SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um ano marcado pela forte desvalorização de diversos ativos no exterior, os brasileiros aumentaram os investimentos em produtos de renda fixa fora do país. Ao mesmo tempo, reduziram as aplicações em renda variável e sacaram recursos de fundos de investimento.
Para 2023, a expectativa de diversas instituições que oferecem esse tipo de investimento é de aumento da demanda por diversificação. Em geral, a recomendação é ter um percentual da carteira próximo de 10% atrelado ao mercado externo.
Isso pode ser feito por meio de aplicações fora ou dentro do país, com ou sem risco cambial, a depender do produto.
Dados do Banco Central mostram que o estoque de investimento em ações no exterior caiu cerca de 20%, para US$ 40 bilhões em 2022. O valor aplicado em títulos de dívida cresceu quase 25%, para US$ 13,5 bilhões.
No ano passado, o dólar caiu 6,5% em relação ao real. O índice de ações no exterior (BDRX) recuou 28%. O bitcoin, 67%. Já as aplicações em juros apresentaram o melhor resultado em moeda estrangeira em muitos anos, com o banco central dos EUA elevando as taxas para combater a maior inflação em 40 anos.
Igor Rongel, chefe de investimentos do C6 Bank, afirma que a demanda pelo mercado internacional tem aumentado desde que os juros no Brasil chegaram a 2% ao ano. Mesmo a elevação da taxa básica para os atuais 13,75% ao ano não freou esse movimento.
Segundo ele, houve uma nova aceleração desse processo desde o meio do ano passado, mais focada em produtos de renda fixa, em um cenário de alta de juros também nos EUA e maior oferta desses produtos por diversas instituições brasileiras.
"A gente teve uma combinação de três fatores: um público que já vinha estudando alguma diversificação e proteção em moeda forte desde os juros baixos, o pessoal que começou a ver que o Brasil poderia ter um risco fiscal maior, e ampliação do portfólio em renda fixa", diz Rongel.
Felipe Bottino, diretor da Inter Invest, diz que a instituição terminou o ano passado com 1 milhão de contas globais, utilizadas para transferência de valores e pagamentos no exterior, e 250 mil contas para investimento em uma parceria do banco com a plataforma Apex.
Segundo ele, há demanda de mais clientes pelo produto de investimento, mas a instituição opta por fazer uma seleção que envolve não apenas o tamanho do patrimônio, mas também o conhecimento do cliente sobre esse mercado.
"Fomos surpreendidos com uma demanda muito alta. Há uma busca por diversificação internacional de investimentos, mais de renda fixa. Mas a gente chama muito a atenção dos clientes para as questões de taxa de câmbio, tributária e regulatória", afirma Bottino.
"Tem uma série de fatores que qualificam uma pessoa a estar apta para esse produto. É um mercado novo, e essa abertura tem de ser feita de forma gradual."
O risco cambial é um fator que afeta até mesmo ativos adquiridos no Brasil, como ETFs da Bolsa americana ou recibos de empresas estrangeiras negociados na Bolsa brasileira. São aplicações que podem ser feitas no Brasil, sem envio de dinheiro para fora, e que ficam sujeitas ao valor do ativo em dólar e também à taxa de câmbio.
Há também produtos que buscam eliminar o efeito da variação da moeda.
Sergio Rhein Schirato é sócio-fundador da Daemon Investments, que possui um fundo multimercado que opera no Brasil e aplica em cotas de um fundo da mesma instituição nos EUA. O veículo nacional possui proteção contra a variação do câmbio por meio de operações de "hedge" (proteção).
"A gente quis gerar para o investidor a experiência de ter o seu capital investido no exterior, em ativos globais, mas sem se expor ao risco cambial."
Schirato afirma que o fundo é restrito ao investidor qualificado, aquele que possui pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras, devido à exposição ao exterior dentro do limite máximo de 40% definido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Ele destaca se tratar de um produto mais sofisticado e uma opção para que esse tipo de investidor possa diversificar suas aplicações.
O chefe de investimentos do C6 também afirma que a atuação nesse mercado requer muita orientação e que o banco tem reforçado a equipe de assessoria. "O investidor já se perde no mercado nacional. No internacional, se perde mais. Então a gente atua muito com assessoria", diz Rongel.
No C6, o investimento no exterior é feito por meio de um fundo sediado nas Bahamas, o que garante tratamento tributário diferenciado, com pagamento de imposto somente na saída dos recursos. São oferecidos três produtos de renda fixa: certificados de depósito do próprio banco, títulos de empresas americanas e papéis do Tesouro dos EUA.
A aplicação mínima é de US$ 500 (cerca de R$ 2.500), mas a recomendação é que o investimento inicial seja em torno de US$ 3.000 (acima de R$ 15 mil), para compensar os custos de manutenção dos recursos nesse tipo de fundo. A ideia é que esse valor represente cerca de 10% do investimento total do cliente.
Para quem quer investir valores menores e sem tirar o dinheiro do Brasil, as principais opções são fundos de investimento, ETFs (Exchange Traded Fund) que seguem o índice americano S&P 500 (IVVB e SPXI), BDRs (Brazilian Depositary Receipt) emitidos no Brasil que representam ações de companhias do exterior e COEs (Certificados de Operações Estruturadas), estratégia de investimento que pode ter ganho ligado a uma ação ou índice no exterior.
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