RIO DE JANEIRO , RJ (FOLHAPRESS) - Além de provocar a disparada do preço do gás de cozinha, a privatização da refinaria de Manaus agora também pressiona o consumidor de gasolina no Amazonas. Em apenas um mês, o preço do combustível subiu 11% no estado, mais de cinco vezes mais do que a média nacional.

A operação da refinaria local foi assumida pelo grupo Atem em dezembro, 15 meses após assinatura do contrato de compra do ativo da Petrobras. Desde então, a gasolina nos postos do estado ficou 20% mais cara, enquanto o preço médio nacional subiu 0,8%.

Para executivos do setor, os preços atuais refletem um valor mais real para o combustível na região, diante dos elevados custos logísticos que antes eram diluídos entre todas as operações da Petrobras pelo Brasil.

A Atem diz que "segue os parâmetros de preços internacionais, envolvendo custos como o de câmbio e frete, entre outros, para a chegada do produto na região Norte com todas as especificidades logísticas da região".

A empresa altera seus preços todas as semanas, diz a nota, "com movimentos de alta e queda nos preços de acordo com as alterações de mercado dentro dos parâmetros estabelecidos".

Desde que assumiu a refinaria, a Atem promoveu cinco cortes e sete aumentos no preço da gasolina. No mesmo período, a Petrobras anunciou apenas uma mudança: aumento de 7,4% no dia 25 de janeiro.

Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), a gasolina era vendida no Amazonas pelo preço médio de R$ 5,58 por litro há duas semanas, quase R$ 1 a mais do que o verificado na primeira semana de dezembro.

Na média nacional, a gasolina custava R$ 5,07 por litro antes do Carnaval, R$ 0,10 acima do verificado no início de dezembro.

A possibilidade de alta dos preços após a privatização foi alertada por distribuidoras de combustíveis durante a análise do processo de venda do ativo pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Destacando que a refinaria tem o monopólio do suprimento na região, a Ipiranga, por exemplo, temia impactos em seus negócios por "eventuais efeitos anticompetitivos no mercado de refino", "especialmente concernentes a aumentos de preços e disponibilidade de insumos".

As empresas alegavam que não havia capacidade suficiente de desembarque de produtos de outras regiões no estado, o que poderia garantir grande poder de mercado à nova dona da refinaria.

Mesmo argumento tiveram as distribuidoras de gás de cozinha para contestar a operação. O preço do botijão também disparou no estado depois que a Atem assumiu as operações.

A empresa alega que a refinaria produz apenas 10% do volume necessário para atender o mercado local de gás de cozinha e precisa arcar com os custos para trazer o restante da base da Petrobras em Coari, a 370 quilômetros de Manaus.

O Cade diz que aprovou a operação "após extensa análise concorrencial" e que impôs uma série de obrigações ao novo operador. Entre elas, está a permissão de acesso às instalações de movimentação e armazenagem de produtos ligadas à refinaria e a desverticalização do ativo.

O processo de venda de refinarias foi justificado pela necessidade de novos investimentos no setor, o que seria fomentado pelo aumento da concorrência com a Petrobras, mas até o momento a estatal só conseguiu vender duas grandes unidades.

"É de conhecimento público a dificuldade pela qual a Petrobras vem passando para concretizar seu plano de desinvestimento", escreveu a Raízen, em manifestação no processo do Cade que analisou a venda da refinaria do Amazonas.

"Há que se destacar a cautela necessária por parte da autoridade da concorrência para evitar que, por conta de tais dificuldades, as refinarias da Petrobras sejam alienadas em um contexto de concentração de mercado e de graves prejuízos ao ambiente competitivo, como ocorre no presente caso", completou.

O OBS (Observatório Social do Petróleo), que é ligado à FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), diz que a diferença de preços "mostra os efeitos da privatização de refinarias".

"Todos os combustíveis ficam mais caros, como nós e tantos outros pesquisadores sempre argumentamos ao longo dos últimos anos" afirma a entidade, que é contra o processo de venda de refinarias iniciado pela estatal em 2016 e que deve ser revisto pelo governo Lula 3.


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