SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com a expectativa dos agentes financeiros de que a taxa de juros seguirá em um patamar elevado ainda por um bom tempo, especialistas consideram que a remuneração polpuda dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto representa uma oportunidade bastante atraente para quem busca alternativas de baixo risco com um valor acessível para investir.
Entre os títulos públicos indexados à inflação disponíveis na plataforma, que oferecem uma taxa prefixada mais a variação do índice de preços IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a taxa real de juros é negociada acima dos 6% e alcança os dois dígitos entre os prefixados --que têm uma taxa de juros nominal-- e os pós-fixados que acompanham o rendimento da taxa Selic.
A rentabilidade dos papéis de risco soberano atingiu os níveis atuais em meados de 2022, em meio às incertezas sobre as eleições, e tem se mantido relativamente estável desde então, por causa da indefinição sobre a política fiscal do governo.
Antes disso, a remuneração dos títulos públicos esteve nesse mesmo patamar apenas em 2016, à época do governo Dilma Rousseff, quando as taxas dos papéis indexados à inflação chegaram à casa dos 7%.
Assessores de escritórios de investimento indicam uma preferência pelos títulos pós-fixados Tesouro Selic para manter aqueles recursos de curto prazo destinados à reserva de emergência, que o investidor pode precisar sacar a qualquer momento.
É uma opção com taxa atraente ante a Selic de 13,75% ao ano, e, entre os títulos do Tesouro Direto, é a que tem o menor risco de o investidor sofrer algum tipo de perda no caso de venda antes do prazo de vencimento, afirma Paula Bento, sócia da HCI Invest e planejadora financeira CFP pela Planejar.
"Com a taxa Selic nos patamares atuais, ter um investimento em renda fixa com rentabilidade atrelada a esta taxa, com liquidez diária e baixo risco, fica bastante atrativo."
Simulações no site do Tesouro Direto realizadas na sexta-feira (3) mostram que, ao aplicar R$ 1.000,00 no título Tesouro Selic com prazo final em março de 2026, o investidor terá um valor líquido de R$ 1.284,75 no vencimento, já descontado o IR (Imposto de Renda) correspondente ao período e a taxa de custódia da B3.
Já se o investidor tiver fôlego financeiro para manter o dinheiro aplicado por mais tempo, os assessores dizem que os títulos indexados à inflação são os mais recomendados, por oferecerem proteção contra uma eventual pressão inflacionária nos próximos anos, além de estarem no momento com uma taxa real de juros em um patamar historicamente elevado.
Cálculos do sócio da Messem Investimentos, Diego d'Arrigo, indicam que, no intervalo entre 2003 e 2022, o juro real praticado no mercado brasileiro foi de 5%, na média, com o patamar atual acima de 6% representando, portanto, uma oportunidade para o investidor garantir um retorno acima da inflação em uma janela de médio a longo prazo.
Além disso, levantamento da Infinity Asset e do MoneYou indica que o Brasil tem hoje o maior juro real na comparação com 40 países, com uma taxa de 7,38% ao ano. Para chegar a esse resultado, são consideradas a taxa de juros futuro projetada pelos agentes financeiros com vencimento em janeiro de 2024 e a inflação esperada para os próximos 12 meses.
Segundo o estudo, vêm na sequência México (5,53%), Chile (4,71%), Colômbia (3,04%) e Hong Kong (2,35%).
"O Brasil tem hoje um dos maiores juros reais do mundo, o que acaba abrindo muitas oportunidades no Tesouro Direto", afirma d'Arrigo. "Tivemos patamares parecidos com o que temos hoje próximo do impeachment da Dilma", acrescenta o assessor da Messem.
Em sua avaliação, contudo, o cenário econômico atual não é tão adverso como ao final do mandato de Dilma, com as taxas dos títulos em níveis parecidos com as vigentes quando o país estava em crise, mas sem que estejamos em uma neste momento.
O especialista lembra que, se o investidor tiver de vender o título antes do prazo de vencimento, existe o risco de ele sofrer um prejuízo, a depender das condições de mercado no momento da venda. No entanto, se o papel for carregado até o vencimento, a aplicação irá remunerar exatamente a taxa que foi contratada.
Simulações do Tesouro Direto indicam que um investimento de R$ 1.000,00 no título Tesouro IPCA+ 2035 irá resultar em um valor líquido de R$ 2.897,82 no vencimento do papel.
No caso dos papéis prefixados, embora o retorno nominal nos dois dígitos desperte a atenção, os especialistas ressaltam que eles são os mais sensíveis às oscilações diárias do mercado de juros. Por isso, se o BC (Banco Central) tiver de promover novos aumentos na Selic, ou mesmo se os juros futuros subirem em um cenário de estresse do mercado, os prefixados tenderão a ser os mais prejudicados na comparação com os pares.
"A gente acha que faz sentido alocar um percentual pequeno nos prefixados, mas tem risco, então preferimos vencimentos curtos, de dois ou três anos no máximo", diz Carolina Taira, gestora da B.Side Investimentos.
Caso Americanas assusta investidores e reforça demanda por títulos públicos Segundo os assessores de investimento, o caso da Americanas, que entrou com um pedido de recuperação judicial após divulgar uma dívida de quase R$ 50 bilhões, acendeu um alerta entre os investidores, que ficaram mais receosos em aplicar em títulos de dívida emitidos por empresas.
Com isso, os títulos públicos ganharam ainda mais destaque no radar daqueles que buscam opções dentro da renda fixa para compor a carteira.
Paula Bento, da HCI, diz que parte dos recursos que os investidores mantinham em títulos de dívida privada foi migrada para papéis como o Tesouro Selic.
"O problema da Americanas deixou o mercado mais cauteloso e observamos alguns resgates em fundos de crédito privado, justamente porque o investidor tem outras opções em que ele consegue ter uma boa rentabilidade", diz a planejadora financeira.
"Como o ano começou conturbado no mercado de crédito privado com o caso da Americanas, percebemos os clientes com um pouco de medo, com uma demanda voltada para alternativas mais conservadoras", afirma Carolina, da B.Side.
A gestora conta que tem privilegiado principalmente os títulos indexados à inflação, que, em sua avaliação, tendem a se sair bem independentemente do cenário à frente.
Se os próximos meses forem marcados por reformas que agradem ao mercado, esses papéis terão um desempenho positivo na esteira de uma provável queda nos juros, já que o valor dos títulos sobe quando ocorre uma redução das taxas.
Por outro lado, se os sinais vindos de Brasília indicarem um aumento dos gastos, a tendência é que as expectativas de inflação também subam, com os títulos Tesouro IPCA protegendo o investidor desse risco. "Acaba sendo uma estratégia mais defensiva, e que se aproveita de um juro real que está atrativo", diz Carolina.
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