BRASÍLIA, DF - RIO DE JANEIRO, RJ - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Eneva foi o destaque no leilão de térmicas a gás, na modalidade de reserva de capacidade, que ocorreu nesta sexta-feira (30). O certame, que atende a exigência de contratação de usinas a gás prevista na lei de privatização da Eletrobras, não conseguiu negociar nem metade da energia ofertada.
No total, foram fechados 754 MW (megawatts) para região Norte, 75% da oferta. Não foram feitos lances para a região Nordeste.
Prevaleceu o preço teto de R$ 444 por MWh (megawatt-hora), sem deságio. Os investimentos previstos somam R$ 4,1 bilhões.
A Eneva saiu vencedora com as usinas Azulão 2 e 4, que vão cobrir a oferta de pouco mais da metade da energia contratada para o Norte, 590,9 MW.
A GPE (Global Participação em Energia) fez uma oferta menor, de 162,9 MW, com a termelétrica Manaus 1.
Foram oferecidos no leilão um total de 2 GW (gigawatts) de termelétricas a gás, sendo 1 GW em áreas metropolitanas da região Norte, com entrega a partir de dezembro de 2026, e outro 1 GW de projetos no Nordeste, 700 MW no Piauí e 300 MW no Maranhão, que devem estar gerando energia a partir de dezembro de 2027. Os contratos são de 15 anos.
Os 2 GW do certame desta sexta fazem parte de um total de 8 GW em projetos a gás que precisam ser instalados. A exigência foi inserida pelos parlamentares na MP (medida provisória) de privatização da Eletrobras durante a tramitação do texto. Como não têm nenhuma relação com a desestatização, o projeto de expansão de térmicas a gás ficou conhecido como jabuti da Eletrobras.
O uso do gás na expansão da geração de energia elétrica não é consensual. O gás já responde por 25% da geração de energia no Brasil, mas boa parte dos especialistas argumenta que ele não é insumo para a transição energética no país em que predomina a produção hídrica e tem alto potencial para o avanço de outras fontes renováveis. O momento seria dos investimentos em energia solar e eólica, mais limpas e baratas. Outros defendem que essas usinas podem garantir o abastecimento em períodos de instabilidade climática.
A oposição é ainda maior às térmicas exigidas na lei de privatização da Eletrobras. Especialistas questionam a falta de racionalidade técnica, pois devem obrigatoriamente ser instaladas onde não há gás ou grande mercado consumidor, o que exige investimento em infraestrutura de transporte do insumo e transmissão da energia.
A frustração no resultado reforça a oposição a essas usinas. A Frente Nacional dos Consumidores de Energia, por exemplo, tem entre suas metas convencer a nova leva de parlamentares e rever a lei da Eletrobras para retirar a obrigatoriedade de construção das demais usinas.
Na terça-feira (26), o Instituto Internacional Arayara entrou com ação civil na Justiça Federal em Brasília na tentativa de suspender o leilão. A entidade alega na ação que a exigência dos 8 GW de térmicas a gás na lei de privatização da Eletrobras é inconstitucional, e que há jurisprudência nesse sentido. Também questiona os custos financeiros e ambientais das usinas.
Um silencioso embate jurídico foi travado na Justiça da capital. A PGR (Procuradoria-Geral da União) defendeu a realização do certame. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a Eneva também acionaram suas áreas jurídicas.
A Justiça não se manifestou até a publicação deste texto.
ENEVA VIVEU REVIRAVOLTA NOS NEGÓCIOS
A Eneva é a maior operadora privada do Brasil de gás natural em terra --on shore, como se diz no jargão do setor. Atua com 11 campos de gás natural nas bacias do Parnaíba (MA) e Amazonas (AM). Sua área de concessão nesses estados supera 60 mil quilômetros quadrados.
Tem usinas a gás em Maranhão, Ceará e Roraima. Ao mesmo tempo, atua no segmento de energia renovável. Entre seus empreendimentos está o Parque Solar Futura, em Juazeiro (BA).
Seu parque de geração soma 5,6 GW de capacidade instalada e projetos em fase de construção.
Antiga MPX, empresa de energia criada pelo empresário Eike Batista, a Eneva agora tem entre os acionistas investidores financeiros. Lanx Capital (18,28%) e BTG (17,21%) são os principais, mas também há participação de Dynamo Administração (5%), Atmos Capital (4,73%), Vanguard Group (2,75%), CSHG Asset (2,20%), BlackRock (1,62%), entre outros.
Após mudanças de acionistas e gestores, bem como percalços financeiros, o que inclui pedido de recuperação, a Eneva se reergueu. Encerrou 2021 com um lucro de R$ 1,1 bilhão.
Ações sobem na Bolsa após leilão Logo após o leilão, as ações ordinárias da companhia (ENEV3) subiam 1,73% na B3, a Bolsa brasileira, pouco acima do Ibovespa. Por volta das 11h30, a empresa registrava a quarta maior alta da Bolsa e também ocupava a terceira posição em volume de negociações. Em volume, a empresa está à frente de ações com liquidez razoável, como o Magazine Luiza.
Na quinta (29), os papéis tiveram alta de 1,33%, dia em que o Ibovespa fechou em baixa de 0,80%, pressionado pelo temor de recessão que domina o mercado global de ações. Foi a primeira alta após quatro baixas diárias, que acumulavam queda de 10% no período. No ano, os papéis sobem 2,12%.
A companhia está na lista do Novo Mercado e integra o seu principal índice, o Ibovespa.
A avaliação dos analistas é que com essa nova rodada de usinas a Eneva reforça o uso do gás de suas reservas ao Norte, que vai se refletir positivamente nas ações da companhia.
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