MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - O grupo de bolsonaristas que comandou bloqueios da BR-163 em Novo Progresso (PA), o que incluiu ataques com tiros à PRF (Polícia Rodoviária Federal), orquestrou um movimento com finalidade de golpe de Estado; é suspeito de dez crimes, como tentativa de homicídio qualificado; achincalhou instituições; e buscou uma "constrangedora, criminosa e delirante" intervenção militar.

Os apontamentos são feitos pelo MPF (Ministério Público Federal) no Pará, no curso das investigações que resultaram na deflagração de uma operação pela Polícia Federal nesta quinta-feira (24).

A operação mirou o grupo que encabeçou os atos golpistas em Novo Progresso -uma associação criminosa, segundo a Procuradoria.

A Justiça Federal autorizou a PF a cumprir 10 mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão na região. Os presos são principalmente empresários de Novo Progresso, que fica no sudoeste do Pará.

O MPF pediu ainda a quebra de sigilos telefônico e telemático de 14 suspeitos de participação nos atos golpistas, com funções de protagonismo e liderança.

Os atos em Novo Progresso, uma região com intensa atuação do garimpo ilegal em terras indígenas e da grilagem de terras, foram uns dos mais violentos desde o início do bloqueio de rodovias no país.

Na cidade, Jair Bolsonaro (PL) obteve 83% dos votos válidos no segundo turno, realizado em 30 de outubro. O presidente perdeu a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaristas atacaram agentes da PRF com tiros e pedras para tentar impedir o desbloqueio do km 312 da BR-163. Todos os carros usados pela polícia saíram danificados da ação feita no último dia 7.

A principal forma de atuação foi o apedrejamento. Pelo menos três carros foram perfurados por balas, segundo a PRF.

Vídeos do confronto que circularam pelo WhatsApp, cuja autenticidade foi confirmada pela PRF, mostram manifestantes atacando os veículos com pedras, paus e disparos, comemorando os ataques e dizendo em tom de deboche que a atuação dos policiais não era bem-vinda no local.

O bloqueio acabou desfeito no dia seguinte. As investigações feitas pela PF e pelo MPF reuniram detalhes do que ocorreu na rodovia e identificaram supostos participantes e líderes do ato golpista.

Esses integrantes do movimento orquestrado intimidaram comerciantes de Novo Progresso e forçaram o fechamento dos estabelecimentos enquanto durassem os bloqueios na rodovia, segundo o MPF.

Além disso, um dos protagonistas do ato incitou manifestantes a derrubarem a ponte da saída da cidade, segundo mensagens de WhatsApp analisadas pela Procuradoria. O ato se assemelha a terrorismo, conforme o MPF.

Contra carros da PRF foram lançadas cadeiras, pedras e outros objetos, além de disparos de armas de fogo.

A PF, nas investigações, afirmou que jamais foi vista no país a forma como um grupo especializado da PRF foi atacado. Os policiais atacados são da tropa de choque da PRF, conforme as investigações, e os golpistas conseguiram promover o recuo momentâneo de cerca de 50 integrantes da tropa.

Ao todo, o MPF lista dez crimes sob investigação: homicídio qualificado tentado; constrangimento ilegal; dano; atentado contra a liberdade de trabalho; atentado contra a segurança de outro meio de transporte; associação criminosa; resistência; desobediência; desacato; e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Houve "achincalhamento das instituições públicas", segundo o MPF, e é preciso usar os verdadeiros nomes para designar o que ocorreu, conforme a Procuradoria: um movimento foi organizado e articulado para tentativa de golpe de Estado, com atos voltados a desrespeitar o resultado da eleição presidencial.

O ato golpista resultou em crimes contra as pessoas que tentavam trafegar pela rodovia e em tentativa de homicídio de agentes públicos no exercício da função, segundo o MPF.

O pedido de intervenção militar é "criminoso e delirante", e não encontra respaldo legal, conforme a Procuradoria.

Esse tipo de pedido é replicado por golpistas na frente de unidades do Exército em diversas capitais brasileiras, e não é rechaçado pela Força.

Numa nota conjunta divulgada no último dia 11, os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica não rechaçaram claramente os atos golpistas que ocorrem em frente aos quartéis. Eles aproveitaram a nota para uma mensagem dúbia e para recados indiretos ao STF (Supremo Tribunal Federal).

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