SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A principal fabricante de armas no país vem perdendo valor de mercado desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, que sinalizou para a revogação de armas liberadas por decretos de Jair Bolsonaro (PL).
As ações da Taurus, cuja fábrica fica no Rio Grande do Sul, estão em queda desde o resultado do primeiro turno. Os papéis com voto eram negociados a R$ 16,53 e, nesta terça-feira (8), fecharam o pregão a R$ 14,60.
De acordo com o balanço do 3° trimestre divulgado nesta terça-feira (8), a companhia manteve suas vendas no patamar de R$ 1 bilhão no acumulado dos nove primeiros meses deste ano e o carro-chefe foi o mercado interno.
Sobre o futuro governo e sua posição menos armamentista, a Taurus afirma que será mais conservadora em 2023 e espera um ambiente de "maior questionamento com relação ao direito à legítima defesa e à liberdade" no uso de armas.
Além da diminuição da demanda por armas no Brasil, a Taurus projeta possíveis mudanças regulatórias, mas acredita que o novo Congresso é favorável ao mercado e que Lula terá dificuldades para avançar com pautas restritivas ao setor.
Procurada, a empresa não quis comentar.
A expectativa de analistas que acompanham o setor é a de que haja uma "acomodação" depois de uma liberação considerada exagerada na gestão Bolsonaro e que turbinou os ganhos das fabricantes nacionais e estimulou negócios atrelados ?como clubes de tiro, por exemplo.
Essa avaliação ocorre na esteira do resultado da eleição para o Congresso. A bancada da bala, que deu sustentação a Bolsonaro, já calibra seu discurso para o esperado confronto com os parlamentares de oposição contrários à política armamentista.
"Lula saiu vitorioso nas urnas, mas não está com essa bola toda", disse à coluna o deputado Alberto Fraga (PL-DF), um dos líderes da bancada armamentista.
O grupo contabiliza 44 deputados federais e vai reunir nos próximos dias para definir uma agenda em torno dos projetos armamentistas que correm no Legislativo.
Fraga, que já se posiciona contrariamente ao porte de armas, defende a posse somente em casa. Para a próxima legislatura, o parlamentar diz que a tarefa da bancada da bala será chegar a um "entendimento" com os partidos de esquerda, considerados "desarmamentistas por natureza".
"Alguns decretos foram excessivos, como o que liberou até 30 fuzis por CAC [sigla para caçadores, atiradores e colecionadores]. Temos que ter bom senso", já contemporiza Fraga.
Os decretos de Jair Bolsonaro permitiram que, até junho deste ano, 673 mil pessoas obtivessem registro de CAC no país, alta de 473% nos últimos quatro anos, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública.
Dados dos institutos Sou da Paz e Igarapé, feitos com base em registros da Polícia Federal, mostram que o total de armas em acervo de CACs ultrapassou 1 milhão no ano passado. Em 2019, quando Bolsonaro assumiu o governo, eram 433 mil.
Felippe Angeli, gerente de Advocacy do Sou da Paz, diz que Bolsonaro promoveu uma "corrida armamentista" do jeito errado, sem respeitar o rito do Legislativo ao assinar decretos que o instituto considera inconstitucionais. Lula já afirmou que pretende revogá-los.
"Os clubes de tiro, que explodiram durante a pandemia, não vão desaparecer com a mera eleição de Lula", disse Angeli. "São pessoas que estão ganhando dinheiro hoje. O Bolsonaro criou um mercado ligado a isso e a gente não vai fazer parar esse dinheiro só por causa da eleição", afirmou Angeli.
Ele defende a revisão dos decretos, maior fiscalização dos clubes, além da restrição ao volume de munições e armas que um CAC pode ter.
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