SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O que acontece agora que a Americanas entrou em recuperação judicial, como uma disputa entre banqueiros e bilionários obrigou a companhia a acelerar o processo e outros destaques da economia nesta sexta-feira (20).
**RECUPERAÇÃO JUDICIAL. O QUE ACONTECE AGORA?**
A Americanas está oficialmente em recuperação judicial (RJ). O pedido, que lista uma dívida de R$ 43 bilhões a 16,3 mil credores, foi feito pela companhia e aceito pela Justiça nesta quinta (19).
A varejista afirma que, dentro de 48 horas, vai apresentar a lista de credores completa e a discriminação do passivo, ou seja, o valor pode sofrer alterações.
O QUE ACONTECE AGORA?
Os credores não podem cobrar nada da empresa na Justiça. Ela prometeu apresentar um plano de reestruturação em até 60 dias.
COMO FUNCIONA UMA RECUPERAÇÃO JUDICIAL?
A empresa reúne em uma lista os donos do seu passivo, o tamanho da dívida, e apresenta um plano para o pagamento.
É comum que ela proponha um desconto para o pagamento dos credores, que incluem instituições financeiras, donos de debêntures (títulos de dívida) e até bancos públicos, como mostrou a Folha de S.Paulo
Existe uma ordem de prioridade para o pagamento, que começa com os créditos trabalhistas.
A empresa também lista os ativos que tem e que podem ser vendidos para ajudar no processo.
No caso da Americanas, destacam-se o Hortifruti Natural da Terra, comprado no ano passado por R$ 2,1 bilhões, e a Vem Conveniência, joint venture da varejista com a Vibra.
A Americanas afirma que "seguirá operando normalmente dentro das novas regras da recuperação judicial?.
OVO DE PÁSCOA, BBB...
No pedido de RJ, a varejista disse que é um "motivo de orgulho para o povo brasileiro", por ser uma varejista "quase centenária" (fundada em 1927).
Destaca também os pontos de venda (3.600), que atendem mais de 50 milhões de consumidores e geram "mais de 100 mil empregos diretos e indiretos". Além disso, paga R$ 2 bilhões em tributos ao ano.
O pedido menciona inclusive o patrocínio ao Big Brother Brasil ?que teve de abandonar nesta edição e acabou ficando com o Mercado Livre ? e diz que sua crise pode afetar o preço do ovo de Páscoa.
"Trata-se da maior varejista de ovos de Páscoa do mundo!", afirma.
**COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?**
No começo desta quinta, a companhia havia comunicado ao mercado que estava na iminência de solicitar a RJ porque tinha apenas R$ 800 milhões em caixa.
Para entender como o caixa da companhia saiu dos cerca de R$ 8 bilhões na época do estouro do escândalo para 10% desse valor em uma semana, é preciso entender a disputa da varejista com os bancos, que acabou culminando na recuperação judicial.
Logo que saiu o fato relevante expondo o rombo contábil nas operações de ?risco sacado? da companhia (explicamos o rolo aqui), o BTG foi à Justiça para garantir o bloqueio de R$ 1,2 bilhão que tinha em uma conta da varejista na instituição.
Outros bancos fizeram o mesmo movimento, que tinha como alvo o fundo 3G, do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles ?acionistas de referência.
Os credores queriam que eles tirassem do bolso cerca de R$ 20 bilhões para cobrir o rombo, mas o trio acenou com um valor de R$ 6 bilhões.
Na sexta (13), a Americanas conseguiu uma medida cautelar que impedia a trava a seus ativos. Os bancos reagiram e tentaram derrubar a decisão, mas só o BTG acabou conseguindo ? em petição que chamou o caso de ?maior fraude corporativa da história do país?.
Além dos R$1,2 bilhão retido pelo BTG, a empresa também ficou sem acesso a mais de R$ 3 bilhões em adiantamentos de recebíveis de cartão de crédito ?operação comum que garante capital de giro ao varejo, mas que os bancos se recusaram a financiar.
Outros credores que custodiavam ativos da companhia, como Bradesco e Itaú, também bloquearam suas contas ?esses terão que liberar o dinheiro, decidiu a Justiça.
Na petição da recuperação judicial, a Americanas critica seus credores. Diz que, não fosse a sangria no caixa, seria possível renegociar as dívidas e continuar operando sem problemas de liquidez.
MAIS SOBRE O ESCÂNDALO DA AMERICANAS
Na Bolsa, o reflexo aparece nas ações da companhia, que terminaram o dia cotadas a R$ 1,00, em queda de 42,52%. Desde antes da revelação do rombo, quando os papéis valiam R$ 12, a desvalorização acumulada é de 91,6%.
Por estar em recuperação judicial, as ações da companhia deixarão todos os índices da B3, a Bolsa brasileira, incluindo o Ibovespa, o principal deles.
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