SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa fechou em baixa nesta sexta-feira (14), mas em intensidade menor do que chegou a ensaiar durante o dia. Na semana, o Ibovespa acumulou alta, impulsionada principalmente pelos dados de inflação de março, que vieram abaixo do esperado, e elevaram as expectativas para o início do ciclo de corte de juros pelo BC (Banco Central).

O dólar também caiu nesta sexta-feira, confirmando a tendência da semana. O câmbio foi mais influenciado pelo cenário econômico nos Estados Unidos, com indicadores mostrando uma desaceleração da economia e da inflação no país.

O Ibovespa fechou esta sexta-feira em baixa de 0,17%, a 106.279 pontos. Na semana, o índice acumulou avanço de 5,4%. O dólar comercial à vista encerrou o dia com queda de 0,22%, a R$ 4,916, e na semana, o recuo foi de 2,8%.

Nos mercados futuros, os juros apresentam alta. Nos contratos para janeiro de 2024, as taxas subiram de 13,16% do fechamento desta quinta-feira (13) para 13,19%. Para janeiro de 2025, os juros avançaram de 11,77% para 11,85%. No vencimento em janeiro de 2027, a taxa passa de 11,64% para 11,69%.

Segundo analistas, os investidores continuaram nesta sexta-feira um movimento já visto na véspera, de realização de lucros. A Bolsa seguiu também a tendência vista em Nova York, onde os índices de ações fecharam em baixa.

Para Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, o Ibovespa mostrou até mesmo resiliência nesta sexta-feira. "A abertura foi negativa, o índice chegou a cair 1,4%. Fechou com uma ligeira queda, mas acima dos 106 mil pontos e diante de uma sessão negativa nos EUA."

Sobre o dólar, a semana marcou a volta da cotação para baixo de R$ 5, algo que não acontecia desde junho do ano passado nos fechamentos diários.

Luiz Felipe Bazzo, presidente do Transferbank, explica que além do cenário americano, a China também contribuiu para a valorização do real nos últimos dias.

"A recuperação da China tem impulsionado o preço das commodities brasileiras e, consequentemente, a entrada de dólares no país. Basicamente, é uma questão de oferta e demanda. Se tem mais moeda estrangeira, ela vale menos", afirma Bazzo.

Nos Estados Unidos, o dia foi de divulgação dos indicadores do varejo em março, e o início da safra de balanços referentes ao primeiro trimestre de 2023 dos grandes bancos. Os números já têm os impactos das quebras de bancos regionais no país.

As vendas no varejo dos Estados Unidos caíram mais do que o esperado em março, uma vez que os consumidores reduziram as compras de veículos motorizados e outros itens caros. Os números sugerem que a economia perdeu força no final do primeiro trimestre, por causa das taxas de juros mais altas.

As vendas no varejo caíram 1,0% no mês passado, informou o Departamento de Comércio nesta sexta-feira. Os dados de fevereiro foram revisados para mostrar queda de 0,2%, em vez de diminuição de 0,4% relatado anteriormente.

Economistas consultados pela Reuters previam retração de 0,4% nas vendas em março, com estimativas variando de ganho de 0,3% a queda de 1,5%.

Entre os bancos, JPMorgan, Citigroup e Wells Fargo anunciaram seus números de janeiro a março deste ano nesta sexta-feira. Os resultados vieram melhores que o esperado, afirma Rodrigo Jolig, co-presidente e diretor de investimentos na Alphatree Capital.

"Os grandes bancos mostraram resiliência em relação à crise vista no mês de março. Mostraram que continuam bem em lucros e receitas", afirma Jolig.

A agência Bloomberg mostra que a margem financeira líquida dos três bancos em operações de crédito continuou crescendo entre janeiro e março, tanto em relação ao mesmo período de 2022, quanto ao trimestre imediatamente anterior.

A surpresa positiva do mercado aparece principalmente nas ações do JPMorgan e do Citigroup em Nova York, que subiram 7,5% e 4,8%, respectivamente.

Já os índices de ações fecharam em baixa, com os investidores colocando nos preços dos ativos o fim da expectativa de que a crise bancária poderia amenizar a política de alta de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). O mercado já começa a visualizar uma alta nos juros também na reunião sobre juros de junho, além daquela já esperada em maio.

O Dow Jones encerrou o dia com recuo de 0,42%. S&P 500 e Nasdaq caíram 0,21% e 0,35%, respectivamente.

No Brasil, destaque para o setor de serviços, que registrou forte contração de volume em janeiro, iniciando o ano em tom negativo após chegar em dezembro ao ponto mais alto da série histórica, em um cenário de desafios com o aumento dos juros e a perda de força da economia global.

Em janeiro, o volume de serviços no país teve recuo de 3,1% na comparação com o mês anterior, informou nesta sexta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), maior taxa negativa desde março de 2021, período da segunda onda de Covid-19, e pior resultado para o mês na série, iniciada em 2011.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no entanto, houve expansão de 6,1%.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, afirma que o setor de serviços continua mostrando mais força que no período pré-pandemia, mas já dá uma indicação de que a economia brasileira está em desaceleração.

"Isso acaba reforçando a expectativa de queda de juros no Brasil. Mas o mercado local está reagindo mais ao cenário nos Estados Unidos. A inflação por lá está mais controlada, mas ainda na casa dos 5%. Isso traz incertezas em relação aos juros, o que aparece até nas nossas taxas futuras hoje", diz Veronese.


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