SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A onda de pedidos de recuperação judicial acelerou em fevereiro elevando o alerta sobre a insolvência das empresas no país. É o que mostram os novos dados que a Serasa Experian vai divulgar nesta semana. Foram 103 pedidos de recuperação judicial, alta de quase 90% em relação às 55 requisições feitas em fevereiro do ano passado.
O crescimento foi mais intenso do que o registrado em janeiro, quando o avanço na comparação anual foi de 37%.
A maior preocupação está nas micro e pequenas empresas, que concentram mais da metade dos casos.
Na análise por setores, o comércio registrou 36 pedidos, enquanto as empresas de serviço respondem por 33, seguidas pelas indústrias (21) e o setor primário (13).
Já o volume de pedidos de falência subiu de 62 em fevereiro de 2022 para 86 no mês passado, também com foco nos negócios de menor porte.
Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, afirma que o começo do ano está complicado do ponto de vista da insolvência das empresas. "Em 2022, tivemos um crescimento quase ininterrupto da inadimplência. E a insolvência é a próxima etapa. Antes de as empresas pedirem recuperação judicial, elas já acumularam uma grande quantidade de dívidas", afirma.
O noticiário negativo no cenário global alimentado pelo colapso do SVB e a crise do Credit Suisse eleva o alerta sobre um possível mecanismo de transmissão. Se a crise bancária internacional se agravar, pode haver o risco de uma saída de capital do mercado bancário doméstico, ainda que não haja um problema de saúde financeira dos bancos no Brasil.
"Quando se tem um aumento dos níveis de insolvência e inadimplência, isso faz com que os bancos fiquem mais seletivos na concessão de crédito, o que pode agravar essa situação, principalmente entre as empresas mais endividadas. O crédito fica mais caro ou mais curto e isso pode acarretar um agravamento dessa estatística, que é o que deve acontecer, justamente por exacerbar dificuldades financeiras que empresas não financeiras podem estar vivendo", diz Rabi.
Segundo o economista, o acúmulo dessa situação com uma crise bancária no exterior potencializa o problema pelo risco de um choque de oferta, com uma restrição de crédito por parte do concedente.
"Isso está acontecendo lá fora. O nosso sistema bancário, na minha avaliação, não está passando por um problema semelhante ao que estamos vendo lá fora, com o SVB, o Signature Bank, o Credit Suisse. Talvez não seja no sistema, mas em alguns bancos. Agora, isso não quer dizer que nós não sejamos atingidos. Porque uma parte do funding que existe no nosso sistema bancário é dinheiro externo. E quando há prejuízo ou problemas lá fora, normalmente, os investidores sacam daqui. Fica mais difícil para os bancos brasileiros emitirem dívida lá fora. A liquidez internacional fica menor", diz.
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