SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de admitir uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço, a Americanas S.A. pediu uma tutela cautelar, ou seja, uma proteção à Justiça para evitar a antecipação de vencimento de dívidas que, segundo a companhia, somam R$ 40 bilhões.
O número corresponde à soma dos R$ 20 bilhões expostos pelo agora ex-presidente da Americanas, Sergio Rial, e da dívida bruta da companhia, que em setembro de 2022, último dado disponível, era de quase R$ 20 bilhões.
Mas qual o retrato que se tem da situação financeira da companhia, levando em conta os dados do balanço divulgado em novembro, referente ao terceiro trimestre de 2022? Quanto a Americanas tem disponível para honrar seus compromissos?
REDE VAREJISTA ALONGOU PRAZOS DE PAGAMENTO
O último balanço da Americanas, antes da exposição do erro contábil de R$ 20 bilhões, mostra que a empresa fez um trabalho para alongar os prazos de suas dívidas entre 2021 e 2022. E o maior deles foi nos empréstimos e financiamentos junto a bancos.
Em setembro de 2021, a Americanas tinha R$ 3,4 bilhões em empréstimos com vencimentos de até 12 meses. Um ano depois, este valor baixou para pouco menos de R$ 900 milhões.
Por outro lado, os empréstimos e financiamentos de longo prazo quase dobraram, saindo de quase R$ 8 bilhões para R$ 15,5 bilhões. Esses contratos têm vencimentos superiores a 12 meses.
O valor total desses financiamentos, somando todos os vencimentos, correspondem a quase 87% do valor total da dívida bruta da Americanas ao final do terceiro trimestre, de R$ 19,3 bilhões. Essa dívida cresceu mais de 50% em 12 meses, já que em setembro de 2021, estava em R$ 12,8 bilhões.
DÍVIDA LÍQUIDA É DE R$ 5,3 BILHÕES; ENTENDA
Para medir a dívida líquida, a empresa apura o que tem de recursos disponíveis em caixa, mais o que tem a receber em recebíveis de cartão de crédito, no caso da Americanas e outras varejistas.
A Americanas tinha, em setembro, R$ 8,8 bilhões em caixa, mais R$ 5,2 bilhões em recebíveis, já descontados os que foram antecipados pela empresa junto a bancos. Um total disponível de R$ 14 bilhões, quase R$ 2 bilhões a menos que 12 meses antes, quando as disponibilidades eram de R$ 15,8 bilhões.
Assim, se chega à dívida líquida da Americanas de R$ 5,3 bilhões. Um ano antes, os recursos disponíveis eram maiores que a dívida bruta, e por isso, a empresa tinha um caixa líquido de R$ 3 bilhões.
ROMBO CONTÁBIL PODE AFETAR INDICADOR DE CAPACIDADE PAGAMENTO
É a partir daí que as empresas fazem o cálculo do que é chamado no mercado de alavancagem, que dá uma ideia da capacidade de pagamento dos compromissos de uma empresa. Ele é medida pela divisão da dívida líquida pelo Ebitda, que é o resultado operacional da empresa, medido antes de variáveis puramente financeiras, como impostos, juros de dívidas, e outros indicadores contábeis.
A Americanas terminou o terceiro trimestre de 2022, segundo seu balanço, em uma relação dívida líquida/Ebitda de 1,7 vez, patamar considerado bastante saudável por analistas.
Em alguns contratos, especialmente naqueles feitos com grandes credores, há uma cláusula que limita essa alavancagem, como forma de proteção contra uma eventual dificuldade de pagamento dos valores devidos.
No caso da Americanas, segundo o time de análise da XP investimentos, uma pequena parte dos contratos com credores possuem essa proteção, que não pode ser maior que 3,5 vezes na relação dívida/Ebitda.
Mas, ainda segundo a XP, se a Americanas admitir de uma só vez em seus balanços os R$ 20 bilhões descobertos, a relação dívida/Ebitda salta para 8 vezes, o que justificaria o pedido de antecipação do vencimento dos contratos, para quem inseriu essa cláusula.
Não é possível saber quantos contratos de financiamento da Americanas possuem essa cláusula. É mais comum ela estar presente em emissões feitas no mercado de capitais, com debêntures, por exemplo. A Americanas tem R$ 4,3 bilhões em títulos desse tipo a pagar, sendo R$ 1,3 bilhão de curto prazo.
No balanço patrimonial, a Americanas declarava também um passivo circulante, ou seja, pagamentos a serem feitos no curto prazo, de R$ 5 bilhões com fornecedores. Neste caso, este é um item comum em balanços de varejistas, já que as grandes redes conseguem negociar prazos de pagamento dos produtos que compram, geralmente entre 30 e 90 dias.
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