SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) divulgada nesta terça-feira (28) reforçou, na avaliação de economistas do mercado, uma postura firme da autoridade monetária contra o início do corte de juros antes de as condições consideradas necessárias serem alcançadas, principalmente a ancoragem nas expectativas de inflação e uma nova regra fiscal crível.

No mercado de juros futuros, que reflete a expectativa dos agentes financeiros sobre os rumos da política monetária nos próximos meses, o dia é de abertura das taxas, com a percepção majoritária de que será preciso postergar o processo de queda da Selic.

O contrato com vencimento em 2024 avançava de 13,05% na véspera para 13,16% no início da tarde, enquanto o título para 2025 passava de 11,88% para 12,02%. Já o contrato para 2027 subia de 12,14% para 12,20%.

Economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória avalia que a ata do Copom foi ainda mais dura que o comunicado da semana passada e não abre espaço para o início do corte de juros no curto prazo.

Segundo a especialista, o comitê colocou bastante ênfase nas expectativas de inflação, que seguem desancoradas e refletem um cenário de juro neutro maior, principalmente devido ao risco de expansão fiscal.

"A ata menciona o risco de políticas parafiscais, que seria a volta de subsídios do BNDES, e o impacto na Selic, que teria que ficar mais alta por mais tempo, devido à perda de alcance da política monetária", afirmou Rafaela.

Ela acrescenta que a ata não faz uma ligação direta entre a aprovação da nova regra fiscal e a queda da Selic, embora o faça indiretamente, no caso de as expectativas de inflação serem positivamente impactadas pelo anúncio.

"O comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos", disse o Copom na ata desta terça.

Na leitura da economista-chefe do Inter, um corte de juros em junho, que é o cenário base com o qual o banco trabalha, está mais improvável e vai depender da evolução dos indicadores até lá.

Estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein diz que a ata reforçou o tom "hawkish" (mais propensa a um aperto monetário mais agressivo).

"Fica claro que a estratégia preferencial é a adoção de uma política monetária restritiva por um período longo", afirmou Goldenstein, que alterou a projeção para o início do ciclo de relaxamento monetário de junho para agosto, com a taxa Selic chegando a 11,5% no fim de 2023.

O estrategista acrescenta que a estimativa considera como premissa que ocorra uma redução relevante dos riscos fiscais e parafiscais, o que permitiria uma apreciação da moeda e uma reancoragem das expectativas de inflação.

Economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez vai na mesma linha e diz que a ata mostrou-se bem alinhada com o tom duro do comunicado divulgado junto à decisão da semana passada de manter a Selic inalterada em 13,75%.

"Ainda que o Copom tenha se mostrado sensível à queda na concessão de crédito, ao emprego e também às iniciativas fiscais do governo, a autoridade foi clara ao afirmar que tudo isso deverá se refletir nas expectativas de inflação", afirmou Sanchez.

Economista-chefe da Mirae Asset Wealth Management, Julio Hegedus Netto diz que a ata não trouxe novidades em relação ao tom do comunicado da semana passada. "Não faria sentindo uma mudança de tom, até porque os problemas continuam aí", afirmou Hegedus Netto.

O ponto central, prossegue o economista-chefe da Mirae Asset, é que não há certeza sobre a sustentabilidade fiscal do governo, o que justifica a postura mais dura da autoridade monetária.

"O Copom reconheceu os esforços do Fernando Haddad [ministro da Fazenda], mas o 'fogo amigo' parece preocupar o BC", diz Hegedus Netto, em referência a declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, cobrando uma redução dos juros. "A impressão é que o BC não parece acreditar bem nas intenções do governo na questão fiscal."

Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, afirma, por sua vez, que a ata tentou ser didática e indicou que a desinflação é um processo que se dá basicamente em duas etapas.

A primeira, relacionada à oferta, já estaria resolvida. Já a segunda tem uma relação maior com a demanda e responde principalmente à política monetária e à ancoragem das expectativas de inflação.

"O comitê deu indícios de que a atividade está perdendo fôlego, principalmente no mercado de crédito, o que sugere que as condições para a segunda etapa estão sendo criadas", disse o economista-chefe da XP.

Ele acrescenta, contudo, que, se as expectativas de inflação não estiverem bem comportadas, o processo desinflacionário tende a ser mais difícil.

"O Copom buscou mostrar que o processo de desinflação pode ser alcançado, mas requer paciência, foco em manter políticas fiscais e parafiscais equilibradas e menos ruído sobre a credibilidade das metas", afirmou Megale.

A XP projeta a Selic em 13,75% até o final do ano, mas Megale avalia que, se a economia continuar desacelerando e as expectativas de inflação se estabilizarem, pode haver espaço para uma flexibilização gradual mais cedo, no segundo semestre deste ano.

No boletim Focus, a mediana das projeções dos economistas consultados pelo BC indica expectativa de que taxa básica de juros esteja em 12,75% no último dia do ano.


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