SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa fechou em baixa na nesta segunda-feira (20) e renovou a cotação mínima de fechamento de 2023, com os investidores mais atentos ao noticiário econômico local. As incertezas sobre a divulgação e o conteúdo das novas regras fiscais pelo governo criam uma maior tensão no mercado.
O dólar também cai, seguindo a tendência global, após a fusão entre UBS e Credit Suisse, e na expectativa pela decisão de juros nos Estados Unidos, na próxima quarta-feira (22).
O Ibovespa encerrou o dia com queda de 1,04%, a 100.922 pontos, pior patamar desde 27 de julho de 2022. O dólar comercial à vista caiu 0,53%, a R$ 5,242. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas globais, caía 0,38% no mesmo horário de fechamento do mercado brasileiro.
Por conta das indefinições sobre o novo arcabouço fiscal, o mercado de juros fechou com leves altas, em compasso de espera para a decisão do Banco Central, também na próxima quarta.
Os contratos com vencimento em 2024 saíram dos 12,96% ao ano do fechamento da última sexta-feira (17) para 13,01%. Para janeiro de 2025, os juros passaram de 12,06% para 12,11%. No vencimento em janeiro de 2027, a taxa fechou estável em 12,47%.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que amplie as conversas com o mundo político e com economistas, além de fazer novos cálculos sobre a proposta do nova regra fiscal, que vai substituir o teto de gastos.
A orientação foi dada durante reunião da sexta-feira (17), quando Haddad apresentou o texto a Lula. Participaram do encontro os ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Rui Costa (Casa Civil) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos), além do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ministro da Indústria e Comércio.
O presidente disse nesta segunda-feira, em evento sobre a retomada do programa "Mais Médicos", que investimentos e avanços sociais não podem ser colocados como gastos.
A nova regra fiscal deve combinar a curva da dívida pública, superávit primário e um mecanismo de controle de gastos, disse nesta segunda-feira (20) o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Segundo ele, porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não deu a palavra final sobre a proposta.
"O grande temor do presidente é em relação à parte de contenção de gastos, que colocariam em risco uma de suas principais propostas de campanha: a inclusão social", afirma a equipe de análise da Levante Investimentos.
Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, afirma que o assunto tem despertado muita ansiedade entre os investidores, com dúvidas principalmente sobre como ficarão as despesas do setor público.
"Há dúvidas sobre se o teto de gastos será furado ou não, como é que isso vai ser vai ser feito. São diversas indefinições", diz Brasil.
Outra preocupação que persiste no mercado é a inflação. O boletim Focus, do Banco Central, mostra que os economistas continuam vendo a Selic no atual patamar de 13,75% tanto na reunião desta semana quanto na de maio, com a taxa fechando este ano a 12,75%. Para 2024 também segue a projeção de juros a 10,0%.
Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, é um dos que projeta manutenção da Selic na reunião desta semana, mas levanta a possibilidade de que o comunicado traga sinais de cortes futuros.
"Pode ser que o BC traga pontos relacionados à desaceleração da atividade econômica, como a diminuição do crédito disponível e riscos relacionados ao momento global. Mas para esta reunião, estes riscos ainda não devem pesar mais que o cenário inflacionário", afirma Ashikawa.
Entre as ações, destaque para a queda superior a 7% da ação ordinária da JBS. Os irmãos Batista, que controlam a holding que é maior acionista da produtora de proteína animal, farão parte da comitiva que vai acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China. Segundo analistas, o mercado sempre fica atento aos riscos que envolvem a aproximação das empresas com o governo.
No exterior, as bolsas europeias fecharam em alta, e em Nova York, os principais índices de ações também sobem. A compra do Credit Suisse pelo UBS foi encarada com algum ceticismo pelo mercado no começo do dia, mas a tendência se reverteu à medida que os reguladores do sistema financeiro global deram sinais de que vão continuar atuando para assegurar a liquidez dos bancos.
Em coordenação com os bancos centrais de outros lugares, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) ofereceu swaps diários de moeda para garantir que os bancos no Canadá, Reino Unido, Japão, Suíça e zona do euro tenham dólares necessários para operar.
Outro evento importante e bastante aguardado pelos investidores é a reunião do Fed para decidir os juros americanos.
"Se antes era quase consenso que teríamos uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa dos Estados Unidos, com alguns analistas considerando até mesmo 0,50 pontos, agora mais de 30% do mercado acha que o Fed pode surpreender e não elevar os juros, a fim de diminuir a pressão, principalmente nos bancos menores, que mostram maior fragilidade", afirma Guilherme Sahadi, diretor de investimentos da gestora iVi Technologies.
Segundo a agência Bloomberg, os investidores projetam que o ciclo de alta dos juros está no fim, e trabalham até mesmo com a possibilidade de corte nas taxas até o fim do ano.
Para Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, este cenário de possível mudança de rota na política monetária americana poderia ter resultado em uma valorização mais intensa do real frente ao dólar. Mas as incertezas sobre as regras fiscais limitam este movimento.
"Nos Estados Unidos, tudo indica que os juros devem ficar mais próximos de 5% do que de 6%, como estava se desenhando. Teremos a decisão sobre a Selic aqui também, e a comunicação dos dois bancos centrais é que vai ditar o que pode acontecer com o câmbio", afirma Abdelmalack.
Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em alta de 1,20%. O S&P 500 avançou 0,89%, e o Nasdaq subiu 0,39%.
Na Europa, o índice Euro Stoxx 600 fechou em alta de 0,98%. Em Londres, o FTSE 100 subiu 0,93%. O CAC 40, de Paris, fechou com avanço de 1,27%.
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