SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto a ameaça de greve geral convocada por bolsonaristas deixou de ser uma preocupação devido à baixa adesão aos protestos, o mercado financeiro se voltou nesta segunda-feira (7) para possíveis nomes da equipe econômica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sobre como o novo governo encontrará espaço no Orçamento para cumprir promessas de campanha que aumentam os gastos públicos.

Analistas atribuíram a queda do mercado a rumores de que a cúpula petista estaria pressionando a nomeação do ex-prefeito Fernando Haddad para comandar a economia, além de uma entrevista do ex-ministro Henrique Meirelles dizendo que não é candidato ao cargo.

O índice Ibovespa fechou em queda de 2,42%, aos 115.298 pontos. O principal destaque negativo foi a queda de 4% das ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas da Bolsa. A estatal enfrenta a desconfiança de investidores quanto à condução da empresa pela futura gestão petista.

O dólar comercial à vista avançou 2,41%, cotado a R$ 5,1730, na venda.

"O Haddad cotado para assumir a economia trouxe bastante incerteza para o mercado e esse é o principal ponto", afirmou Andre Mamed, gestor de portfólios da Lifetime Asset Management. "Outro ponto é que o Meirelles teria descartado assumir como ministro da Fazenda, isso também foi péssimo", disse.

"A Bolsa devolveu os lucros da semana passada e a justificativa, digamos assim, é a decepção do mercado, que esperava a recondução do Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda", comentou João Abdouni, analista da INV.

Os analistas disseram que participantes do mercado consideraram uma entrevista dada por Meirelles nesta segunda à Jovem Pan News como uma confirmação de que o ex-ministro pode ter ficado de fora da disputa. "Se eu sou candidato a ministro da fazenda? Não, não sou candidato a ministro", disse Meirelles.

Assim como já havia dito à reportagem, porém, Meirelles não fechou as portas para um convite de Lula. "Evidentemente que eu sempre sigo preparado para o serviço público e qualquer convite eu analiso quando ocorre", disse o ex-ministro.

No centro das preocupações dos investidores está o risco fiscal, ou seja, a possibilidade de que o novo governo faça uma opção por expandir em excesso os gastos públicos e que isso resulte em endividamento e ameaça à execução do Orçamento no futuro.

"O enfraquecimento dos protestos no início da semana deu espaço para a percepção de que a transição de poder será relativamente estável, trazendo certo alívio de curto prazo para os mercados. Por outro lado, a discussão sobre uma mudança constitucional para permitir maiores gastos no ano que vem acende a luz amarela", comentou Antonio Sanches, analista de investimentos da Rico.

"O equilíbrio das contas públicas é o calcanhar de Aquiles da nossa economia. Gastos sem planejamento de como serão pagos tendem a pressionar a inflação e os juros, criando um ciclo vicioso", afirmou o analista. "Parece que a tal da incerteza não larga do nosso pé nunca."

Independentemente do nome a ser escolhido, a expectativa do mercado é por um nome com perfil técnico. "O mercado não vê com bons olhos um político no cargo", disse Marcelo Oliveira, co-fundador da Quantzed. "Além disso, muitos acreditam que Haddad não tem boa interlocução com o Congresso."

Reforçando sinais de que o mal humor dos investidores foi provocado por razões domésticas, os principais índices de ações internacionais fecharam em alta. Na Bolsa de Nova York, o índice parâmetro S&P 500 chegava ao final do dia com ganho de 1%.

Na última sexta-feira (4), no encerramento da primeira semana do mercado financeiro brasileiro após o desfecho do 2º turno das eleições, houve ganhos consistentes na Bolsa de Valores e um tombo do dólar frente ao real.

O dólar cedeu 4,73% frente ao real no acumulado da semana, no maior recuo semanal desde o final de junho. No mercado de ações, o avanço semanal do Ibovespa foi de 3,16%.


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