SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As incertezas sobre a condução da política fiscal do governo Lula a partir de 2023 fizeram com que o mercado acionário local perdesse um forte movimento de alta registrado em outros mercados emergentes durante o mês de novembro.

Ao longo do mês de novembro, o MSCI Index Brasil, índice negociado no exterior que acompanha a variação das ações brasileiras, acumula uma queda de aproximadamente 5,5%, em dólar.

No mesmo período, o índice MSCI Mercados Emergentes acumula uma alta de 14,5%, caminhando para a maior valorização mensal desde outubro de 2011, quando avançou 16,3%. Países asiáticos como China, Índia, Taiwan e Coreia do Sul estão entre as principais participações dentro da composição do índice de mercados emergentes.

As sinalizações do banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve) de que os juros na economia americana não terão de subir tanto quanto o mercado estava prevendo até algumas semanas atrás ajudaram a reduzir a aversão ao risco entre os investidores, impulsionado as ações nas Bolsas de Valores globais.

Já no Brasil, o receio dos investidores quanto à adoção de uma política temida como irresponsável do ponto de vista fiscal provocou uma forte elevação das taxas de juros, paralela à alta do dólar e à queda das ações na B3.

No mercado de juros futuros, que embute as expectativas dos agentes financeiros para a trajetória da Selic, o contrato com vencimento em 2024 era negociado a 13,96% nesta quarta-feira, contra 12,91% no final de outubro, enquanto o título para 2027 passou de 11,49% para 12,66% no mesmo intervalo.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi a Brasília nesta semana para discutir com o Congresso o formato da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, que tem como liberar despesas fora do teto de gastos para bancar o Bolsa Família e outras promessas de campanha.

Na esteira dos esforços do governo para aprovar a PEC, estrategistas do Morgan Stanley cortaram na semana passada a recomendação das ações brasileiras para "neutra" em seu portfólio para América Latina, citando crescentes riscos fiscais em 2023.

Segundo os especialistas do banco americano, a possível indicação para o ministério da Economia de um nome que não seja alinhado à política econômica defendida pelo mercado financeiro pode resultar em um afrouxamento fiscal e, consequentemente, juros mais altos para controlar a inflação.

O nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad tem despontado como um dos favoritos para assumir o ministério da Economia.

Haddad participou na semana passada de encontro com os principais banqueiros do país em evento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), representando o presidente eleito Lula, que ainda se recuperava de uma cirurgia na garganta. A percepção dos presentes, contudo, não foi muito positiva, com uma avaliação de que falta um plano de governo mais concreto.

Com a expectativa crescente de deterioração fiscal a partir da proposta de gastos fora do teto, os investidores já passam a prever a necessidade de o BC (Banco Central) ter de ser ainda mais agressivo e voltar a aumentar a taxa Selic nos próximos encontros do Copom (Comitê de Política Monetária).

Gestores de fundos dizem ainda que, apesar dos juros altos e do retorno elevado das aplicações financeiras, a incerteza sobre a condução da política fiscal faz com que eles prefiram adotar uma postura cautelosa, sem grandes apostas neste momento.


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