SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O cargo de novo ministro da Economia no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ser ocupado por um político petista que represente uma nova linha de pensamento dentro do partido.

A avaliação é de Lucas de Aragão, mestra em ciência política, professor de risco político da FGV (Fundação Getulio Vargas) e sócio da consultoria de análise política Arko Advice. Aragão espera a nomeação de um nome político que represente uma linha do "neo-PT" para assumir o cargo do ministério da Economia nas próximas semanas.

"Tem mais chance ser um político [no Ministério da Economia]", afirmou Aragão, durante evento promovido pela gestora de recursos do Bradesco nesta sexta-feira (4).

Os ex-governadores Rui Costa e Camilo Santana e o ex-ministro Alexandre Padilha foram citados pelo especialista entre os nomes que ele acredita com mais chances de assumirem o comando da Economia em 2023, com uma probabilidade ao redor de 60%.

Aragão estima 30% de chance de o ministro ser um nome mais pró-mercado, como Henrique Meirelles, ex-presidente do BC nos governos Lula 1 e 2. O especialista dá ainda 10% de probabilidade para um nome político mais ligado ao "PT raiz", como Aloizio Mercadante, Guido Mantega ou Nelson Barbosa.

Aragão prevê ainda que os dois primeiros ministros a serem conhecidos devem ser o da Economia e do Meio Ambiente - neste caso, para aproveitar o tema em voga por causa da COP27. "Acho que esses dois ministérios saem nos próximos 10, 15 dias."

Quando todos os cerca de 30 ministérios estiverem escalados -o que o analista prevê para meados de dezembro-, ele espera, no entanto, que o governo tenha "mais gente de fora do PT do que de dentro."

O cientista político da Arko Advice afirmou que, frente ao Congresso fragmentado, com um perfil mais à direita, acredita que o governo eleito irá "se apoiar muito no centro desde o início" para conseguir governar e aprovar as medidas que deseja. "[O governo Lula] vai ter que trazer o PSD, o MDB, o União Brasil."

Ainda segundo os cálculos do especialista, o governo petista deve iniciar o governo no ano que vem com uma base no Congresso com 139 parlamentares, com outros 177 independentes, oscilando entre uma aproximação maior com o bolsonarismo e um perfil mais centrista, e outros 200 de oposição.

Principal desafio é polarização extrema, diz Paulo Hartung Também presente no painel, para Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, o maior desafio do governo Lula a partir de 2023 é lidar com um país bastante polarizado.

"Eu faço política desde a redemocratização, participei do processo de democratização, e nunca vi nada parecido com isso que estamos vivendo, esse nível de divisão no país", afirmou Hartung. "Se tiver que elencar o maior desafio do país hoje, é essa divisão."

Ele disse que a liderança que assume esse país fragmentado precisa estar consciente sobre os desafios que o aguardam, até porque a "autorização que vem dessa eleição é muito limitada".

"Se o líder não tiver consciência disso, [ele vai] tropeçar nas próprias pernas", afirmou Hartung, acrescentando que o presidente eleito precisa descer do palanque e fazer sinalizações que alcancem o maior número possível de eleitores.

"Tem uma tarefa de reunificar o país, pelo menos em parte, porque está dividido demais", disse o ex-governador.

Ele afirmou ainda que, embora a economia esteja rodando bem neste ano ano, para 2023 e 2024 o cenário se desenha mais desafiador, com limitações no Orçamento para abarcar os gastos com programas sociais. "Isso não foi discutido na campanha. A campanha foi absolutamente superficial em relação às questões do Brasil."

Hartung afirmou também que há aspectos positivos em escala global que podem ser benéficos ao país, como a própria repercussão positiva das eleições brasileiras no exterior. Segundo ele, uma reação tão positiva como a atual sobre o pleito no país só guarda alguma relação com a eleição de Tancredo Neves. "A repercussão é extraordinária."

Hartung fez menção ao início da COP27 nos próximos dias, e disse que a agenda ambiental pode colocar o Brasil de volta ao jogo. "A descarbonização é uma oportunidade para o país."

Ele disse ainda que as concessões em curso no setor de infraestrutura representam uma oportunidade, com projetos que devem movimentar um volume financeiro ao redor de R$ 50 bilhões nos próximos meses.

"Tem muita oportunidade em cima da mesa, mas os desafios que estão postos é de um exercício de liderança responsável. O presidente [Bolsonaro] já entendeu o jogo dele, que é jogar parado, e o futuro presidente tem que descer do palanque. Isso é uma tarefa fundamental."