SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Empresários e comerciantes da cidade de Jussara, em Goiás, foram surpreendidos na semana passada ao ver seus nomes em uma lista que pedia boicote a negócios administrados por supostos eleitores de Lula (PT). Da loja de automóveis à de lingeries, foram poucos os ramos que passaram incólumes pelo levantamento.
Intitulada "Lista atualizada de empresários, bancários, pecuaristas, candidatos, prestador de serviço etc... jussarensses petistas", a peça, que circula via WhatsApp, é atribuída ao empresário bolsonarista Rafael Rebouças. Ele está à frente da Madeireira Rebouças, sediada no município goiano, localizado a cerca de 220 km da capital.
"Essa lista aí é pra gente ficar sabendo quem são os petistas de Jussara, principalmente os empresários. Ainda mais aqueles que seus clientes são fazendeiros, né? E, quem souber, vai falando aqui no grupo que eu vou adicionando na lista. Eu, principalmente, não compro mais de comerciante petista", teria afirmado Rafael Rebouças em um áudio, compartilhado por meio do aplicativo de mensagens.
"Quem quiser aderir, não compramos de petista. Até do Banco do Brasil eu tirei a conta da empresa, [e a] física, porque lá é um ninho de petista", continua. Procurado pela coluna, Rafael Rebouças não respondeu ou retornou aos contatos feitos por mensagem e telefone.
O empresário e presidente do MDB em Jussara, Clezio Ascêncio Dias, é um dos que foram pegos de surpresa ao ver seu nome circulando entre moradores da cidade de cerca de 19 mil habitantes. "Todo mundo ficou indignado", diz ele à Folha de S.Paulo.
O emedebista, que atua no ramo de terraplanagem e declara voto em Lula, diz já ter notado a diferença de tratamento por parte de alguns de seus clientes. "Se vou fazer um negócio, a pessoa pergunta em quem eu voto. Se for o Lula, dependendo da pessoa, não te contrata", afirma.
Clezio diz considerar a situação "inusitada", uma vez que a iniciativa contra empresários teria partido de alguém que também atua na mesma categoria. "Para os empresários bolsonaristas, tudo. Para o resto, nada", afirma ele. "Os outros, que quebrem", acrescenta.
Na avaliação do emedebista, empresários próximos do agronegócio são os que mais podem sofrer os efeitos negativos da ofensiva iniciada no WhatsApp. Mas não só. "Agora mesmo estava falando com um rapaz que tem feirinha, vende espetinho, e ficou preocupado", afirma.
No primeiro turno deste ano, o candidato petista à Presidência teve 4.281 votos em Jussara, ante 5.800 de Jair Bolsonaro, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Apesar de proximidade entre os dois candidatos, Clezio Ascêncio Dias diz ver uma movimentação maior de bolsonaristas do que de lulistas pela cidade. "O pessoal patrocina gasolina, faz aquele barulho imenso, colocam adesivo [do Bolsonaro]. Mas se você colocar adesivo do Lula, seu carro pode ser riscado."
O presidente do MDB em Jussara se uniu a mais cinco pessoas para entrar com uma ação contra o empresário bolsonarista por danos morais. Uma denúncia contra a lista virtual já foi registrada junto à Justiça eleitoral, segundo ele.
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