RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Enquanto o governo pressiona a Petrobras a segurar reajustes, a defasagem entre os preços internos dos combustíveis e as cotações internacionais atingiu os dois dígitos nesta segunda-feira (10). No caso do diesel, é a maior diferença desde 16 de junho, antes do último aumento dado pela estatal.

Na abertura do mercado desta segunda (10), o preço médio da gasolina nas refinarias brasileiras estava R$ 0,36 por litro, ou 10%, abaixo da paridade de importação, conceito que simula quanto custaria importar o combustível.

No caso do diesel, a diferença medida pela Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis) era de R$ 0,75 por litro, ou 13%. Em junho, quando a defasagem atingiu esse patamar, a Petrobras aumentou o preço do combustível em 14,2%.

Sem as amarras do governo, a Refinaria de Mataripe, única refinaria privada do país, decidiu repassar, no sábado (8), a alta das cotações do petróleo para os preços da gasolina e do diesel. O preço da gasolina foi elevado em 9,7% e o do diesel S-10, em 11,3%.

A empresa diz que seus preços "seguem critérios de mercado, que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete, podendo variar para cima ou para baixo".

A Petrobras, por sua vez, ainda resiste a dar aumento, pressionada pelo temor do governo em gerar notícias negativas para a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). A estatal teve papel importante durante o primeiro turno, com anúncios de cortes de preços quase semanalmente.

Após semanas de queda com temores sobre recessão global, as cotações voltaram a subir na semana passada com a decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de cortar a produção em 2 milhões de barris por dia.

Os preços internos dos combustíveis já estavam abaixo das cotações internacionais desde o fim de setembro, mas as defasagens dispararam nos últimos dias.

Até então, o petróleo em queda vinha ajudando a estatal a contribuir com notícias positivas para a campanha, passando inclusive a divulgar mudanças de preços em produtos que antes não tinham divulgação, como o querosene de aviação e o asfalto.

A estratégia foi criticada pela oposição e por representantes dos acionistas minoritários, pelo uso eleitoral da companhia, que vem sofrendo também com o afrouxamento de sua governança e passou a acomodar aliados do governo em seu alto escalão na gestão Caio Paes de Andrade.

Controlada pelo fundo árabe Mubadala desde dezembro, a Refinaria de Mataripe tem sido mais veloz do que a Petrobras para repassar as variações das cotações internacionais aos preços de seus produtos, o que lhe rendeu críticas no início do ano, quando o petróleo subia no mercado internacional.

"A empresa possui uma política de preços transparente, amparada por critérios técnicos, em consonância com as práticas internacionais de mercado", disse, em nota, a Acelen, empresa criada pelo Mubadala para gerir a refinaria.


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