BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O senador eleito Wellington Dias (PT-PI) disse nesta segunda-feira (14) que a promessa do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda de pessoas físicas para R$ 5.000 é uma meta "para o mandato" -que terá duração até 2026.

A fala de Dias, que hoje é coordenador da legenda nas negociações do Orçamento de 2023, reforça a sinalização de que o novo governo não deve discutir a implementação dessa medida no curto prazo. Ao citar o horizonte do mandato, ele também deixa a porta aberta para uma ampliação gradual da faixa de isenção do IR.

"É uma proposta para o mandato. Não está sendo tratada nem na PEC [da Transição] nem na reorganização do Orçamento", disse o senador eleito em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

A PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição está sendo negociada pelo PT para tirar as despesas com o Auxílio Brasil do teto de gastos, regra fiscal que limita o avanço das despesas à inflação.

A proposta deixaria R$ 175 bilhões do programa social (que voltará a se chamar Bolsa Família) fora do limite de gastos e liberaria os R$ 105 bilhões atualmente reservados à política para serem redistribuídos a outras ações que carecem de verba.

A PEC não trata, porém, de medidas tributárias, que devem ficar para depois. Como mostrou a Folha, integrantes do PT defendem a discussão da correção da tabela do IR apenas no próximo ano. Entre economistas do partido, há a avaliação de que a medida deveria ser tratada no âmbito de uma reforma mais ampla.

A promessa de ampliação da faixa de isenção a R$ 5.000 mensais foi levada por Lula ao programa eleitoral durante a campanha. Hoje, esse valor é de até R$ 1.903,98. Sem correção da tabela, trabalhadores que ganham 1,5 salário mínimo pagarão Imposto de Renda a partir do ano que vem.

O tema é delicado porque qualquer alteração nas faixas do IR significa abrir mão de receitas num momento em que o governo ainda tem perspectiva de conviver com déficits nas contas públicas.

O impacto tende a ser significativo, pois o reajuste da faixa de isenção teria o efeito de empurrar as demais faixas. A isenção prometida por Lula supera até mesmo a atual faixa máxima, focada em quem ganha acima de R$ 4.664,68.

Wellington Dias também reafirmou a intenção do PT de propor, na PEC da Transição, a retirada do Bolsa Família do limite de gastos, resultando no extrateto de R$ 175 bilhões.

Nesta segunda-feira (14), a agência de notícias Bloomberg noticiou que a equipe de Lula poderia avaliar uma alternativa mais conservadora, com uma autorização de R$ 130 bilhões fora do teto válida apenas em 2023.

"Todos que participamos [da transição] temos aí um comandante, o comandante que foi escolhido pelo povo, que é o presidente Lula. E foi com ele que foi batido o martelo, das opções que [se] tinha, qual a que a gente deverá seguir", disse o senador eleito, citando a proposta de retirar o Bolsa Família do teto de gastos.

Dias ressaltou, porém, que o grupo de economistas da transição -coordenado por Persio Arida, André Lara Resende, Nelson Barbosa e Guilherme Mello- será ouvido nas negociações.

Na noite desta segunda, o grupo divulgou uma nota informando que solicitou à coordenação da transição acesso ao atual texto da PEC da Transição e "aos dados que a embasaram". "Não houve definição de texto ou de valores alternativos à PEC atualmente em processo de elaboração no Congresso Nacional", diz a nota.

"Assim que disponibilizadas, as informações solicitadas serão analisadas e debatidas pela equipe de transição em novas reuniões."

A primeira reunião do grupo de economistas foi realizada em formato virtual na última sexta-feira (11). "Na ocasião, foram debatidos temas ligados à metodologia de trabalho, ao acesso às informações e ao apoio técnico necessário para o bom desenvolvimento do trabalho do grupo."

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