SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Bradesco irá pedir acesso às investigações conduzidas pelo Ministério Público em torno do rombo contábil de cerca de R$ 20 bilhões das Lojas Americanas. A instituição sustentará que, como vítima que pode ter um prejuízo estimado em R$ 4 bilhões, deve ter garantido o acesso às diligências do órgão.
O banco é representado pelo advogado criminalista Fernando José da Costa, ex-secretário da Justiça de São Paulo, que diz haver evidências de práticas criminosas e de que o trio bilionário de acionistas, formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, estava ciente dos supostos delitos.
"Temos vários indícios da prática de crimes de estelionato financeiro, falsidade documental, uso de documentos falsos, organização criminosa, lavagem de dinheiro, insider trading [uso de informação privilegiada], além de outros possíveis crimes contra o sistema financeiro nacional", afirma Costa.
"Parte desse valor foi ardilosamente contabilizado como dívida aos fornecedores ao invés de dívida bancária, e parte foi simplesmente omitida dos balanços. Pelo alto valor e por ser uma conduta praticada há vários anos, temos certamente o envolvimento de muitas pessoas e de vários setores", segue.
O advogado afirma ainda que é "difícil sustentar" a hipótese de que o trio bilionário de acionistas não estava a par das supostas fraudes.
Ele questiona, por exemplo, o fato de em 2021 Lemann e Telles terem deixado de ser acionistas ordinários da Americanas, condição que garante poder de voto na tomada de decisões para a empresa. "Eles iam cada vez mais deixando de ter responsabilidade", diz Fernando José da Costa.
Procurados pela coluna por meio de sua assessoria de imprensa, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira rechaçam os questionamentos apresentados pelo advogado do banco. "Não há qualquer fundamento nas alegações do Bradesco, que deveria rever seus procedimentos antes de fazer acusações descabidas de fundamento", afirmam, em nota.
Os acionistas dizem que Lemann e Telles deixaram o conselho de administração da rede varejista há mais de 15 anos, mas que ambos "continuam fazendo parte do mesmo bloco de acionistas de Beto Sicupira" -esse último, um integrante do colegiado até hoje.
Afirmam, ainda, que Paulo Lemann, filho de Jorge Paulo, permanece no conselho da companhia, o que afastaria qualquer hipótese de distanciamento premeditado.
"A alteração de 'acionistas controladores' para 'acionistas de referência' [no caso de Lemann e Telles] se deu após a fusão da B2W com as Lojas Americanas em 2021, num processo incentivado pelo Mercado de Capitais (vide subida das ações da LAME [Lojas Americanas] após o anúncio da fusão)", segue a nota. "Na fusão, as ações das companhias foram transformadas em ações ordinárias, cumprindo a regra do Novo Mercado."
Na semana passada, como mostrou a coluna, a proposta do trio de acionistas de injetar R$ 10 bilhões na Americanas amenizou o clima de guerra que prevalecia entre eles e os bancos credores da empresa. Os valores oferecidos nas primeiras tratativas chegavam a R$ 7 bilhões.
A maioria das instituições financeiras que participam das negociações para a recuperação da empresa entendeu que o novo montante indicaria um caminho para que elas cheguem a bom termo. Mas querem que os três aportem mais dinheiro no negócio. A cifra ideal giraria em torno de R$ 12 bilhões.
Não há, no entanto, consenso. O Itaú Unibanco, por exemplo, está sendo mais rígido nas conversas. E o Bradesco, por ora, dá sinais de que está disposto a endurecer o seu discurso em relação à empresa.
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