SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A faixa etária dos 18 aos 24 anos é a que mais sofre para conquistar uma posição no mercado de trabalho no Brasil. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o índice de desocupação nesta idade ultrapassa os 19%, mais do que o dobro da média nacional, de 8,7%.

O drama é maior para os jovens de baixa renda, que muitas vezes não têm dinheiro para a condução e muito menos para uma internet de boa qualidade em casa, que os permitiria aumentar as chances de qualificação.

Concluído o ensino médio, muitos engrossam o grupo dos que não estudam, nem trabalham -time em que o Brasil é vice-líder mundial, só atrás da África do Sul. Mais de um terço (36%) da mão de obra brasileira dos 18 aos 24 anos não estuda ou trabalha, segundo relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Algumas iniciativas, porém, de Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), como o Instituto Aliança e o Instituto Proa, em parceria com empresas do setor privado, apoiam estes jovens na inserção no mercado de trabalho. O diferencial na abordagem deste público é a aposta no seu empoderamento e na indicação de perspectivas de futuro.

Confira algumas destas histórias:

Maiara Queiroz, 30 anos

Aos 23 anos, com ensino médio completo, Maiara já somava pouco mais de dez cursos no currículo. Achava que, quanto mais cursos acumulados, maior a chance de ser contratada. Mas não encontrava emprego. Já tinha distribuído currículos por boa parte de Salvador -a pé e a seco, para não gastar com condução ou com água. Só chegou ao Aliança por insistência do irmão, que viu o anúncio. Quando começou, se deslumbrou: nem parecia os cursos que ela já tinha feito antes. Tinha dinâmica de grupo, que permitia a cada um contar um pouco da sua história, dos seus temores e das suas expectativas. Venceu a timidez e aprendeu a olhar nos olhos das pessoas. E aprendeu que tudo bem se vierem mudanças, sempre dá para se adaptar --essa era uma das principais travas no seu desenvolvimento pessoal, nunca gostou de alterar o percurso. Um mês e meio depois de deixar o instituto, estava empregada na rede Bompreço, que faz parte do Carrefour, um dos parceiros do Aliança. Começou como operadora de caixa. Hoje, quase sete anos depois, é fiscal de atendimento, responsável por uma equipe de 18 jovens. "Foi na Escola Social do Varejo que descobri que liderar não é impor: é despertar no outro a vontade de fazer, de dar o seu melhor. É isso que eu procuro passar para a minha equipe: ter atitude, assumir o protagonismo da própria vida. Quem trabalha com paixão é sempre mais rico do que quem trabalha por dinheiro."

Gabriel Araújo dos Santos, 22 anos

Gabriel era estagiário em uma fábrica de peças plásticas. Ganhava R$ 350 por mês, por cinco horas ao dia. Mas não se sentia motivado, muito menos valorizado: chegou a queimar as mãos na linha de produção e a empresa não se importou. Veio a pandemia e ele parou de trabalhar. Passou a sofrer transtorno de ansiedade e depressão. Até que uma amiga indicou o Aliança, onde ele soube do curso Redes para o Futuro, com ênfase em logística. No instituto, descobriu que poderia contar com apoio psicológico. Se inscreveu e fez três meses de terapia. Ao mesmo tempo, entendeu que o curso no Aliança era diferente de outros que já tinha feito. Teve apoio para estudar a distância, com tablet e chip para uma internet de boa qualidade. Mas o mais importante foi aprender a falar em público, ter uma comunicação assertiva e ser mais resiliente, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Foi contratado como Jovem Aprendiz pelo Mercado Livre, um dos parceiros do Aliança, antes mesmo de terminar o curso. Poucos meses depois, foi efetivado como operador logístico 1. Na sequência, foi promovido a operador logístico 2. "O Instituto Aliança foi um divisor de águas na minha vida, me abriu os olhos para um futuro que eu não enxergava, não via oportunidades. Hoje estou em uma empresa em que me sinto valorizado, que abre espaço para nossas ideias, tem uma política de inclusão. Sei que posso crescer lá dentro."

