SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar tinha pouca alteração nesta terça-feira (13), com investidores à espera de dados de inflação dos Estados Unidos e da reunião de política monetária do Federal Reserve, enquanto monitoravam o clima em Brasília após episódio de violência da véspera e em meio a receios sobre a saúde fiscal do país.
Às 9h11 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,01%, a R$ 5,3116 na venda.
Na B3, às 9h11 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,36%, a R$ 5,3310.
Na segunda-feira (12), temores de que o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotará uma política econômica mais intervencionista do que era esperado até então pelo mercado, aumentando a preocupação com a sustentabilidade fiscal, levaram a uma forte baixa na Bolsa e alta do dólar e dos juros.
O Ibovespa caiu 2,02%, aos 105.343 pontos, a menor pontuação desde agosto. Mais cedo, a Bolsa chegou a tombar mais de 3%, atingindo a pontuação mínima do dia, de 103.876. As ações preferenciais da Petrobras também despencaram 3,24%. O Banco do Brasil, outra empresa com peso na Bolsa e que é controlada pelo governo, perdeu 3,40%.
No mercado de câmbio, o dólar comercial à vista fechou em alta de 1,27%, cotado a R$ 5,3120 na venda.
Notícias de que o governo discute modificar a Lei das Estatais para permitir nomeações políticas, como a de Aloizio Mercadante para o BNDES e do senador petista Jean Paul Prates para a Petrobras, estão no centro dessas preocupações, em um cenário em que o mercado busca pistas sobre a definição da equipe da gestão Lula 3 e qual será a política fiscal a ser adotada.
A possibilidade de indicação de nomes de políticos petistas, vistos como mais favoráveis à expansão de gastos públicos, para comandar áreas estratégicas da economia também tem causado descontentamento entre investidores -na sexta, Lula já confirmou Fernando Haddad como seu ministro da Fazenda.
Questionado por jornalistas nesta segunda sobre a possibilidade de assumir o comando de um ministério ou estatal no próximo ano, Mercadante se recusou a responder.
O ex-ministro petista coordenou o programa de governo de Lula durante a campanha eleitoral, e hoje comanda os grupos técnicos da equipe de transição.
"A principal preocupação que o mercado vem demonstrando é a entrada de alguém com perfil ideológico direcionado à proteção da industrialização, com utilização intensiva de recursos públicos para investimentos dentro das estruturas das empresas públicas", comentou Igor Cavaca, chefe de gestão de investimentos da Warren.
Durante a campanha, Lula já defendeu um papel mais ativo para o BNDES durante seu novo mandato. Na semana passada, o próprio Mercadante defendeu que o banco precisa voltar a atuar fortemente no processo de reindustrialização.
Nesta segunda, porém, durante encontro com o presidente da Febraban (federação dos bancos), Isaac Sidney, o petista cotado para o BNDES teria afirmado que o futuro governo não repetirá uma política de subsídios.
Os rumores sobre a composição da equipe econômica provocam forte quebra da expectativa de que a gestão Lula 3 apresentaria nomes historicamente comprometidos com uma política fiscal mais restritiva.
Após a reação ruim do setor financeiro, Haddad afirmou na noite desta segunda que deve "compor uma equipe plural". "Não quero uma escola de pensamento comandando a economia", disse Haddad, que deve anunciar parte dos nomes nesta terça (13).
Mercadante, por sua vez, afirmou que desconhece "qualquer iniciativa" por parte do governo eleito de alteração na Lei das Estatais. Como o petista atuou na campanha de Lula, sua indicação para uma estatal poderia entrar em conflito com a legislação.
Isso porque a lei diz que "é vedada a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria, da pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral".
O economista e ex-ministro Nelson Barbosa, um dos coordenadores do grupo técnico (GT) de Economia, disse não ter opinião sobre uma mudança na Lei das Estatais, e acrescentou que o assunto não chegou a ser discutido no GT. Ele afirmou, no entanto, que o tema vai ser avaliado pelo comitê do Ministério do Planejamento, que é onde está a secretaria das empresas estatais.
Barbosa também criticou nesta segunda a reação do mercado à possibilidade de Mercadante ocupar uma vaga no novo governo.
O ex-ministro disse que o setor financeiro reage mal "a qualquer nome do PT", mas que precisa aceitar que o partido venceu as eleições presidenciais.
O cenário externo também foi desfavorável aos papéis de empresas brasileiras que exportam matérias-primas para a China, onde o crescimento dos casos de Covid coloca em dúvida a sustentação do afrouxamento das restrições a circulação de pessoas e atividades econômicas.
A Vale, que tem no mercado chinês o principal destino para as suas exportações, cedeu 2,99% e exercia a maior influência negativa sobre os Ibovespa.
A semana também é de cautela global antes da reunião de política monetária nos Estados Unidos, quando o Fed (Federal Reserve) irá divulgar a sua última decisão do ano sobre a taxa de juros do país, na quarta-feira (14).
No mercado de ações de Nova York, o índice de referência S&P 500 encerrou a sessão em alta de 1,43%. A alta foi atribuída por analistas à expectativa de que a taxa de juros do Fed suba 0,50 ponto percentual nesta quarta, menos do que os recentes aumentos de 0,75 ponto.
Antes da reunião do Fed, porém, investidores observarão nesta terça a divulgação do relatório de preços ao consumidor americano em novembro.
A expectativa é que a taxa, que ficou em 7,7% ao ano em outubro, continue perdendo força para que os juros do Fed possam subir de forma menos agressiva.
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