SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um mês em que a Copa do Mundo e o início da temporada de compras de fim de ano coincidem, lojistas de centros comerciais das periferias de São Paulo estão apostando na Black Friday para limpar os estoques e abrir caminho para as vendas de Natal e Ano-Novo.
Na avenida Comendador Sant'Anna, conhecido ponto comercial do Capão Redondo, na zona sul, os cartazes de ofertas estão expostos desde o começo de novembro. "Nossa Black Friday já começou", diz Laiane Santos Silva, 22, que trabalha como gerente em uma loja de calçados.
Ela diz que o comércio está com 80% dos produtos em promoção, mas que os clientes costumam aparecer em maior quantidade só no fim do mês, quando cai a primeira parcela do 13º salário. É quando começa o "esquenta para o Natal". "A gente zera o nosso estoque de pontas e ficam as peças novas [para dezembro]", afirma.
A poucos metros dali, a loja 1DASUL, criada pelo escritor Ferréz e que trabalha com roupas, acessórios e livros, aposta em posts e lives no Instagram para ampliar as vendas.
A marca assumiu a expressão "Novembro Negro" no lugar de Black Friday e tem oferecido até 60% de desconto em itens como blusas e bonés.
Criada originalmente nos Estados Unidos, a Black Friday acontece anualmente na quarta sexta-feira de novembro.
No Brasil, muitas lojas optam por estender os descontos em todo o mês de novembro. Neste ano, a data deverá movimentar R$ 4,2 bilhões, segundo projeção da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), que espera o melhor resultado financeiro desde sua incorporação no calendário varejista nacional, em 2010.
A estimativa é que a Copa no mesmo mês deverá ampliar as vendas. "Esse é um momento muito importante para o comércio de bens e serviços e, com o incremento das promoções de itens voltados à Copa do Mundo de Futebol, o segmento deve encerrar bem o ano", disse o presidente da CNC, José Roberto Tadros, em nota.
Para o vendedor Davi Aplik, 35, no entanto, a expectativa sobre as vendas é uma e a realidade é outra. Com o aumento da inflação, ele afirma que muitas famílias das periferias vão diminuir os gastos. "[Nesse momento] ou a pessoa compra uma camiseta de R$ 40, R$ 50, ou faz a feira", comenta o vendedor.
Em outubro, preços de alimentos como cebola e frutas registraram aumento de 9,31% e 3,56% respectivamente, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No período de 12 meses, a cesta básica ainda acumula inflação de dois dígitos.
Para a vendedora Carla Pereira, 28, da loja de roupas Outlet Store, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, as vendas da Black Friday estão mornas com relação a 2021.
"O ano passado foi bem melhor", diz a vendedora, que percebeu um avanço apenas na comercialização de camisetas da Seleção.
Por outro lado, um comerciante da loja de móveis Grupo Arabi, na Marechal Tito, também em São Miguel Paulista, relata que o estabelecimento tem vendido bem, em especial neste mês de novembro.
"Já deu uma melhorada frente aos últimos meses", diz Alexandre Holanda, 36. "Este ano a gente espera ter um pouco mais do que o ano passado, por causa das restrições [da Covid], que estão um pouco mais baixas agora."
No final de 2021, o período foi o primeiro com comércios abertos e menos restrições.
Segundo Holanda, como a Copa costuma estimular a reunião de famílias e amigos em casa, há expectativa de aumento na procura por itens como sofás novos.
"Nessa primeira quinzena [de novembro] a gente já vendeu mais sofás do que dois meses atrás, então a gente acredita que [a Copa] dê uma ajudada também."
Também na Marechal Tito, o Varejão Teruya espera ampliar suas vendas com a chegada da primeira parcela do 13º salário, que tem que ser paga pelas empresas até o dia 30 de novembro.
Segundo o vendedor Guilherme Viana, 33, a loja de materiais de construção faz promoções desde o início do mês e já observa movimentação mais intensa na região.
"[As perspectivas] são altas. A gente está esperando a questão do 13º também e esse aumento no consumo de final de ano, e estamos com uma expectativa boa."
Do outro lado da cidade, no Grajaú, comerciantes da avenida Dona Belmira Marin dizem que o feriado prolongado da Proclamação da República atrapalhou as vendas, mas esperam que a próxima semana seja melhor.
Gerente de uma unidade das Lojas Paulistanas, Maria de Fátima Macal, 37, conta que a marca tem investido em combos de ofertas, como dois tênis pelo preço de um.
"Baixou [o preço] de muita coisa", explica a gerente, que tem aproveitado o período da Black Friday para treinar equipes de temporários para o Natal.
Segundo a CNC, a Black Friday já é a quinta data mais importante para o comércio no Brasil. Alguns comerciantes, no entanto, apontam que o evento ainda não entrou no calendário de todos os consumidores brasileiros.
Vando Ribeiro, 33, trabalha como gerente em uma loja de bolsas e mochilas na avenida Dona Belmira Marin e diz que o ecommerce é mais beneficiado pela Black Friday que as lojas de rua.
"Acho que o pessoal dá mais preferência para loja online", conta, explicando que mesmo assim a loja tem feito promoções em alguns itens. "A gente espera que aumente bastante [as vendas]."
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