já tinha um relacionamento com a mulher anteriormente e que ele teria violado as políticas do banco ao tomar ações para beneficiá-la na organização.
Entre os indícios coletados pela consultoria, estão custos "excessivos" de diárias de hotéis em viagens oficiais com a funcionária, e retaliação a membros do BID que reportaram a relação entre os dois.
A vice-presidente executiva do banco, Reina Irene Mejia, de Honduras, assumiu a presidência temporariamente até que um sucessor seja escolhido.
NOME DE TRUMP PARA BANCO DE DESENVOLVIMENTO LATINO
Advogado americano de ascendência cubana, ele chegou ao posto de chefe da principal fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e Caribe rompendo com a tradição de ser latino.
O BID, criado em 1959 pela OEA (Organização dos Estados Americanos), teve antes de Claver-Carone quatro presidentes: o chileno Felipe Herrera (1960-1970), o mexicano Antonio Ortiz Mena (1970-1988), o uruguaio Enrique Iglesias (1988-2005), e Luis Alberto Moreno (2005-2020), da Colômbia.
Antes de ser indicado, Mauricio Claver-Carone foi assessor de segurança nacional da Casa Branca do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele era conhecido por sua forte oposição a Havana e Venezuela.
Sua eleição, em setembro de 2020, contou com 67% dos votos dos acionistas e o apoio de 23 dos 28 países da região. À época, foi vista como uma vitória de Trump, mas gerou críticas: Argentina, Chile, México, Peru e Trinidad e Tobago se abstiveram de votar.
POSIÇÃO EM RELAÇÃO À CHINA
Uma das desconfianças em relação a Claver-Carone era como ele veria a China no BID, especialmente porque Trump tinha uma forte retórica anti-Pequim. Para a América Latina, os planos de Claver-Carone incluíam um "pan-americanismo", segundo entrevista concedida à AFP após sua posse.
"A China desempenha um papel importante no comércio internacional, mas é um país distante das Américas e totalmente controlado por um Estado. Portanto, o que buscamos é realizar o sonho do pan-americanismo, que existe desde antes da China ser uma potência econômica. A China nunca vai suplantar a relação entre os países das Américas, mas vai preencher as lacunas existentes. E isso é válido competitivamente! Não podemos ficar com raiva da China por isso, mas de nós mesmos por termos deixado o vácuo", argumentou.
TENSÃO COM ARGENTINA
A situação econômica da Argentina foi uma das pautas mais tensas na gestão de Claver-Carone frente ao BID.
O país acusava o banco de ter congelado US$ 600 milhões desde que Alberto Fernández, presidente argentino, questionou a gestão do BID durante a Cúpula das Américas, em junho.
O Banco, por sua vez, afirmou que não podia aprovar novos fundos se o país não cumprisse com os compromissos de melhorar suas condições macroeconômicas.
Em carta ao editor publicada pelo Wall Street Journal, Mauricio Claver-Carone afirmou que o banco tinha o "dever de ajudar membros como a Argentina", mas também estaria "ansioso para que a Argentina cumpra seus compromissos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para melhorar as condições macroeconômicas".
A Argentina, que enfrenta um cenário de inflação em alta e moeda em mínimas históricas em relação ao dólar, já tem um acordo de US$ 44 bilhões com o FMI.
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