SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo de 106 pesquisadores vinculados ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério da Economia, divulgou um manifesto em que defende o voto no ex-presidente Lula (PT) na eleição do próximo domingo (30).

O órgão foi alvo de denúncias de ingerência política na atual gestão e chegou a divulgar comunicado no qual ameaçava punir pesquisadores que divulgassem estudos sem autorização do comando da instituição.

Recentemente, os servidores do Ipea também questionaram o uso político do órgão, com o lançamento de estudos, em período eleitoral, que não obedeceram ao rigor técnico-científico que pauta o processo de publicação de trabalhos na casa, afirmam os signatários.

Em março, foi feita troca no comando da instituição, com o objetivo de obter maior integração entre a atuação do órgão e a agenda econômica do governo Bolsonaro.

Em agosto, o novo presidente da instituição contestou pesquisas recentes que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome. Servidores encaminharam à Procuradoria Regional da República pedido de investigação por possíveis práticas abusivas.

Divulgado nesta quinta (27), o documento "Grupo de ipeanas e ipeanos em defesa da democracia, das instituições e do Estado" também faz críticas à proposta de reforma administrativa do atual governo, às políticas de combate à pandemia e aos ataques ao Judiciário, entre outros pontos.

"Não compactuamos com o crescente desmonte das políticas públicas e a consequente falta de acesso aos direitos sociais. Não compactuamos com as ameaças às instituições e o risco à democracia que estamos presenciando diuturnamente", diz o documento.

"Neste contexto, o único caminho possível para a reconstrução do Estado e da democracia, para a defesa dos direitos e o fortalecimento das instituições públicas é a eleição de Lula/Alckmin."

Veja a íntegra do documento Grupo de Ipeanas e Ipeanos em defesa da democracia, das instituições e do Estado

Nos últimos anos temos acompanhado diversas tentativas de reduzir o papel do Estado e desacreditar as carreiras públicas com o objetivo de construir um Estado mínimo, cuja atuação não estaria voltada para a defesa dos direitos da população. Não há reconhecimento da importância dos servidores públicos para garantia dos serviços que beneficiam a população.

A proposta de Reforma Administrativa, contida na PEC 32/2020, é uma das expressões dessas tentativas. Com o argumento da eficiência e do combate aos privilégios, a PEC atua apenas na base do Executivo, enfraquecendo as carreiras públicas e, consequentemente, enfraquecendo o próprio Estado. Este ataque ao setor público impacta não apenas o funcionamento e oferta de serviços, mas também a garantia de direitos dos povos indígenas, quilombolas, bem como o enfrentamento da violência contra as mulheres, contra a população LGBTQIA+ e contra a população negra.

Este ataque se dá também por meio do assédio institucional, que tem atingido um número cada vez mais expressivo de servidores públicos, fenômeno já analisado e descrito em livro publicado sobre o tema pela Afipea, em 2021, que evidencia como um conjunto de políticas públicas vêm sendo desmontadas ao longo dos últimos anos e discute casos de assédio em vários órgãos.

Recentemente, os servidores do Ipea questionaram, por meio de sua Associação, o uso político do órgão, por ocasião do lançamento de estudos, em período eleitoral, que não obedeceram ao rigor técnico-científico que pauta o processo de publicação de trabalhos na Casa.

O ataque é dirigido também à ciência, como ficou evidenciado pela condução desastrosa da pandemia, com a defesa de medicamentos comprovadamente ineficazes, a adoção de posição contrária às medidas de distanciamento social e a demora na aquisição de vacinas que custaram milhares de vidas; pela rotineira e inaceitável asfixia financeira das universidades e instituições de pesquisa; e, mais recentemente, pelo boicote à nomeação da médica e professora Deisy Ventura, indicada para assumir uma cadeira no Comitê de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS).

São preocupantes as críticas ao STF. Nos preocupam, também, o peso que o orçamento secreto ganhou e a pouca transparência na aplicação desses recursos. É fundamental fortalecer as bases do Estado Democrático de Direito.

