BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - A inflação argentina do mês de outubro foi de 6,3%, segundo anunciou nesta terça-feira (15) o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo). O índice acumulado no ano, em seu décimo mês, é de 88%.

Consultorias privadas estimam que o país fechará o ano com uma cifra próxima aos 100%. A Argentina tem a segunda maior inflação da região, perdendo apenas para a da Venezuela, de 119,4%.

Os produtos que tiveram mais aumentos no período foram alimentos, vestuário e serviços.

Embora o país tenha implementado, há poucos dias, um novo congelamento temporário, o programa Preços Justos, que durará por quatro meses, a medida não conseguiu conter a alta dos produtos.

A Argentina já lançou mão do recurso neste ano em duas outras ocasiões, com duas edições dos Preços Cuidados. Desta vez, são 1.500 os produtos que não poderão ter aumento nos próximos meses.

Jerónimo Montalvo, da consultoria Empiria, afirma que, a essa altura do ano, "a inflação vem crescendo por inércia, e já considerávamos esse aumento por conta dos reajustes programados dos serviços de gás, eletricidade e transportes".

Além do programa Preços Justos, o ministro da economia, Sergio Massa, anunciou nos últimos dias algumas medidas para tentar conter a perda do poder de compra da população.

Uma delas foi o aumento de 15,6% das pensões, aposentadorias e planos de assistência social. Além disso, aprovou-se um bônus de 10 mil pesos argentinos (ao redor de US$ 60 ou R$ 330) para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro para pessoas que recebam menos de um salário mínimo, e um de 7 mil pesos (ao redor de US$ 42 ou R$ 230) aos que recebam o equivalente a dois salários mínimos.

"A inflação é um problema grande para a maioria dos argentinos, mas especialmente para os aposentados ou que recebem pensões e assistência do Estado. A esses, estamos oferecendo proteção", afirmou Massa.

Ainda assim, nas últimas semanas, houve manifestações quase diárias diante do Ministério da Economia e de outras pastas no centro de Buenos Aires, pedindo ao governo mais planos sociais para enfrentar o momento.

Durante a semana, houve uma paralisação de 24 horas por parte de médicos, enfermeiros e auxiliares de hospitais públicos de Buenos Aires. Os profissionais caminharam vestidos de uniforme branco, desde o Obelisco até a Praça de Maio. A greve preocupa, num momento em que o país vive uma alta de internações relacionadas à chegada da nova variante da ômicron, da Covid-19, e um aumento de casos de influenza.

Na semana anterior, houve uma paralisação dos transportes públicos. O sindicato das categorias planejam uma nova greve para as próximas semanas, caso não se reajustem seus salários acima da inflação. Uma das categorias que mais preocupam é a dos caminhoneiros, que conseguiram um reajuste de 107%, mas que não se renovou depois de agosto.

Para o vice-ministro de economia, Gabriel Rubinstein, a Argentina corre o risco de uma hiperinflação "se não continuarmos a lutar pela redução do déficit fiscal e os dados de inflação mensal".

Rubistein, por enquanto, descarta uma desvalorização da moeda, embora na prática ela já esteja acontecendo. Um dos sinais é o descolamento entre os valores do dólar oficial (160 pesos) e o chamado blue (paralelo), que está em 297 pesos.

Rubinstei defendeu a política de congelamento de preços, apesar da crítica de vários economistas e consultorias privadas.

"Trata-se de uma ótima ferramenta para tentar desacelerar a inércia inflacionária. É uma peça importante para melhorar a saúde econômica do país nos próximos meses. A intenção claramente não é eliminar a inflação, mas evitar que prejudique outros aspectos da macroeconomia, além de ajudar as pessoas que sofrem o impacto da alta de preços".

A necessidade de aumentar o gasto social para conter o descontentamento popular coloca em risco as negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) por um acordo para o pagamento da dívida de US$ 44 bilhões que a Argentina tem com o fundo.

O que havia ficado combinado é que o governo deveria fazer ajustes na economia e reduzir o déficit fiscal e a inflação. Pouco disso está sendo cumprido, o que pode levar a um novo impasse entre o governo de Alberto Fernández e a entidade.

Politicamente, realizar os ajustes pedidos pelo FMI terá consequências eleitorais, uma vez que o governo, desprestigiado e com a popularidade abaixo dos 20%, começa em algumas semanas a fazer suas escolhas para o candidato que disputaria a eleição presidencial de 2023. Entre a aliança governista, sugerem postular-se o próprio Fernández, sua vice, Cristina Kirchner, o ministro do Interior, Wado de Pedro e o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, ex-ministro da economia.

A oposição, apesar da maré a favor, ainda enfrenta fricções internas para definir seu candidato, que está, por ora, entre o ex-presidente Mauricio Macri, com mais chances, o chefe de governo da Cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e a ex-ministra de segurança Patricia Bullrich.

Nos últimos cinco meses, Fernández perdeu sete ministros, a maioria da área política. Enquanto ele defende um perfil moderado na pasta, acabou predominando a vontade de Cristina, que apoiou Massa para que, entre outras coisas, deixe em segundo plano a negociação com o FMI e contenha a insatisfação popular por meio de programas de gasto social.


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