SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar avançava logo após a abertura desta quarta-feira (28), operando confortavelmente acima de R$ 5,40, à medida que investidores do mundo inteiro davam sequência a movimento de busca por segurança em meio ao persistente medo de que aumentos de juro muito agressivos nas principais economias levem a uma recessão global.

No Brasil, colaborava para a cautela a aproximação das eleições presidenciais de domingo.

Às 9h02 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,70%, a R$ 5,4151 na venda.

Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,64%, a R$ 5,4190.

Nesta terça-feira (27), as negociações no mercado financeiro terminaram mais uma vez demonstrando a preocupação de investidores com o rumo da crise inflacionária mundial.

No Brasil, o dólar comercial fechou em leve alta de 0,03%, cotado a R$ 5,3780, depois de ter disparado quase 2,5% na véspera. Na Bolsa de Valores, o índice parâmetro Ibovespa caiu 0,68%, aos 108.376 pontos. É a terceira queda consecutiva do indicador, mas ele ainda acumula alta de 3,4% neste ano.

Investidores domésticos chegaram a demonstrar otimismo no início do dia diante de um IPCA-15 (prévia da inflação oficial) de setembro mais baixo do que o esperado e de uma ata da reunião de política monetária do Banco Central que apenas confirmou a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% por um longo período.

Turbulências vindas do exterior, porém, pesaram no fechamento do mercado doméstico após autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) reafirmarem a intenção de elevar taxas de juros.

Neel Kashkari, presidente do Federal Reserve de Minneapolis, reforçou em entrevista ao The Wall Street Journal que "o aperto [alta dos juros] está nos planos" para frear a inflação e reconheceu que há o risco de que o banco central exagere.

Economistas e analistas em geral concordam que elevar juros é uma medida importante para conter a inflação, pois o descontrole dos preços tem efeito devastador para a economia. É o risco de exagero, no entanto, que assusta o mercado, pois pode conduzir o mundo a uma recessão.

No exterior, a libra esterlina voltou a cair em relação ao dólar, mantendo-se no menor patamar desde 1985. A moeda britânica fechou valendo US$ 1,0687.

A libra vem caindo de forma mais acentuada nesta semana devido à repercussão negativa do maior pacote de corte de impostos em 50 anos, anunciado na semana passada. Além de revelar a preocupação do governo com a possibilidade de uma recessão, a medida vai na contramão da política monetária do banco central do país.

Na Bolsa de Nova York, o índice referência S&P 500 caiu 0,21% nesta terça. O Dow Jones, indicador que acompanha as ações de 30 das maiores empresas do país, cedeu 0,43% e renovou a pontuação mínima do ano (29.134 pontos).

Com uma queda anual acumulada de 19,82% neste ano, o Dow Jones está perto do chamado "bear market", o mercado do urso, em referência ao animal cuja patada derruba o que está pela frente. O termo é usado para definir uma queda anual de 20% ou mais.

Quando as ações sobem, o animal de referência é o touro, que arremessa para cima tudo o que ataca. É o "bull market".

Este é um momento em que investidores preferem tirar dólares de investimentos mais arriscados, como mercados de ações e aplicações em países emergentes, para buscar proteção nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Além de seguros, os títulos soberanos dos EUA estão ainda mais atraentes diante da perspectiva de continuidade do aumento da taxa de crédito no país. O rendimento médio até o vencimento dos títulos de dez anos, referência para o mercado de juros americano, está perto dos 4% e vem renovando máximas.

O movimento torna a moeda americana mais escassa e cara em outras partes do mundo.

Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmou a terceira elevação seguida de 0,75 ponto percentual no custo do crédito, sem dar sinais de que a batalha contra a inflação está perto do fim.