SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A nota de crédito do Brasil pode sofrer um novo rebaixamento diante da expectativa de aumento de gastos com a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição e de uma política econômica focada em aumento de crédito via bancos públicos.
Essa é a avaliação de economistas que participaram do evento Macrovision do Itaú nesta quinta-feira (8).
Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset Management, afirmou que o novo presidente sinaliza com uma política econômica que vai resultar em juros e inflação mais altos e baixo crescimento.
Para ele, haverá uma repetição da gestão Lula anterior (2003-2010), quando o governo acelerava a economia por meio de gastos e subsídios via bancos públicos, e o Banco Central precisava frear a inflação.
Diante desse cenário, afirmou não descartar um rebaixamento da nota de crédito do Brasil e disse não ter esperança de ver a taxa básica de juros cair abaixo de 10% enquanto ainda estiver vivo --e "ainda pretendo viver bastante", disse o investidor de 68 anos.
"O que vai na cabeça do Lula? Ele é um suicida? Por que está fazendo isso?", afirmou o investidor ao citar as perguntas que são ouvidas no mercado.
Para ele, o fato de a economia ter crescido mais nos oito anos da gestão Lula, em meio ao aumento de gastos, do que no período pós-2016, quando foi aprovada a atual regra que limita despesas, faz com que o presidente eleito acredite nessa fórmula para impulsionar a economia.
Ele ressalta, no entanto, que parte da crise no governo Dilma Rousseff (2010-2016) se deveu a essa "bomba de oito anos de gastos" que caiu no colo da ex-presidente.
"Esse é um caminho extremamente perigoso. Não vejo chance zero de a gente ser 'downgraded' [rebaixado] por alguma agência com uma PEC de R$ 200 bilhões", afirmou Stuhlberger durante o evento.
Sobre as estratégias de investimento da sua gestora, ele reduziu a exposição a ações brasileiras e zerou posições em Bolsas de outros mercados. Afirmou ainda que nenhum portfólio funciona quando há um governo populista e que a gestão Lula 3 já começará com uma política mais semelhante à nova matriz econômica do governo Dilma.
O gestor afirma que o novo governo tem meios para financiar parte do aumento de despesas, retomando a tributação de PIS/Cofins sobre combustíveis e taxando dividendos e fundos exclusivos, por exemplo.
Felipe Guerra, da Legacy Capital, também avalia que não é possível descartar um rebaixamento da nota de crédito do país e disse que o Brasil já pode ter entrado em uma nova recessão no último trimestre de 2022.
Ele afirmou que o ambiente de juros altos no país faz com que seja difícil encontrar alguma ação para comprar e que as Bolsas estão caras nos EUA, na Europa e no Brasil. Por aqui, apenas a entrada de estrangeiros sustenta o Ibovespa acima de 100 mil pontos, segundo o executivo.
"A gente está fazendo um estímulo fiscal grosseiro e no momento errado do ciclo, quando deveria estar ajudando o Banco Central", afirmou. "Acho que o [investidor] gringo nem leu essa PEC."
Rodrigo Azevedo, ex-diretor do BC e sócio da Ibiuna Investimentos, afirma que a principal pergunta dos gestores para 2023 é qual será o comportamento da inflação americana. Se o indicador surpreender para baixo, pode ser aberta uma oportunidade de virada no cenário internacional que favoreça investimentos em ativos de maior risco e em países emergentes.
"Se o cenário virar e a gente fizer o mínimo na questão fiscal, poderia ser uma nova oportunidade. Mas tudo o que a gente viu até agora indica que não é nessa direção que estamos caminhando", disse Azevedo.
O gestor afirma estar menos preocupado com o impulso fiscal gerado pelo aumento de gastos aprovado até o momento, algo que não seria suficiente para que o Banco Central tenha de voltar a subir juros, e mais com a possibilidade de o governo adotar uma política de grande injeção de crédito subsidiado.
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