PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) - Bateu na trave a oportunidade dos fãs brasileiros de adquirir a Botija, garrafinha térmica que se tornou xodó no Uruguai desde a eleição para mascote da seleção vizinha na Copa do Qatar, em julho passado. Após vencer de lavada, a Botija foi efetivamente fabricada e lançada no mercado uruguaio pela marca brasileira Termolar.
A empresa chegou a anunciar em suas redes sociais a venda de uma edição limitada no Brasil, o que ocorreria às vésperas da estreia do Uruguai, nesta quinta-feira (24), às 10h, contra a Coreia do Sul. No entanto, não obteve autorização da AUF (Associação Uruguaia de Futebol) para a destinação de um lote de garrafinhas ao Brasil. A ideia era vender 50 peças.
Desde setembro, quando a garrafa foi lançada no Uruguai, a Termolar recebe mensagens de brasileiros interessados em adquirir a versão em inox do mascote que ajudaram a eleger. Com a venda cancelada, as poucas Botijas que atravessaram a fronteira serão usadas em sorteios e outras ações de marketing. A divulgação será feita no Instagram da marca.
"O tempo também apertou. Vender a Botija por aqui envolveria entraves burocráticos que poderiam demorar ainda mais, e o último jogo do Uruguai na primeira fase da Copa será no dia 2. Com esse prazo, realizar ações fará mais sentido", diz Natalie Ardrizzo, presidente da Termolar.
A história da Botija começou em uma despretensiosa eleição nas redes sociais da AUF. Além dos uruguaios, brasileiros (gaúchos em especial) acharam engraçada a ideia do utensílio doméstico competir com outros quatro candidatos a mascotes mais tradicionais, baseados em animais da fauna local. A campanha viralizou e a Botija foi eleita com 58% dos votos.
Após a vitória aclamadora, a AUF tomou a estranha decisão de refazer a eleição incluindo mascotes desenhados pelo público. A atitude causou dupla revolta: dos artistas, que reclamaram do concurso não prever remuneração por direitos autorais, e do público, que subiu a hashtag #JusticiaPorBotija nas redes sociais. A Botija venceu por 51% seus novos concorrentes -curiosamente, dois deles carregavam térmicas debaixo do braço.
Após acompanhar a eleição a distância, a Termolar viu uma oportunidade de surfar na popularidade da garrafinha e lançou o seu modelo mais popular para chimarrão no país vizinho -a R-Evolution- customizada com o rosto da Botija.
Natalie acredita que, mesmo que a eleição tenha sido influenciada pela galhofa da internet, o motivo da garrafinha ter caído nas graças do público é facilmente explicado pela cultura local.
"Acertaram em cheio porque é exatamente assim que os uruguaios tratam o mate. Como um mascote, um companheiro inseparável. É mais forte do que qualquer bichinho", diz Natalie.
A própria Termolar foi fundada em 1958 no Rio Grande do Sul por dois uruguaios (o pai da atual presidente e um sócio) dispostos a solucionar o problema de conservar e transportar a água quente do mate.
Diferentemente do Brasil, em que o mate é compartilhado, os uruguaios costumam carregar um kit particular de cuia e garrafa térmica. A seleção é um bom exemplo. É comum ver os atletas da delegação uruguaia carregando a bebida em viagens e até em meio aos treinos.
E o modelo mais popular é justamente a R-Evolution. O segredo, diz a empresa, está na litragem adequada para o consumo individual (um litro), no inox que conserva a temperatura por mais horas e na alça, fácil de carregar e servir. Apesar da onipresença do mate no Uruguai, as marcas mais populares são estrangeiras: a brasileira Termolar e a argentina Lumilagro.
Segundo Natalie, a Termolar não teria condições de bancar um patrocínio oficial aos atletas uruguaios, mas conta com a adesão orgânica dos jogadores. Porém, em vez da Botija oficial, os atletas costumam usar estampas customizadas. A garrafa do astro Suárez, por exemplo, é estampada com fotos da família.
"No Instagram da AUF há uma foto de cinco jogadores embarcando para o Qatar, três carregando mate. Os três têm garrafas nossas. Reconhecemos o modelo de longe", diz a presidente.
No Uruguai, a Botija oficial está sendo vendida em um site especial por 2,4 mil pesos uruguaios, o equivalente a cerca de R$ 320. Durante a Copa, ela também chegará às lojas do país em uma parceria com a marca de erva-mate Canarias. Há ainda uma Botija de pelúcia, vendida a 1,9 mil pesos (R$ 177). Nenhum deles é entregue em endereços fora do Uruguai.
A Termolar diz que não houve tempo hábil para garantir uma estampa de qualidade e uma distribuição que atendesse adequadamente ao mercado brasileiro.
"Infelizmente foram fabricadas pouquíssimas mesmo. Para você ter uma ideia, tive que emprestar a minha para influenciadores fazerem ações nos seus perfis. Outra, demos ao Alex Telles [lateral gaúcho da seleção brasileira]", diz Natalie.
A uruguaia Botija inaugurou uma curiosa tendência de mascotes baseados em objetos típicos. Depois dela, o La'eeb, mascote da Copa do Qatar, foi baseado no Keffiyeh, lenço característico do país. Já a Olimpíada e a Paraolimpíada de Paris, em 2024, terão como mascotes um par de barretes frígios, gorrinhos que se tornaram icônicos na Revolução Francesa.
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