RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, afirmou nesta quinta-feira (29) não acreditar que um eventual governo Lula (PT) tente reestatizar a companhia, privatizada em operação de capitalização que foi alvo de protestos e questionamentos judiciais de sindicatos e da oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em sua primeira entrevista após o retorno ao comando da empresa, o executivo argumentou que, além do alto custo para recompra de ações, a melhoria na capacidade de investimento da companhia interessa ao país.
"Eu não creio que haja mudança, não", afirmou. "O governo tem uma participação relevante na empresa, e acredito que interesse mais ter participação numa empresa que invista no Brasil."
No processo de privatização, o governo emitiu novas ações para investidores privados, reduzindo sua participação na estatal para 29%. O processo incluiu uma cláusula, conhecida como "poison pill", que dificulta a recuperação da posição majoritária.
"Se quiser dar passo para trás, reestatizar, isso vai custar. E, no caso específico da Eletrobras, o poison pill é quase três vezes o valor negociado na Bolsa", alegou. "Não tem sentido econômico, o governo tem um desafio fiscal fabuloso."
Ferreira Junior disse que a Eletrobras já iniciou um processo de revisita à sua estratégia, que inclui cinco pilares de criação de valor: comercialização de energia no mercado livre, redução de custos e despesas, perspectiva de crescimento, redução de passivos e eficiência tributária.
Os caminhos para atingir esses objetivos devem começar a ser detalhados em novembro, quando a companhia divulgar o balanço do terceiro trimestre. Nesta quinta, porém, Ferreira Junior antecipou algumas decisões.
Para reduzir custos, um novo plano de demissão voluntária será lançado em novembro, com foco em empregados com idade para se aposentar. Nos últimos anos de estatal, também sob o comando de Ferreira Junior, a empresa reduziu seu quadro de funcionários de 26 mil para menos de 12 mil pessoas.
A companhia manterá também esforço para simplificar sua estrutura acionária, que tem quatro subsidiárias e participação em diversos projetos de geração e transmissão de energia pelo país. As subsidiárias, porém, não serão fechadas, disse o executivo, pela sua relevância regional.
Ferreira Junior diz que a companhia deve direcionar sua estratégia de crescimento às áreas que hoje são o foco de sua atividade: geração de energia renovável e transmissão. Leilões do governo devem ser o principal caminho para o crescimento as participações devem ser majoritárias.
"Não somos, a partir de agora um investidor financeiro, portanto não temos interesse em participações minoritárias, sejam participações acionárias, sejam SPEs [Sociedades de Propósito Específico]", disse o presidente da ex-estatal.
Outro foco é a migração para o Novo Mercado da B3, que melhora as condições de financiamento das empresas. O processo depende da unificação das duas classes de ações da companhia e a perspectiva é que seja concluído no primeiro semestre de 2023.
A companhia e seu conselho de administração ainda vão debater estratégia antes de avançar na distribuição de dividendos adicionais, disse Ferreira Junior. A tendência é que nos primeiros trimestres o investimento seja priorizado sobre a remuneração aos acionistas.
O presidente da Eletrobras defende que, em sua primeira passagem pela companhia, pegou uma empresa com grande dificuldade financeira e prejuízos bilionários. Agora, com as contas em dia e livre das amarras estatais, tem maior capacidade de investimento.
"Qualquer governo que venha a ser desenhado vai encontrar uma companhia completamente diferente. Uma companhia desalavancada, com a possibilidade de se colocar como uma das mais eficientes, exemplo de governança, capacidade para investir e atender o crescimento do Brasil", afirmou.
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