SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Três importantes empresas de varejo divulgaram seus resultados na noite desta quinta-feira (9), e no geral, a reação dos investidores foi negativa. No entanto, analistas apontam preocupações maiores com Arezzo e Via, na comparação com Magazine Luiza. Isso apareceu no desempenho das ações nesta sexta-feira (10).

Enquanto o papel ordinário do Magazine Luiza fechou em alta de 0,29%, a ação ordinária da Via caiu 6,18%, valendo menos de R$ 2, e a da Arezzo encerrou com queda de 11,58%. A cotação desta última fechou no menor patamar desde julho de 2022.

A Arezzo é o caso mais curioso, segundo analistas. A ação vinha de cinco sessões seguidas de desempenho positivo, com alta de quase 5% no período, e perto de zerar as perdas acumuladas no ano.

O lucro do quarto trimestre de 2022, porém, veio abaixo do esperado por economistas ouvidos pela Reuters. A Arezzo teve lucro líquido ajustado de R$ 102,7 milhões entre outubro e o fim de dezembro. Analistas esperavam, em média, lucro de R$ 130,5 milhões.

Mesmo assim, as casas de análise são praticamente unânimes em classificar os resultados da Arezzo como sólidos, principalmente pelo crescimento de 20% nas vendas em relação ao último trimestre de 2021.

O cenário aparentemente positivo continua neste primeiro trimestre de 2023. Segundo a companhia, as vendas em fevereiro aumentaram 23% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Mas uma preocupação também é comum entre os analistas. As margens estão pressionadas por aumento nas despesas. Segundo o Bank of America, os investimentos feitos em abertura de novas lojas, marketing e até mesmo em iniciativas de expansão no exterior levam a este cenário. O aumento na remuneração variável a executivos também é citado pelo banco.

Outro ponto que chamou atenção dos analistas do BofA é o aumento de quase 54% nas despesas financeiras em termos anuais.

Mesmo elogiando o desempenho geral da Arezzo, o BofA cortou o preço-alvo da ação ordinária, de R$ 105 para R$ 100. "Isso reflete a preocupação com o cenário atual de juros no Brasil, que afeta todo o varejo de sapatos e acessórios", dizem os analistas.

Via e Magazine Luiza As duas principais concorrentes da Americanas no varejo online e físico também divulgaram seus resultados do quarto trimestre de 2022, com recepções bastante diferentes pelo mercado.

Em relatório, o Santander destaca principalmente a queda de 34% do Ebitda (sigla em inglês para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado da Via, em relação a um ano antes.

Segundo os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, a venda total de mercadorias pelos canais digitais caiu 4% no último trimestre de 2022, em relação a 2021. A causa é o ambiente de juros altos, que diminui a demanda por produtos mais duráveis, como eletrodomésticos e eletrônicos.

Outro ponto negativo da Via, desta vez apontado pelos analistas da XP Investimentos, é o anúncio da saída de Helisson Lemos do cargo de vice-presidente de Inovação Digital.

"Enxergamos o anúncio como negativo, uma vez que Helisson era um executivo-chave para o desenvolvimento do marketplace da Via", afirma a XP.

A companhia deve abrir entre 5 e 10 lojas neste ano, mantendo estratégia de segurar o ritmo de abertura de novos pontos, disse o presidente da empresa, Roberto Fulcherberguer, em conferência com analistas nesta sexta-feira. Segundo ele, o potencial para abertura de lojas no ano seria entre 60 e 80.

No caso do Magazine Luiza, as vendas apresentaram desempenho positivo, como destaca a Guide Investimentos.

"Juntando as vendas dos parceiros na plataforma digital, o e-commerce representou aproximadamente 72% das vendas totais. Nas lojas físicas a performance também foi boa, com crescimento de 14,7% em relação ao quarto trimestre de 2021", diz a Guide sobre o Magazine Luiza.

Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, afirma que o resultado de vendas do Magazine Luiza foi "muito bom". Ele minimiza o prejuízo, causado principalmente pelo aumento das despesas financeiras.

"Foram mais de R$ 2 bilhões de geração de caixa no quarto trimestre, fechando o ano de 2022 com posição de R$ 11 bilhões. Isso é muito positivo", afirma Conde.

Sobre a denúncia de práticas irregulares em relações com fornecedores, o analista da Levante afirma que este tipo de problema é comum. "Acontece às vezes. Representa pouco dentro do universo do Magazine Luiza, e a empresa foi até corajosa de expor o caso. Não tem nada a ver com o caso Americanas, porque não tem impacto nos resultados", diz Conde.

Via e Magalu se adaptaram a um cenário muito complexo e desafiador no ano passado, diz o especialista em varejo Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese Retail. "O ambiente de juros altos, inflação alta, crédito apertado e renda em baixa é muito ruim para o mercado de bens duráveis", afirma.

"Este ano é determinante em relação ao que vai acontecer com a curva de juros, a política fiscal e o controle inflacionário, para que o crédito volte a fluir e o consumo, muito dependente de crédito, volte a crescer". Caso contrário, diz ele, os resultados ruins do varejo vão continuar.

Serrentino lembra a disparada nos juros desde 2021, quando a taxa Selic avançou de 2% para quase 14%, o que gerou impacto direto na despesa financeira das companhias. "É por isso que o varejo tem apresentado bons indicadores Ebitda e resultados ruins", afirma.


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