SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa encerrou esta sexta-feira (27) em queda, puxada pelo desempenho de Petrobras e dos bancos, refletindo a preocupação de investidores com eventuais intervenções na Petrobras e com o impacto do escândalo contábil das Americanas no balanço das instituições financeiras.
Já o dólar encerrou o último pregão da semana em alta, após quatro dias consecutivos de queda.
O Ibovespa recuou 1,63%, aos 112.316 pontos. O dólar comercial à vista fechou com alta de 0,74% ante o real, para R$ 5,113, após chegar a R$ 5,056 ?a mínima do dia.
Os juros também subiram, com mais intensidade nos vencimentos mais longos. Os contratos para 2024 saíram de 13,50% ao ano no fechamento desta quinta-feira (26) para 13,57%. No vencimento para 2025, a taxa subia de 12,70% para 12,85%. Para 2027, os juros avançavam de 12,67% para 12,86%.
Apesar de ter subido no pregão desta sexta, o dólar vem perdendo força contra o real desde o início do ano. A moeda, que começou 2023 na casa dos R$ 5,40, encerrou a semana valendo pouco mais de R$ 5,10.
Para Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o cenário externo ajuda a explicar a desvalorização da divisa americana. Além da expectativa de que os juros nos EUA comecem a recuar, os investidores também começaram a vislumbrar uma melhora na economia da China, saindo de uma fase de relativa estagnação.
Internamente, a queda na Bolsa foi puxada pelo desempenho de Vale, Petrobras e bancos, que possuem peso relevante no Ibovespa.
No caso da petroleira, Velloni lembra que uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era reduzir o valor dos combustíveis com a política que seu governo adotaria.
"É mais que normal que os investidores acabem saindo do papel. Há expectativa de ter dividendos menores, de ter uma intervenção mais forte na gestão da Petrobras e, principalmente, na gestão de preço." Segundo ele, a tendência é que essa fuga de investidores permaneça.
Apesar de o petróleo ter recuado nesta sexta, o barril vinha operando em alta nos últimos dias, enquanto a estatal seguia no sentido contrário.
"Isso é a sinalização efetiva de que é mais uma crise de confiança em cima da Petrobras com a nomeação do novo presidente", afirma Velloni.
Para Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos, o recuo do Ibovespa também reflete a reação dos investidores ao anúncio de Jean Paul Prates como novo presidente da estatal.
"O mercado está achando que Lula vai ter indicados políticos lá dentro, o que vai contribuir para uma interferência maior no ativo", afirma.
Prates defende mudanças na política de preços da empresa, eliminando o conceito de paridade de importação, que simula quanto custaria para trazer os produtos do exterior
As ações da petroleira caíram pelo segundo dia seguido. Os papéis ordinários da empresa (PETR3) tombaram 2,26%, a R$ 28,90, enquanto as ações preferenciais (PETR4) recuaram 2,21%, a R$ 25,62.
Meira ainda diz que outro alerta para os investidores é em relação ao balanço dos bancos, que devem sofrer impacto em função do caso da Americanas.
Nesta sexta, a Moody's divulgou relatório afirmando que o pedido de recuperação judicial da varejista resultará em necessidades de provisionamento para os bancos, o que enfraquecerá os resultados dessas instituições, além de representar um fator negativo para o perfil de crédito delas.
A ordinária da Americanas subiu 16,50%, valendo R$ 1,20. Já os papéis preferenciais do Bradesco caíram 2,97%, enquanto o Itaú recuou 2,12%. As ações do BTG Pactual caíram 2,21%, e as do Santander seguiram estáveis, com leve recuo de 0,48%.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, lembra que a baixa na Bolsa de hoje não foi suficiente para fechar a semana no negativo.
"O desempenho do Ibovespa que observamos nas últimas semanas está relacionado ao processo de reabertura da economia chinesa", afirma.
Segundo ela, a perspectiva de um crescimento mais forte em 2023, com o fim da política de Covid zero, tem reflexos positivos no Brasil, já que a China é uma das maiores consumidoras de commodities do mundo.
"Mais de um terço do Ibovespa são empresas ligadas ao setor de commodities, e elas atraíram o olhar do investidor estrangeiro. Tanto que o fluxo de investimento estrangeiro até o dia 24 de janeiro foi de R$ 8 bilhões."
A economista também destaca que esta sexta foi dia de abertura da curva de juros no Brasil, e os investidores começaram a precificar uma taxa mais elevada devido às discussões relacionadas ao ICMS.
Operadores, que já estavam cautelosos em relação à situação fiscal do Brasil, ficaram atentos à reunião do presidente Lula com governadores, que reclamam da queda de arrecadação após a lei que limitou a alíquota desse tributo sobre combustíveis.
Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS, também cita um aumento do temor fiscal com a possibilidade de que o governo crie alguma solução para equilibrar as contas após o recuo nas receitas oriundas de ICMS.
"Percepção de risco e propensão a investir em ativos de renda variável sempre vão seguir em sentido contrário. Hoje houve uma combinação de preocupações que ampliaram a percepção de risco dos investidores, com perspectiva de piora nas condições fiscais do país e temor de ingerência política na Petrobras", diz.
No exterior, as bolsas encerraram a semana em leve alta. Em Wall Street, os principais indicadores evoluíram nesta sexta, após começar o dia em queda.
O índice Dow Jones fechou estável, com leve alta de 0,08%, enquanto S&P 500 e Nasdaq subiam 0,25% e 0,95%, respectivamente.
Dados divulgados nesta sexta-feira mostraram queda nos gastos do consumidor e um alívio adicional nas pressões inflacionárias nos EUA, o que reforça expectativas de uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa de juros.
O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, se reúne na próxima semana, e a aposta majoritária do mercado é de redução no ritmo de aperto monetário após sucessivos aumentos de 0,50.
As expectativas positivas sobre os juros acabaram compensando as perspectivas sombrias apresentadas pela Intel. Hoje, a empresa de tecnologia disse esperar um dos piores trimestres da sua história.
O anúncio surpreendeu investidores, que previam um cenário melhor. "Nós tropeçamos, perdemos participação, perdemos impulso", disse o presidente-executivo, Pat Gelsinger. "Acreditamos que isso vai se estabilizar neste ano", acrescentou.
Na Europa, as ações fecharam em alta com investidores já aguardando as decisões dos bancos centrais. O BCE (Banco Central Europeu) também se reune na próxima semana para tomar decisões de política monetária.
O índice pan-europeu STOXX 600 fechou em alta de 0,26%, a 455,17 pontos, subindo pelo segundo dia consecutivo.
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