Noah Henrick dos Santos, 20 anos

Quando Noah chegou ao Instituto Aliança, aos 17 anos, não gostava de trabalhos em grupo. Garoto trans (seu nome de batismo era Tainara), era tímido e achava que, assim como na época do colégio, os colegas iriam tirar proveito do seu esforço individual. Se sentia constrangido por não ter cursos no currículo, muito menos uma experiência profissional. Para piorar, vivia um momento de inflexão: tinha acabado de perder o pai e precisava ajudar a mãe e os irmãos nas contas de casa. Não queria curso, queria emprego. Mas no programa Habilidades para o Futuro aprendeu mais do que conceitos sobre o mercado de seguro e previdência. Passou a dar sua opinião, a se expor, a se relacionar com todos à sua volta. A mãe nem acreditou quando viu o filho mais falante em casa. Durante o curso, recebeu duas propostas de trabalho: uma da Sodexo, outra do Quinto Andar. Nesta última, iria ganhar mais. Mas na primeira teria a oportunidade de trabalhar no time de Diversidade, Equidade e Inclusão da Sodexo On-site. Optou pela Sodexo, que inclusive o apoiou na documentação para obter o nome social. "O programa me mostrou que as oportunidades chegam na hora certa, na medida em que você assume o papel de líder da própria vida. Uma das coisas mais mágicas que aconteceram comigo no curso foi ouvir uma música do Emicida, "Levanta e Anda", que eu já conhecia, mas nunca tinha prestado atenção à letra: 'Irmão, você não percebeu/ Que você é o único representante/ Do seu sonho na face da Terra / Se isso não fizer você correr, chapa/ Eu não sei o que vai'."

Igor Tenreiro Santos, 22 anos

Igor tinha uma ideia fixa no começo deste ano: encontrar um bom trabalho para ajudar nas contas de casa. Ele e o irmão gêmeo são os caçulas de uma família de quatro irmãos, criados apenas pela mãe, que sempre trabalhou como vendedora. O pai deixou a família quando ele era pequeno e nunca pagou pensão. Igor e os irmãos estudaram em escolas públicas, mas ele sempre sonhou com a faculdade. Entrou no Instituto Proa em busca de um curso de programação. Mas no módulo Autoconhecimento, uma "chave virou": os jovens foram questionados sobre qual o seu projeto de vida. "Isso foi muito importante para mim, porque quando cheguei lá só pensava em sobreviver. Minha geração é muito impulsiva, queremos fazer muita coisa agora, o mais rápido possível. E esse questionamento me fez parar e repensar tudo. Foi uma pergunta que mudou minha vida", diz Igor, que já tinha trabalhado como atendente em outras empresas, mas nunca via perspectivas de crescimento. Em agosto, dois meses depois de formado no Proa, foi contratado como assistente de marketing pela Via (dona de Casas Bahia e Ponto Frio), parceira do programa. Pode finalmente começar a faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas. Agora, pensa em fazer pós-graduação e -quem sabe- um mestrado.

Anderson de Oliveira Silva, 21 anos

Anderson estava terminando a faculdade de Música no começo deste ano, mas se sentia perdido. Sempre gostou de instrumentos, fez cursos na área, participou de orquestras. E achou que seria um bom professor de violino quando se formasse. Mas participou de algumas entrevistas e não foi chamado. Ao mesmo tempo, enjoou do instrumento. "Não sabia mais o que fazer, não tinha formação em outra área. Estava com medo de não conseguir me manter sozinho", diz ele, que entrou no Proa no primeiro semestre deste ano. A sua visão de vida se ampliou. "Antes, achava que só podia fazer uma coisa da vida. Mas o Proa me mostrou que era possível atuar em outra área, sem abandonar a música. A gente pode pensar a profissão não como algo fixo, mas que muda ao longo do tempo, você pode repensar o seu projeto de vida. Isso é muito libertador, é fantástico", diz ele, que conquistou uma vaga como jovem aprendiz no Credit Suisse. "Antes eu tinha uma baixa autoestima. Hoje eu sei que tudo bem errar, com ajuda a gente pode melhorar. Agora eu tenho coragem para enfrentar desafios, tanto na vida profissional como na pessoal. Estou disposto a me arriscar."

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depressão


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