Por tudo isso, nós, pessoas físicas lotadas e aposentadas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fazemos questão de nos posicionar. Não compactuamos com o crescente desmonte das políticas públicas e a consequente falta de acesso aos direitos sociais. Não compactuamos com as ameaças às instituições e o risco à democracia que estamos presenciando diuturnamente. Entendemos que, neste contexto, o único caminho possível para a reconstrução do Estado e da democracia, para a defesa dos direitos e o fortalecimento das instituições públicas é a eleição de Lula/Alckmin.

Subscrevem:

1. Acir Almeida

2. Adroaldo Quintela Santos

3. Alexandre Arbex

4. Alexandre dos Santos Cunha

5. Alexandre Gomide

6. Ana Amélia Camarano

7. Ana Cleusa Mesquita

8. Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa

9. Ana Paula Moreira da Silva

10. André Calixtre

11. André de Mello e Souza

12. André Pineli

13. André Rego Viana

14. Andrea Barreto de Paiva

15. Antonio Carlos de Rezende

16. Antonio Lassance

17. Antonio Teixeira

18. Aristides Monteiro Neto

19. Brancolina Ferreira

20. Carlos Octávio Ocké Reis

21. Carolina Pereira Tokarski

22. Cecília Bartholo de Oliveira

23. Claudia Regina Baddini Curralero

24. Claudio Amitrano

25. Cleandro Krause

26. Daniel Avelino

27. Daniel Cerqueira

28. Danilo Santa Cruz Coelho

29. Edmir Simões Moita

30. Elizabeth Marins

31. Enid Rocha Andrade da Silva

32. Erivelton Pires Guedes

33. Ernesto Pereira Galindo

34. Eustáquio Reis

35. Fábio Alves

36. Fabio de Sa e Silva

37. Fábio Ribeiro Servo

38. Felix Lopez

39. Fernanda De Negri

40. Fernanda Lira Goes

41. Fernando Gaiger Silveira

42. Francisco Moraes da Costa Marques

43. Frederico A. Barbosa da Silva

44. Gesmar Rosa dos Santos

45. Guillherme Delgado

46. Gustavo Luedemann

47. Helder Rogério Sant'Ana Ferreira

48. Janine Mello

49. Joana Costa

50. Joana Luiza Oliveira Alencar

51. Joana Mostafa

52. João Alberto De Negri

53. João Cláudio Basso Pompeu

54. José Celso Cardoso Jr

55. José Valente Chaves

56. Katya Maria Nasiaseni Calmon

57. Leandro Freitas Couto

58. Lenita Turchi

59. Liliana Simões Pinheiro

60. Luana Pinheiro

61. Luseni Aquino

62. Luciana Jaccoud

63. Luciana Mendes Santos Servo

64. Marcelo Galiza Pereira de Souza

65. Marco Antonio Carvalho Natalino

66. Marco Aurélio Alves de Mendonça

67. Marco Costa

68. Marcos Hecksher

69. Maria Martha de M. C. Cassiolato

70. Maria Paula Gomes dos Santos

71. Marina Esteves

72. Marina Nery

73. Maurício Galinkin

74. Mauricio Reis

75. Mauro Oddo Nogueira

76. Miguel Matteo

77. Milena Soares

78. Natália Koga

79. Pedro Ferreira de Souza

80. Pedro Miranda

81. Pedro Palotti

82. Persio Davison

83. Priscila Koeller

84. Raimundo da Rocha

85. Rafael Osório

86. Rafael Pereira

87. Raphael Rocha Gouvêa

88. Renato Balbim

89. Roberto Aricó Zamboni

90. Roberto Henrique Sieczkowski Gonzalez

91. Roberto Passos Nogueira

92. Roberto Rocha Coelho Pires

93. Rodrigo Benevides

94. Rodrigo Fracalossi de Moraes

95. Rodrigo Orair

96. Ronaldo Coutinho Garcia

97. Ronaldo Ramos Vasconcellos

98. Rute Imanishi Rodrigues

99. Salvador Teixeira Werneck Vianna

100. Sandra Silva Paulsen

101. Sandro Pereira Silva

102. Sandro Sacchet

103. Sergio Francisco Piola

104. Sergio Wulff Gobetti

105. Tulio Chiarini

106. Wilson de Oliveira Figueiredo


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