WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - A carta de especialistas e empresários da tecnologia, incluindo Elon Musk, questionando o estado da inteligência artificial (IA) até tem boas intenções, mas o pedido de interrupção do desenvolvimento da tecnologia é "muito problemático", defende o engenheiro do Google Luiz André Barroso, ex-vice-presidente da companhia.

"Concordo com a intenção por trás disso. Obviamente [a IA] é muito importante para a sociedade, tem que ser gerenciada com muito cuidado. [Mas] A solução proposta por essa carta é muito problemática. A capacidade de benefício dessas tecnologias é enorme, e não somos incapazes de gerenciar os benefícios de forma ética e de forma correta", disse Barroso nesta sexta-feira (31).

A opinião foi ecoada por colegas que dividiram com ele palestra sobre o futuro da IA na Brazil Conference, evento organizado por alunos das universidades Harvard e MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Cambridge, na região de Boston, nos EUA. A conversa foi moderada pela especialista em IA Carmem Domingues.

Elon Musk, o historiador Yuval Noah Harari e centenas de especialistas divulgaram na quarta-feira (29) carta em que fazem apelo para uma pausa de seis meses na pesquisa sobre inteligências artificiais mais potentes do que o GPT-4, o modelo da OpenAI lançado este mês.

Eles argumentam que o desenvolvimento descontrolado da inteligência artificial gera "grandes riscos para a humanidade" e pedem uma moratória até que sejam estabelecidos sistemas de segurança com novas autoridades reguladoras; vigilância de sistemas de IA; técnicas que ajudem a distinguir o real e o artificial; instituições capazes de fazer frente à "perturbação econômica e política (especialmente para a democracia) que a IA causará".

"Acho a carta muito infeliz e triste", disse Marcus Fontoura, CTO da Stone. "IA existe desde 1970 e sempre a gente quis que o computador tivesse uma forma de logical reasoning [raciocínio lógico] que a gente pudesse interagir, não é nada novo. O que é novo são novos dados. Existe governança sobre os dados, regulamentação, a gente está muito longe de um cenário de ficção científica em que robôs vão dominar o mundo. Quanto mais investimento nessa tecnologia, mais aplicações vão surgir, em educação, sustentabilidade. Qualquer coisa detratora disso é muito triste", afirmou.

Para o professor de engenharia elétrica de Harvard Flavio Calmon, "a tecnologia tem que ser desenvolvida de forma responsável", mas não é crível pensar na interrupção do uso de algoritmos de aprendizado de máquina, pesquisa em matemática e coleta de dados. "Certamente a carta não terá nenhum efeito no desenvolvimento desses algoritmos", disse.

Segundo Calmom, o ChatGPT se tornou tão popular porque chegou em um momento perfeito em que há imensa quantidade de dados coletados com uma capacidade computacional inédita.

Barroso, do Google, brincou com as limitações da ferramenta de inteligência artificial, que por vezes pode dar resposta sem sentido a determinados problemas. "Por serem modelos de linguagem, são muito mais fluentes do que competentes. A capacidade desses bots de responder perguntas é quase inversamente proporcional à autoridade que têm sobre o assunto", disse.


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