BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD), disse que pretende estabelecer parceria com o banco dos Brics, chefiado pela ex-presidente Dilma Rousseff, para ampliar a oferta de crédito a juros baixos para produtores rurais.
"O Brasil tem um bom momento para captar. Pega dinheiro com os Brics, e o BNDES e o Banco do Brasil emprestam para investidores, compra de tratores, máquinas colheitadeiras, construção de armazéns. Investimentos de cinco, seis, sete anos com taxas mais reduzidas. É uma operação muito segura para todos", afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo.
O ministro também criticou a reação às declarações do presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, que durante seminário na China falou sobre 84 milhões de hectares desmatados na Amazônia nos últimos 50 anos, sendo 67 milhões da pecuária.
Para Fávaro, a bancada ruralista, uma das mais influentes do Congresso, agiu de forma eleitoreira ao classificar a fala de Viana como "irresponsável".
**PERGUNTA - Qual o balanço que o senhor faz da viagem à China?**
CARLOS FÁVARO - O que eu trago de mais importante na bagagem de lá para cá é o sentimento de que os laços de fraternidade entre o Brasil e China estão restabelecidos. Por exemplo, o desembargo da carne bovina brasileira por conta do evento atípico da vaca louca foi feito em 29 dias, enquanto em 2021 foram mais de cem dias. Foram habilitados mais quatro frigoríficos para exportar para a China. Vejo o humor. Não é só o discurso. A possibilidade de fechar negócios entre Brasil e China sem passar pelo dólar. Não precisa alguém no meio do processo ganhando com o câmbio.
**P.- Quais outras medidas devem ser anunciadas na visita do Lula?**
CF- A certificação eletrônica. Nós não vamos mais precisar de papel, vai fazer eletronicamente. Então tira a burocracia para tudo. Para habilitar [empresa para exportação] e na hora da exportação também precisa de documento. Vai ser tudo digital.
**P.- Por que o senhor acha que mudou a relação com a China?**
CF- O respeito. O nosso tratamento. A nossa diplomacia. Os números mostram essa mudança. Também temos boas notícias no México, Egito, no mercado de carne bovina para Indonésia e ampliamos o mercado de suínos para o Japão. O humor do mundo voltando de novo os olhos para o Brasil.
**P.- E com os Brics?**
CF- A gente está trabalhando com os Brics também para ampliar, agora que a [ex-]presidente Dilma está presidindo o banco [dos Brics] há uma oportunidade de financiar o setor produtivo através [de parcerias com] o BNDES e o Banco do Brasil.
**P.- Como funcionaria?**
CF- O Banco do Brasil já teve uma pequena operação e já foi bem aceita no mercado produtor, por captar recursos dolarizados para aqueles que produzem produtos que são hedgeados em dólar, como soja, milho, algodão e carne bovina. Aí a taxa de juros é mais barata e essa é uma grande oportunidade. Mas são coisas que ainda o presidente precisa alinhar com a Dilma.
**P.- Qual a vantagem?**
CF- O mercado captou bem na operação do Banco do Brasil. Teve tomador e os juros são acessíveis. O Tesouro não precisa equalizar, portanto não precisa de dinheiro público para fazer equalização de juros, porque os juros estão no padrão internacional. O Brasil tem um bom momento para captar. Pega dinheiro com os Brics e o BNDES e Banco do Brasil emprestam para investidores, compra de tratores, máquinas colheitadeiras, construção de armazéns. Investimentos de cinco, seis, sete anos com taxas mais reduzidas. É uma operação muito segura para todos.
**P.- Qual seria o público, pois haveria uma demanda grande?**
CF- A gente tem que trabalhar para médios e grandes produtores. A gente há de convir que um pequeno produtor não tem ainda a capacidade de vender a futuro em dólar. Mas médios e grandes produtores já estão habituados com isso. Com isso, sobram mais recursos do Tesouro para pequenos produtores.
**P.- A ida de Joesley e Wesley Batista, executivos da J&F, controladora da JBS, na comitiva gerou ruídos no governo e na viagem?**
CF- É a maior empresa de alimentos do mundo. Ela gera milhares de empregos para brasileiros. Se o empresário não teve um bom procedimento em algum momento, ele paga por isso. Resolve a vida dele e agora a vida que segue. Por que não pode ir lá ampliar os negócios e gerar mais emprego, dentro da legalidade? A presença deles não gerou nenhum mal estar [dentro do governo] e também não teve no meio dos empresários que lá estavam.
**P.- As declarações do presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, sobre desmatamento na Amazônia foram criticadas pela FPA [bancada ruralista do Congresso].**
CF- [Foi uma reação] eleitoreira. Eles não desceram do palanque. O Jorge não falou nada de mais. Ele falou que em alguns anos o Brasil teve uma política complacente com o desmatamento da Amazônia, queimadas ilegais. E é verdade. Ele mostrou que esse governo não vai passar a mão em quem comete crime ambiental porque todo mundo paga esse preço. A FPA exagerou, está impregnada na eleição ainda. Se quiser disputar, arruma outro candidato em 2026 e disputa. Agora temos que olhar para a frente. Os empresários do agro que estavam lá não se sentiram ofendidos.
**P.- A bancada também diz que houve um enfraquecimento do Ministério da Agricultura.**
CF- Essa é outra conversa eleitoreira. A Conab terá gestão compartilhada entre Agricultura e Desenvolvimento Agrário. Não faz sentido essa conversa. O Plano Safra é feito aqui [ministério da Agricultura]. O Cadastro Ambiental Rural, sim, saiu do ministério e foi para o Meio Ambiente. Eu acho que era bom ter isso dentro da Agricultura para os produtores acompanharem, mas é um cadastro ambiental rural e vamos trabalhar nisso junto com Marina Silva [ministra do Meio Ambiente].
**P.- E o Plano Safra 2023/2024?**
CF- Estamos estruturando. Vamos ter novidades, linhas de crédito dolarizadas, novas alternativas para investimento. Vamos ter mais recursos. Não vou dizer que teremos taxas de juros muito baratas por daí não é culpa nossa. O Tesouro tem limites para poder gastar.
**P.- O agronegócio tem criticado os juros, a reforma tributária e invasões de terra.**
CF- Nós estamos abrindo mercado. As empresas precisam investir, mas com essa taxa de juros? É frustrante. Dificulta o investimento essa taxa básica de juros. Se tivéssemos com um risco inflacionário, se as contas públicas tivessem desequilibradas, [eu entenderia]. Olha... há um gesto [do governo]. Vamos ser coerentes com o Brasil que quer crescer. A reforma tributária eu ainda não vi a proposta que vai chegar na mesa. O produto primário não aguenta ser taxado. É alimento e é base primária da cadeia.
**RAIO-X**
Carlos Fávaro, 53
Produtor rural e ministro da Agricultura e Pecuária. Foi senador da República por Mato Grosso, onde foi vice-governador. Foi vice-presidente da Aprosoja e dirigiu a associação no estado. Um dos principais interlocutores de Lula junto ao setor na campanha, coordenou o grupo de transição da área
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