SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar caiu contra as principais moedas mundiais e os maiores mercados de ações do planeta apresentaram forte alta nesta quarta-feira (28) com a reação positiva de investidores ao anúncio do Banco da Inglaterra, a autoridade monetária do Reino Unido, de que compraria títulos do governo britânico em qualquer quantidade necessária para estabilizar o mercado.
O índice que compara a moeda dos Estados Unidos aos seus principais pares recuou 1,21%, na sua primeira queda em mais de uma semana.
No Brasil, o dólar comercial fechou negativo em 0,52%, cotado a R$ 5,3500, depois de ter disparado acima dos R$ 5,42 no início do pregão.
Libra e euro, que acumulam fortes quedas neste ano contra o dólar, fecharam com altas acentuadas. A moeda britânica avançou 1,73%, a US$ 1,0861.
Essa foi a primeira alta após nove quedas consecutivas. Ainda assim, a perda acumulada neste ano em relação ao dólar é de 17,82%. O euro ganhou 1,25% e foi a US$ 0,9702, na primeira alta da divisa comum europeia após sete sessões em baixa.
Enquanto isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos com vencimento em dez anos, referência para o mercado global de juros, recuaram para a casa dos 3,7% após terem rompido a barreira dos 4%.
Esse movimento mostra investidores diminuindo ligeiramente suas posições em dólar e procurando outras moedas e ativos excessivamente desvalorizados.
Jaime Valdivia, economista-chefe internacional da Galapagos, comentou que, diante do contexto de pressão inflacionária, as medidas anunciadas pelo Banco da Inglaterra são difíceis de explicar e de entender.
Ele avalia, porém, que a autoridade monetária britânica pode ter considerado que precisava colocar dinheiro à disposição do mercado para "evitar movimentos tão abruptos que seriam capazes de desestabilizar o mercado financeiro em geral", disse.
WALL STREET SALTA E IBOVESPA TEM DIA DE CAUTELA COM ELEIÇÃO
Os mercados de ações, que apresentaram volatilidade ao longo do dia, terminaram no azul. Na Bolsa de Valores brasileira, o índice Ibovespa subiu apenas 0,07%, aos 108.451 pontos.
Alguns analistas consideraram que o mercado local foi cauteloso devido à aproximação da votação do primeiro turno das eleições e, por isso, não embarcou no otimismo de Wall Street.
Em Nova York, o índice parâmetro S&P 500 saltou 1,97%. Dow Jones e Nasdaq ganharam 1,88% e 2,05%, respectivamente.
"O mercado está bem agitado, mas houve uma melhora, que é basicamente uma cobertura de short, já que o mercado está muito vendido, e também veio com a iniciativa do Banco da Inglaterra de fazer uma recompra de títulos da dívida", comentou Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.
Short ou operar vendido são jargões do mercado financeiro para retratar um tipo de operação em que o investidor ganha se os ativos contra os quais ele apostou caírem.
Em cenários de expectativa de crise financeira, investidores tendem a fazer com mais frequência esse tipo de negócio, também chamado de venda a descoberto.
Silva explica que a decisão do banco central inglês serve apenas para acalmar momentaneamente o mercado com uma injeção de recursos, estabilizando o preço da moeda do país. "Na verdade ele elimina um risco sistêmico. Seria equivalente ao Banco Central do Brasil vender dólar em momentos de estresse."
Dawson Cameron, diretor de Investimentos da NewEdge, disse à Bloomberg que o movimento positivo visto nesta quarta deve ser de curto prazo. "Qualquer rali [corrida para compra de ativos] será provavelmente recebido com ceticismo devido aos ventos contrários", comentou.
A libra vinha caindo de forma mais acentuada nesta semana devido à repercussão negativa do maior pacote de corte de impostos em 50 anos, anunciado na semana passada.
Além de revelar a preocupação do governo com a possibilidade de uma recessão, a medida vai na contramão da política monetária do banco central do país, que vem subindo juros para frear a alta dos preços.
Este é um momento em que investidores preferem tirar dólares de investimentos mais arriscados, como mercados de ações e também de aplicações em renda fixa de mercados, para buscar proteção nos títulos do Tesouro de países com moedas fortes.
Diante do agravamento da crise inflacionária na Europa, principalmente diante das ameaças provocadas pela Guerra da Ucrânia, há um forte movimento de migração de investidores para os títulos soberanos dos Estados Unidos, considerados à prova de calotes.
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