SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se o conceito de "mãe e pai de pet" ganhou força nos últimos anos, um tipo de negócio mira neste público com precisão: as creches para cães, que tratam os animais quase como alunos e dão aos tutores diversas experiências que teriam com um filho humano.
Clientes do serviço costumam deixar seu companheiro na creche de manhã e buscar no fim da tarde. Geralmente, é preciso preparar uma lancheira com aquilo que o bicho vai comer ao longo do dia. As instituições oferecem ração comum e alguns petiscos, mas cada cão tem suas preferências, então melhor garantir.
Ao longo do dia, se a saudade apertar, basta acessar um link ou aplicativo e ver imagens ao vivo do pequeno, como em um Big Brother. Dá para checar se o animal está amuado em um canto ou interagindo com os coleguinhas. Se está se engajando nas atividades, como adestramento ou natação, e aprendendo coisas novas. Há locais que também enviam vídeos curtos aos donos, no formato stories, ao flagrar algum momento marcante.
Como nas escolas infantis, há brinquedos e paredes coloridas, monitores que chamam para brincar e eventos para estimular a socialização e deixar os pais orgulhosos, como festinhas de aniversário. Em outubro, por exemplo, teve creche que vestiu os bichos como pequenos bruxos e cantou parabéns para eles em clima de Halloween.
Estas atividades movimentam o mercado de serviços para animais, que vive um momento de alta pós-pandemia. Muita gente resolveu adotar um bicho enquanto estava trabalhando de casa. Conforme a volta ao presencial foi sendo exigida, pais de pet de primeira viagem ficaram em dúvida sobre o que fazer.
"A gente pegou um cão na pandemia, quando ficava o tempo todo em casa. Meu marido teve de voltar ao trabalho presencial full time. Eu tenho agenda mais flexível, mas a gente não teve como não colocar em uma creche. Ele não podia ficar sozinho", conta a publicitária Letícia Natívio, 34, que mora na Mooca, zona leste de São Paulo.
Letícia conta que a decisão de adotar o beagle Pepino di Capri, 2, foi súbita. "A gente foi ao canil e voltamos com um cachorro", lembra.
Hoje, Pepino vai a uma creche no bairro três vezes por semana, o que custa cerca de R$ 500 mensais. O valor pode variar: o local pode oferecer serviços como banho e tosa, e incluir o valor no fim do mês, por exemplo.
"A creche resolve várias questões: a minha falta de tempo, a necessidade do cão gastar energia, de dar a ele uma rotina mais saudável. Ele volta super cansado e não costuma dar trabalho naquele dia", comenta.
Letícia diz que não imagina mais a rotina de Pepino sem a creche, mas que foi preciso fazer testes até achar a frequência ideal. "Uma vez por semana era pouco, mas com quatro dias ele ficava super cansado. Ele teve uns desarranjos intestinais também. É preciso ter um equilíbrio", aponta.
As creches costumam oferecer flexibilidade de dias em pacotes variados. Na Patrulha dos Cães, por exemplo, o pacote com uma ida semanal parte de R$ 360. Já seis visitas por semana custam R$ 1.090 mensais.
O local tem cerca de 150 cães cadastrados, mas recebe entre 70 e 80 deles a cada dia. "Depois da pandemia, muita gente que adotou acabou levando o cachorro para socializar na creche. E os tutores estão cada vez mais preocupados em saber o que está sendo feito, acompanham pelas câmeras", comenta Juliana Gonçalves, 39, uma das proprietárias da Patrulha dos Cães.
Para evitar conflitos, os monitores ficam de olho na linguagem corporal dos bichos e buscam se antecipar a possíveis problemas. É comum também que os frequentadores passem por um período de adaptação antes de entrar para as turmas regulares.
Nos últimos meses, Juliana ampliou a equipe de quatro para nove funcionários e planeja abrir uma segunda unidade em 2023. Além de empregar monitores e veterinários, a Patrulha também costuma adquirir kits de festa feitos para cães, para celebrar os aniversários.
Uma das fornecedoras, a Badalacão, oferece pacotes com bolos e outros petiscos para serem consumidos pelos cães. Custam em torno de R$ 150 por bicho e incluem decorações temáticas. As receitas geralmente têm sabor insosso para os humanos, mas cheiro potencializado para agradar ao olfato canino.
Geralmente, os monitores montam o cenário da festa, como encher as bexigas e fixar as decorações na parede, montam as mesas de petiscos e tiram as fotos dos pets "celebrando" as datas junto com os amiguinhos. As imagens depois são enviadas aos tutores, caso eles não possam estar presentes.
"No fim de ano, muita gente quer dar mimo para o cachorro. Aí fazemos panetones, biscoitos natalinos, costuma ter muita demanda", conta Gabriela Martinez, 29, criadora da Badalacão.
Ex-funcionária de uma creche pet na zona sul de São Paulo, ela começou o negócio em 2016, como fonte de renda extra, mas dois anos depois deixou seu emprego e passou a se dedicar ao negócio em tempo integral. Hoje, vende em média entre dois e três kits de festa por dia para adultos que querem ver seus companheiros com patas se divertindo como se fossem crianças.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!