SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A quebra do SVB (Silicon Valley Bank) pode não ter sido um evento pontual e outros dominós ainda correm risco de cair e desencadear uma crise bancária. A possibilidade é levantada por Larry Fink, fundador da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, com mais de R$ 40 trilhões sob gestão.

Em carta anual endereçada a investidores e CEOs, o executivo diz que ainda é cedo para saber quão generalizado será o dano, mas não descarta um cenário em que a quebra do banco se espalha pelo sistema bancário regional dos EUA, provocando mais falências.

Fink diz que o caso SVB é o preço que está sendo pago por décadas de "dinheiro fácil", e compara os eventos recentes à crise de Poupanças e Empréstimos (S&L, em inglês), quando mais de 1.000 associações financeiras nos EUA quebraram nos anos 1980.

"Ainda não sabemos se as consequências do dinheiro fácil e das mudanças regulatórias se espalharão pelo setor bancário regional dos EUA (semelhante à Crise do S&L) com mais convulsões e fechamentos chegando", disse.

Segundo o CEO da BlackRock, desde a crise financeira de 2008, os mercados foram definidos por políticas fiscais e monetárias extraordinariamente agressivas.

Na avaliação dele, esses movimentos fizeram a inflação subir rapidamente para níveis não vistos desde a década de 1980, obrigando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a elevar as taxas de juros.

"Isto [altas taxas de juros] é um preço que já estamos pagando por anos de dinheiro fácil -e foi o primeiro dominó a cair", afirma.

A questão para Fink é se a quebra do SVB vai provocar um efeito cascata. Ele diz que os bancos inevitavelmente recuarão nos empréstimos, o que levará mais empresas a recorrer ao mercado de capital.

"A resposta regulatória até agora foi rápida e ações decisivas ajudaram a evitar riscos de contágio. Mas os mercados permanecem no limite."

Inflação vai permanecer alta Além dos possíveis impactos no mercado financeiro, Fink avalia em sua carta que mudanças dramáticas no cenário econômico deverão manter a inflação elevada por mais tempo.

Ele menciona, por exemplo, o impacto da pandemia de Covid-19 e da Guerra da Ucrânia na organização da economia global.

Segundo o executivo, os sucessivos choques dos últimos anos remodelaram dramaticamente as cadeias de suprimentos, levando empresas e países a buscarem formas de se proteger de tensões geopolíticas.

Uma economia global menos integrada e mais fragmentada, diz Fink, até pode produzir melhores resultados para a segurança nacional -com cadeias de suprimentos mais resilientes e seguras-, mas no curto prazo os efeitos são altamente inflacionários.

"[Essa é uma das razões] pela qual acredito que a inflação persistirá e será mais difícil para os bancos centrais domá-la. Como resultado, creio que é mais provável que a inflação fique perto de 3,5% ou 4% nos próximos anos", avalia.


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