SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As taxas de câmbio e de juros futuros no Brasil caíram e a Bolsa de Valores registrou fortes ganhos nesta quarta-feira (30) com investidores considerando a possibilidade de desaceleração no aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. A diminuição do aperto monetário, que está em curso desde o início do ano no país para frear uma alta histórica da inflação, alivia temores de que a escassez de crédito provocará uma recessão mundial em 2023.

Nesta tarde, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, sinalizou que a autoridade monetária do país poderá aumentar a sua taxa de juros de referência em 0,5 ponto percentual em sua próxima reunião de dois dias, que será concluída em 15 de dezembro.

Essa elevação da taxa colocará fim, se for confirmada, a uma série sem precedentes de quatro aumentos de 0,75 ponto.

"O momento de moderar o ritmo de aumento das taxas pode chegar logo na reunião de dezembro", disse Powell.

O dólar comercial à vista fechou o pregão em queda de 1,70%, a R$ 5,20, na venda. O índice Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, subiu 1,42%, aos 112.486 pontos.

No mercado de juros futuros, a taxa DI (depósitos interbancários) para 2024 recuava a 13,91% ao ano, depois de ter fechado na véspera em 13,96%.

"O dia foi marcada pelo discurso de Powell", afirmou Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.

"Apesar de o presidente do Fed também ter enfatizado que o patamar final dos juros básicos na maior economia do mundo pode ser mais alto do que inicialmente esperado, investidores engataram a marcha do bom humor diante de expectativas do fim do ciclo da alta de juros por lá", disse a economista.

No início de novembro, o Fed elevou os juros americanos pela sexta vez em 2022, colocando a taxa de referência dos Estados Unidos em um patamar entre 3,75% e 4% ao ano.

O ritmo de aceleração dos juros é o mais rápido no país em mais de quatro décadas.

Aumentar o custo do crédito é uma forma de tirar dinheiro de circulação para esfriar o crescimento do consumo (que gera a inflação), mas isso também significa diminuir a oferta de empregos e os aumentos de salários. Mas o forte aperto monetário já vem indicando que o efeito colateral poderá ser uma recessão, o que também é ruim para os mercados.

A fala de Powell não foi o único fator externo a beneficiar os indicadores do mercado financeiro brasileiro.

Ações de exportadoras de matérias-primas impulsionam desde a véspera ganhos na Bolsa de Valores, assim como empurram para baixo a cotação do dólar, dado ao potencial desse segmento de internalizar investimentos de estrangeiros.

O segmento foi beneficiado por sinalizações do governo chinês de que Pequim poderá flexibilizar sua política de Covid zero e pela possibilidade de manutenção de estímulos à economia no país.

Esse cenário favorável a empresas brasileiras do ramo de materiais metálicos e de petróleo, entre outros, já que o país asiático é o maior consumidor mundial desses produtos.

Além de esperaram o afrouxamento das regras para controle da Covid, investidores também têm expectativas de que o presidente chinês Xi Jinping criará mais estímulos a setores importantes para a economia, como o imobiliário, para amenizar os efeitos da interrupção de atividades no país para controlar o avanço da Covid.

Protestos contra as restrições impostas por Pequim estão tomando as ruas em diversas cidades na China. As manifestações começaram no fim de semana, depois que um incêndio em Urumqi, capital da região de Xinjiang, matou dez pessoas. Segundo manifestantes, o corpo de bombeiros demorou para agir por conta das restrições.

Os mesmo motivos que trouxeram otimismo às exportações brasileiras geraram uma corrida por ações do mercado chinês.

Nesta quarta, o índice da Bolsa de Hong Kong subiu 2,16%, depois de ter disparado 5,54% na véspera.

Especificamente sobre o dia do mercado no Brasil na terça-feira, analistas relataram redução dos temores em meio a declarações de que há abertura da equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para negociar prazo e o volume de gastos acima do teto presentes na PEC da Transição.

Por enquanto, a exceção ao teto é de até R$ 198 bilhões e a proposta é que essa liberação tenha quatro anos de validade.


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