RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Puxado pela carestia dos combustíveis e dos alimentos, o índice oficial de inflação do Brasil teve alta de 0,41% em novembro, informou nesta sexta-feira (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É o segundo avanço consecutivo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). O indicador, contudo, desacelerou ante outubro, quando havia subido 0,59%.
A variação de 0,41% é a menor para meses de novembro desde 2018 (-0,21%). O novo resultado ficou abaixo das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam uma alta de 0,53%.
O IPCA também desacelerou no acumulado de 12 meses. A alta passou para 5,90% até novembro. É a menor taxa desde fevereiro de 2021 (5,20%). O avanço era de 6,47% até outubro de 2022.
Segundo Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE, o ritmo menor em novembro pode ser associado em parte a promoções da Black Friday.
Sinal disso é que o índice de difusão desacelerou de 68% em outubro para 59% no mês passado. É o menor nível desde agosto de 2020.
O índice de difusão mede o percentual de subitens que subiram em determinado mês, em relação ao total pesquisado (377).
"Isso [Black Friday] pode ter contribuído para uma inflação menos espalhada", disse Kislanov.
O pesquisador lembrou que a data costuma gerar descontos no varejo sobre produtos como aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos e de higiene pessoal.
COMBUSTÍVEIS, ALIMENTOS E ROUPAS AVANÇAM
Dos 9 grupos de bens e serviços que compõem o IPCA, 7 ainda tiveram alta em novembro. Os maiores impactos vieram do segmento de transportes, que subiu 0,83%, e de alimentação e bebidas, que avançou 0,53%.
O primeiro acelerou frente a outubro (0,58%), enquanto o segundo variou menos do que no mês anterior (0,72%).
Transportes e alimentação e bebidas tiveram impactos de 0,17 ponto percentual e de 0,12 ponto percentual, respectivamente, no IPCA de novembro. Os dois grupos responderam por cerca de 71% do índice.
A maior variação veio de vestuário (1,10%). O grupo ficou acima de 1% pelo quarto mês consecutivo, em um cenário de custos elevados de produção e retomada da demanda por roupas após as restrições na pandemia.
A alta de 0,83% dos transportes foi provocada, principalmente, pelo aumento dos combustíveis (3,29%), que haviam recuado 1,27% em outubro.
Os preços do etanol (7,57%), da gasolina (2,99%) e do óleo diesel (0,11%) subiram em novembro. A exceção foi o gás veicular, com queda de 1,77%.
A gasolina exerceu o maior impacto individual no IPCA do mês. O peso foi de 0,14 ponto percentual.
Kislanov lembrou que o preço do combustível permaneceu inalterado nas refinarias da Petrobras em novembro. Porém, houve uma pressão do etanol, que faz parte da composição da gasolina vendida nos postos, indicou o pesquisador.
"Por que a gasolina subiu? Porque o preço do etanol tem subido bastante. O etanol tem sido afetado pela entressafra de cana-de-açúcar. E, como o preço do açúcar está alto, os produtores vêm preferindo produzir açúcar em vez de etanol", disse Kislanov.
Nesta semana, a Petrobras anunciou um corte de 6,1% para a gasolina, que tende a impactar o IPCA de dezembro.
No grupo alimentação e bebidas, a alta de 0,53% foi puxada em novembro pelos alimentos para consumo no domicílio (0,58%). As maiores variações vieram da cebola (23,02%) e do tomate (15,71%), cujos preços já haviam subido em outubro (9,31% e 17,63%).
O avanço dos dois produtos reflete restrições de oferta, conforme Kislanov. Em novembro, também houve alta nos preços das frutas (2,91%) e do arroz (1,46%).
O destaque no lado das quedas foi o leite longa vida (-7,09%), assim como já havia ocorrido em meses anteriores. O leite, apesar do alívio, ainda subiu 27,41% em 12 meses.
Entre os grupos pesquisados pelo IBGE, a maior queda de preços em novembro veio de artigos de residência (-0,68%).
Nesse ramo, houve baixa de produtos como aparelhos eletrônicos (-1,42%) e móveis e utensílios (-0,23%), que costumam aparecer nas promoções da Black Friday. Comunicação (-0,14%) foi o outro grupo em queda em novembro.
NOVO ESTOURO DA META
Mesmo com a perda de ritmo, o IPCA acumulado em 12 meses (5,90%) caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) pelo segundo ano consecutivo. Em 2022, a meta tem centro de 3,50% e teto de 5%.
Segundo Kislanov, para não ultrapassar o limite, o IPCA teria de registrar deflação (queda) de 0,13% em dezembro. O indicador, contudo, costuma ficar no campo positivo na reta final do ano.
Historicamente, há o efeito da demanda sazonal por bens e serviços e do avanço de alimentos no período.
O economista Eduardo Vilarim, do banco Original, prevê alta de 0,50% para o IPCA de dezembro, já levando em consideração a queda da gasolina nas refinarias da Petrobras.
Para o acumulado de 2022, o Original reduziu a estimativa de 6% para 5,8% após a divulgação do resultado de novembro. "É uma inflação ainda alta, persistente. Mas chama atenção que os núcleos e os serviços vêm tendo uma melhora de curto prazo", diz Vilarim.
Segundo o IBGE, a inflação de serviços desacelerou de 0,67% em outubro para 0,13% em novembro. Esse recorte inclui a passagem aérea, que caiu 9,80% após alta de 27,38% em outubro.
Às vésperas das eleições presidenciais, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a redução das alíquotas de ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis e outros itens levou o IPCA para baixo.
O índice mostrou queda em três meses consecutivos ?julho (-0,68%), agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%). O efeito do corte tributário, contudo, perdeu fôlego na reta final do ano, e a inflação voltou a subir.
Na mediana, analistas projetam IPCA de 5,92% no acumulado até dezembro, conforme o boletim Focus divulgado pelo BC na segunda-feira (5). Para 2023, a previsão é de um avanço de 5,08%, também acima do teto da meta (4,75%).
Analistas ainda aguardam mais detalhes da política econômica do governo Lula, que anunciou nesta sexta Fernando Haddad (PT) como Ministro da Fazenda.
O mercado já demonstrou preocupação com possíveis gastos da nova gestão. O temor de investidores chegou a pressionar o dólar nas últimas semanas, o que costuma trazer riscos para a inflação.
Em 2023, o governo Lula também terá de analisar a volta ou não de tributos sobre os combustíveis.
O banco Original projeta IPCA de 4,9% para 2023, já considerando a retomada de impostos, mas não descarta uma inflação dentro da meta em caso de novo alívio tributário, diz o economista Eduardo Vilarim.
INPC DESACELERA MENOS DO QUE IPCA
O IBGE também informou nesta sexta que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 0,38% em novembro, abaixo de outubro (0,47%). Em 12 meses, o indicador acumula alta de 5,97%.
O INPC avalia os preços de bens e serviços com maior peso no consumo das famílias de renda menor (entre um e cinco salários mínimos). É usado como referência para correção de benefícios como aposentadorias e do salário mínimo.
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