SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As ações do Credit Suisse operam em forte queda nesta quarta-feira (15) e derrubam as principais Bolsas globais, com investidores receosos com a saúde financeira do banco e com um potencial risco de contágio para o setor financeiro de forma mais ampla.
Distorções no balanço financeiro e a necessidade de injeção de capital, somados à quebra do banco SVB nos Estados Unidos, contribuem para o momento delicado atravessado pelo Credit Suisse.
No Brasil, as ações dos grandes bancos também oscilam no campo negativo, com o risco de um contágio sistêmico aumentando a aversão ao risco entre os investidores -ou seja, eles preferem vender papeis de maior risco, como ações, e quanto mais gente vendendo maior a queda no preço, o que contribui para o recuo do índice Ibovespa.
**O QUE DESENCADEOU A CRISE ENVOLVENDO O CREDIT SUISSE?**
Uma crise de confiança dos investidores em relação ao Credit Suisse começou na terça-feira (14), após relatório divulgado pelo banco indicar distorções em suas demonstrações financeiras.
O auditor PricewaterhouseCoopers incluiu no relatório anual do Credit Suisse uma "opinião adversa sobre a eficácia do controle interno do grupo sobre relatórios financeiros".
As notícias sobre o banco vêm em um momento de fragilidade para o setor bancário global, na esteira da quebra do SVB (Silicon Valley Bank) na semana passada. O banco voltado para o setor de startups foi duramente atingido pelo aumento dos juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), que causou prejuízos bilionários para a carteira alocada em títulos de longo prazo do governo americano.
CEO da BlackRock, Larry Fink disse que a quebra do SVB pode não ter sido um evento pontual. Em carta anual endereçada a investidores e CEOs, o executivo diz que ainda é cedo para saber quão generalizado será o dano, mas não descarta um cenário em que a quebra do banco se espalha pelo sistema bancário regional dos EUA, provocando mais falências.
**POR QUE AS AÇÕES DO CREDIT SUISSE PASSARAM A DESPENCAR NESTA QUARTA?**
As ações do Credit Suisse afundavam quase 30% na Bolsa de Nova York na manhã desta quarta-feira (15), renovando suas mínimas históricas, após um de seus principais investidores declarar que não poderia fornecer suporte financeiro ao banco suíço por travas regulatórias.
"Não podemos [socorrer o banco financeiramente], porque iríamos acima de 10%. É uma questão regulatória", disse Ammar Al Khudairy, presidente do conselho de administração do Saudi National Bank, banco saudita que adquiriu no ano passado uma fatia de quase 10% do Credit Suisse.
**QUANDO COMEÇOU A CRISE ATUAL DO BANCO?**
No final do ano passado, o Credit Suisse já havia sido atingido por uma onda de saques dos investidores, após sinalizações de que o banco necessitaria de um aumento de capital para manter a solidez financeira --em outubro, o Credit Suisse anunciou que planejava levantar 4 bilhões de francos suíços (US$ 4 bilhões) com investidores e cortar milhares de empregos.
Os planos envolvem ainda uma mudança no foco do seu negócio de banco de investimento, que prevê a segregação dessa unidade e a criação do CS First Boston, negócio voltado para trabalhos de consultori,a como fusões e aquisições.
A crise fez com que o banco encerrasse o ano passado com um prejuízo anual de cerca de 7,3 bilhões de francos suíços (US$ 7,9 bilhões; R$ 41,3 bilhões).
**O RISCO DE CONTÁGIO AFETA OS BANCOS BRASILEIROS?**
Na Bolsa brasileira, as ações dos grandes bancos operam em queda nesta quarta-feira e contribuem para a desvalorização do índice Ibovespa. Os papéis do Itaú recuavam 1,8%, os do Bradesco cediam 1,3%, enquanto os do Santander tinham perdas de 0,8%, e os do BB, de 1%. Já o Ibovespa recuava cerca de 1,6%.
"Trata-se de um efeito cascata para os bancos locais", afirma João Frota Salles, analista da Senso Investimentos. "O racional da queda das ações dos bancos locais é porque existe um risco sistêmico na Europa que pode se espraiar globalmente", acrescenta o especialista.
Ele lembra que o setor financeiro é o mais sensível a riscos sistêmicos, porque a tecnologia é avançada e todos estão conectados entre si. De toda forma, Salles diz também que os grandes bancos brasileiros têm capital sólido, liquidez e estão prontos para enfrentar crises.
**QUAIS SÃO AS OPERAÇÕES DO CREDIT SUISSE NO BRASIL?**
No mercado brasileiro, o Credit Suisse tem atuação principalmente nas áreas de gestão de fortunas (wealth management e private banking) e de recursos (asset management), e de bancos de investimento, como operações de crédito, emissão de ações e títulos, abertura de capital (IPO), fusões e aquisições de empresas (M&A), corretagem e tesouraria.
**HÁ RISCO PARA OS CLIENTES BRASILEIROS?**
Analistas dizem ainda ser difícil fazer uma avaliação precisa sobre os impactos que a crise na matriz pode acarretar para a unidade brasileira e para os clientes no país por enquanto, mas avaliam que as notícias que vêm da Suíça não são positivas para as operações globais do banco.
Segundo Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating, o maior impacto que já se materializou em relação ao banco é o relacionado à imagem do Credit Suisse, que ficou bastante arranhada após o episódio.
"[A crise] deve ter efeitos nos negócios internamente, e claro que vai ter um receio maior dos investidores de transacionar com o Credit Suisse", afirma Santacreu, acrescentando que, em um cenário mais extremo, a depender da evolução dos acontecimentos no exterior, não descarta a possibilidade de o banco vender as operações no país.
Procurada, a assessoria do Credit Suisse não retornou até a publicação da reportagem.
**Raio-X**
Credit Suisse Fundado em 1856, o Credit Suisse tem sede em Zurique e é o segundo maior banco da Suíça, atrás apenas do rival UBS. O banco soma cerca de 50,5 mil funcionários globalmente, com atuações nas áreas de banco de investimento, gestão de recursos e de patrimônio. Em 2022, registrou um prejuízo anual de aproximadamente 7,3 bilhões de francos suíços (US$ 7,9 bilhões; R$ 41,3 bilhões).
Com Reuters
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